Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

Recuperação econômica será mais lenta após denúncias de corrupção contra Temer

Para analistas, empresários grandes e pequenos e mercado vão segurar investimentos

Economia|Diego Junqueira, do R7

Manifestantes protestam contra Temer no Rio de Janeiro
Manifestantes protestam contra Temer no Rio de Janeiro Manifestantes protestam contra Temer no Rio de Janeiro

Iniciada há três anos, a crise econômica brasileira fica ainda mais longe de terminar após as novas acusações de corrupção contra o presidente Michel Temer (PMDB). Analistas entrevistados pelo R7 afirmam que a tímida melhora da economia será abalada pelo novo capítulo da política nacional. O clima de otimismo fica prejudicado, assim como a retomada dos investimentos e a possibilidade de gerar empregos.

“No curto prazo, tudo para”, avalia o economista Rogério Storelli, gestor da GGR Investimentos.

— Empresas que estavam começando a repensar investimentos e partir para expansão, ou mesmo retomar atividades que hoje estão ociosas dentro das plantas industriais e que geraria novas contratações, tudo vai parar. A indefinição do quadro político se reflete na economia.

O raciocínio é o seguinte. A acelerada queda dos juros promovida recentemente pelo Banco Central estimula o consumo da população — ainda que de forma discreta, já que mais de 14 milhões de pessoas continuam desempregadas. A retomada do consumo tem a capacidade de gerar um ciclo positivo na economia, já que exige ao longo do tempo maior produtividade industrial e de serviços e, consequentemente, novas contratações. È justamente este ciclo que fica abalado com as novas acusações.

Publicidade

O impacto dessa nova onda negativa já pôde ser verificada nas primeiras horas desta quinta-feira (18), quando a bolsa de valores de São Paulo assistiu à queda de mais de 10% nas ações das empresas em poucos minutos. O movimento provocou a paralisação das negociações. O mercado entrou em pânico. A variação encerrou o dia ficou negativa em 8,83%. Já o dólar fechou com a maior alta em 14 anos.

“O mercado financeiro se baseia em expectativa futura. Se há uma expectativa de melhoria, que é o que vinha acontecendo, então as pessoas e os agentes econômicos começam a ficar mais otimistas. Mas à medida que sai o fato [acusação contra Temer], os agentes pensam o seguinte: 'E daqui pra frente? Será que esse caminho que nós estávamos andando vai se materializar?'. Então eles começam a fazer uma correção das posições”, afirma o economista André Bona, educador financeiro do Blog de Valor.

Publicidade

“Corrigir posições”, explica ele, significa revisar as expectativas de ampliação de gastos e investimentos: o dinheiro que ia sair do bolso tende agora a ficar guardado por mais tempo.

— Tem um baque na queda de ativos da bolsa de valores, alta do dólar, alta de juros e expectativa de aumento de risco para o país.

Publicidade

O economista Richard Rytenband, comentarista do Jornal da Record News, resume o sentimento dos agentes financeiros: “O mercado odeia incertezas”.

— Com incertezas, os investimentos não saem da gaveta e as pessoas deixam de consumir.

Se os grandes investidores e as grandes empresas diminuem as expectativas e seguram a grana, os pequenos e médios empresários sentem ainda mais.

“Na medida em que você tem as maiores empresas reduzindo as expectativas de lucro, então as pequenas têm que revisar as suas intenções de investimento também”, explica Bona.

— Quando essas empresas grandes reduzem investimentos, elas vão demandar menos serviços dessas empresas menores, que são as empregadoras de larga escala. Elas sofrem mais porque as empresas de grande porte ainda têm como se defender um pouco da crise, mas o pequeno está no limite da realização da atividade dele para sobrevivência.

Taxa de juros, câmbio e inflação são as grandes dúvidas

As notícias são ainda mais desestimulantes, de acordo com os analistas, porque foi justamente nesta semana que o Banco Central divulgou a prévia do PIB (Produto Interno Bruto) para o primeiro trimestre de 2017: o IBC-BR registrou elevação da atividade econômica de 1,12%.

O resultado é muito baixo, já que o número de desempregados ainda vem crescendo. Mas foi o suficiente para dar algum ânimo, já que o PIB brasileiro encolhe desde a primeira metade de 2014: são 11 trimestres consecutivos de queda no PIB em três anos de recessão econômica. Veja abaixo:

“A economia não estava bem, mas estava ‘despiorando’. Isso se interrompe abruptamente ontem [quarta] porque a gente não sabe qual vai ser a postura do Banco Central [com relação ao corte dos juros]”, explica Storelli, da GGR Investimentos.

Rytenband destaca ainda que até o Banco Central pode sair com a imagem "arranhada" deste episódio. Isto porque, segundo delação de Joesley Batista, dono da JBS, Temer teria lhe antecipado o movimento de redução dos juros. Batista é o pivô da aual crise de Brasília. Foi ele quem gravou o presidente Temer supostamente dando aval para o pagamento de propina a Eduardo Cunha em troca do silêncio do ex-deputado, atualmente preso em Curitiba (Paraná). O Banco Central correu na tarde de hoje para enviar um comunicado à imprensa e desmentir o repasse de informação privilegiada.

"Quanto mais rápido tiver um desfecho, não importa o que, [melhor para a economia]. Mas é mais um abalo que a economia sofre vindo da política", diz Rytenband.

A elevação do dólar hoje também vai aumentar a pressão sobre a inflação, já que a moeda norte-americana pode se estabelecer num patamar mais elevado, fazendo com que produtos importados fiquem mais caros. A inflação não vai sair do controle, dizem os analistas, mas é mais uma notícia negativa, já que vai influenciar numa queda mais lenta da taxa de juros.

“Não siginifica que virou o caos. Pode ser que isso seja uma situação momentânea. Mas o momento é caótico porque não tem como fazer previsão agora”, diz Bona.

Para Storelli, há um “dom da classe política brasileira de prolongar uma crise que já é difícil de ganhar”.

— A gente vinha a passos curtos tentando retomar alguma previsibilidade, algum número econômico mais favorável, mas realmente esse imponderável vai bater em cheio nos dados econômicos, sem a menor dúvida, reflexo direto na economia real, desde a empresa maior ou micro empresário. Na incerteza, você se retrai.

Adeus reformas?

Neste cenário de crise política, vai ficar ainda mais complicado para o presidente reunir apoio no Congresso e aprovar as reformas da Previdência e Trabalhista. Para o mercado financeiro, as reformas são vistas como uma saída para melhorar as contas do governo, o que contribuiria com a expectativa positiva.

"A queda da bolsa hoje é mais um reflexo com relaçao às refomras, principalmente à reforma da Previdência, que no nosso entender nao tem mais a menor condição de ser aprovada, com o Temer ou sem o Temer, num espaço de tempo que é difícil de precisar", afirma Storelli.

— O primeiro reflexo do mercado financeiro é olhar como um afastamento da possibilidade, um adiamento, um prolongamento, por um prazo difícil de precisar, de uma aprovação da reforma. Essa foi a reação do mercado.

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.