Gados na fazenda Nossa Senhora do Carmo, que esta em área embargada por desmatamento ilegal, em Cumaru do Norte, no interior do Pará. A ação do Ibama é resultado de uma investigação iniciada há três anos
Eduardo Anizelli/FolhapressO Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) deflagrou nesta semana a operação Carne Fria de combate ao desmatamento ilegal na Amazônia. Já foram interditados 15 frigoríficos no Pará, Tocantins e Bahia que compraram para o abate animais criados em áreas desmatadas ilegalmente.
A operação Carne Fria — que não tem relação com a Carne Fraca, da Polícia Federal — se iniciou na segunda-feira (20) e ainda não se encerrou. As informações são da Gerência do Ibama em Marabá, no Pará.
O Ibama já havia embargado a compra de animais de 20 propriedades rurais, em um acordo feito para possibilitar a regeneração da vegetação.
Mas os 15 frigoríficos desrespeitaram o TAC (Termo de Ajuste de Conduta), assinado juntamente com o MPF (Ministério Público Federal), que suspendia a compra dessas propriedades.
Dos 15 frigoríficos interditados, 11 ficam no Pará, 3 no Tocantins e 1 na Bahia — dois deles pertencem à JBS (das marcas Friboi, Seara e Swift), também envolvida na operação da PF.
Em nota, a JBS informa que "não comprou e não compra nenhum animal de fornecedores incluídos na lista de áreas embargadas do Ibama e vem cumprindo integralmente o TAC" e que "não pode ser responsabilizada pelo controle e movimentação de gado de seus produtores", cuja responsabilidade é das autoridades de fiscalização.
Segundo o Ibama de Marabá, foram comercializados 58.879 animais de áreas embargadas (58.177 para frigoríficos e 702 para exportadores), ao valor de R$ 130,8 milhões. A quantia equivale a 14.719 toneladas de carne processada.
Foram expedidos 186 autos de infração, totalizando R$ 264,2 milhões em multas. O Ibama informa que são 34 autos de infração por descumprir embargo (R$ 7,4 milhões), 20 autos de infração por impedir a regeneração da vegetação (R$ 198,2 milhões), 65 autos de infração por comercializar gado de área embargada (R$ 29 milhões), 65 autos de infração aos frigoríficos por comprar gado de área embargada (R$ 29 milhões), e 2 autos de infração por vender gado em pé de área embargada por um exportador de gado em pé (R$ 351 mil).
Leia o comunicado da JBS:
COMUNICADO DA JBS SOBRE A OPERAÇÃO CARNE FRIA
A JBS reitera que não comprou e não compra nenhum animal de fornecedores incluídos na lista de áreas embargadas do Ibama e vem cumprindo integralmente o TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), assinado com o Ministério Público Federal do Pará em 2009.
A Companhia não é e não pode ser responsabilizada pelo controle e movimentação de gado de seus produtores. A empresa não tem acesso a Guia de Transito Animal (GTA) - documento de posse e de uso exclusivo do governo -, único responsável pelo controle de trânsito animal. Dessa maneira, é um absurdo que o Ibama queira imputar à indústria frigorifica a responsabilidade por garantir esse controle.
No que é de sua responsabilidade, a JBS trabalha com um sistema de monitoramento sofisticado com imagens de satélite e análise de documentos públicos. Fornecedores irregulares são imediatamente excluídos. Nas três últimas auditorias independentes, a JBS obteve mais de 99,9% de conformidade com critérios socioambientais aplicados à compra de gado.