Trabalhador de cruzeiro chegou a ficar 200 dias sem folga de 24 horas
Os 11 tripulantes voltarão neste sábado (5) para as suas casas em várias cidades do País
Economia|Joyce Carla, do R7
A fiscalização que resgatou 11 tripulantes em condições de trabalho análogo ao de escravos em um cruzeiro da MSC mostrou que um desses trabalhadores havia ficado 200 dias, mais de seis meses, sem uma folga de 24 horas.
De acordo com o chefe da divisão para erradicação do trabalho escravo do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), Alexandre Lyra, o tripulante que ficou menos tempo nessa situação estava há 44 dias sem folga de 24 horas e “todos eles trabalhavam mais de 11 horas por dia em jornadas intensas”.
— Quando tinham algum tipo de descanso, eles tinham que participar de reuniões. Além disso, a escala de trabalho era modificada com frequência e sempre a critério da chefia. No fim, eles ficavam 24 horas à disposição da empresa.
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Um dos tripulantes, Anderson Matsuura, falou sobre a jornada de trabalho no cruzeiro durante entrevista coletiva nesta sexta-feira (4).
— Cheguei a trabalhar até 3h30 e recomeçar o turno às 7h, isso sem um dia de folga sequer durante meses e ainda sofrendo fortes pressões, relatou.
O assistente de garçom Eduardo Sobral disse que começou o contrato com problemas, porque para ingressar teve que custear um curso e se endividar.
— A empresa de recrutamento cobrou quase R$5 mil de cada um de nós para que a gente pudesse ser chamado. Tivemos que tomar empréstimos e depois lá dentro, mesmo sofrendo com o excesso de trabalho e as humilhações, tínhamos que suportar calados para pagar o que ficamos devendo ao banco e à família. Saímos sem nada, mas estamos confiantes na Justiça de nosso País.
Eles e os outros trabalhadores voltarão neste sábado (5) para as suas casas. Lyra conta que eles são de diversas cidades, como São Paulo, Fortaleza, Natal, Curitiba e Salvador, e que eles tinham esperança de continuar o contrato, mas agora terão que repensar o futuro profissional.
Direitos
Segundo Lyra, a empresa não reconheceu a existência do trabalho análogo ao escravo e não quis acertar qualquer valor com os funcionários, foram expedidos os autos de infração e, agora, a empresa será acionada na Justiça. Ele lembrou ainda o caso de uma outra trabalhadora que morreu em um cruzeiro da MSC em 2012.
O MPT (Ministério Público do Trabalho) na Bahia afirma que a Defensoria Pública da União garantiu aos trabalhadores toda a assistência jurídica necessária para ações judiciais individuais por danos morais.
Em nota, o MPT informa que, com o resgate, “foram iniciadas negociações com a empresa multinacional e suas subsidiárias, mas não houve avanços, com a MSC se negando a reconhecer a condição degradante e a arcar com despesas de hospedagem e passagem de retorno a suas cidades de origem”.
— Também não concordou com os cálculos das verbas rescisórias feitas pelos auditores fiscais do trabalho.
Leia abaixo a nota oficial da empresa na íntegra
A MSC Crociere informa que durante a temporada 2013/2014, seus quatro navios que estiveram no Brasil passaram por intensas e repetitivas inspeções por parte do Ministério do Trabalho e Emprego. Os navios da MSC Crociere que operam em águas brasileiras empregam um total de 4.181 tripulantes, dos quais 1.243 são brasileiros.
Após análises detalhadas de milhares de folhas de documentação e conduzindo centenas de entrevistas com tripulantes, no dia 01 de abril de 2014 o Ministério do Trabalho e Emprego esteve a bordo do MSC Magnifica e alegou irregularidades na jornada de trabalho de 13 tripulantes brasileiros, solicitando-os a desembarcar. Destes, 11 aceitaram desembarcar, mas dois se recusaram e decidiram continuar trabalhando a bordo.
A MSC Crociere está em total conformidade com as normas de trabalho nacionais e internacionais e está pronta para colaborar com as autoridades competentes. Sendo assim, a MSC repudia as alegações feitas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, do qual não recebeu nenhuma prova ou qualquer auto de infração.
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