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"A educação pode mudar tudo", diz ex-babá que hoje é professora

Veronice Diniz é uma mulher nordestina, negra, moradora de favela e aluna de escola pública que "quer ser um exemplo para meninas como ela"

Educação|Karla Dunder, do R7

Veronice abriu mão de uma vaga na UFF para trabalhar
Veronice abriu mão de uma vaga na UFF para trabalhar Veronice abriu mão de uma vaga na UFF para trabalhar

Ainda menina, aos 8 anos Veronice Diniz deixou Salvador para viver em Rio Comprido, no Rio de Janeiro, com a avó. A história da menina, como de tantas brasileiras, é marcada por muita luta. E aos 38 anos, trabalhando como babá, decidiu voltar a estudar.

Hoje, Veronice é professora auxiliar em um colégio no Rio e está cursando uma pós-graduação. "Não vou parar de estudar nunca e quero ser um exemplo para as meninas, mostrar que é possível".

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“Quando fui para a escola, no Rio, uma professora perguntou para os alunos da sala o que pretendíamos fazer após o término daquele ano”, conta Veronice. Era o último ano letivo do colégio público, a antiga 4ª série. “Eu não tinha orientação, minha avó não estudou e respondi para a professora que não tinha planos”.

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A resposta não agradou. “Você tem potencial, deve continuar na escola.”

Inconformada, a professora se prontificou a ajudá-la e fez sua inscrição para o tradicional colégio Pedro II. “Fiz uma prova, passei e estudei até o fim do ensino médio. Primeiro na escola da Tijuca, depois no centro da cidade”.

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“Mais uma vez, por falta de orientação, eu não sabia se prestaria ou não vestibular, as mães de uns colegas pagaram minha inscrição e consegui passar no vestibular de Letras da UFF (Universidade Federal Fluiminense)”, conta. “Mas eu precisava trabalhar, ajudar a minha avó e acabei desistindo do curso”.

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O tempo passou, Veronice casou e teve quatro filhas. Em 2012, foi trabalhar de babá para um casal e, conversando, descobriram que ela tinha concluído os estudos no Pedro II. Insistiram para que ela retomasse os estudos e se ofereceram para pagar o cursinho preparatório. “Fiquei na dúvida, conversei com o meu marido e ele me incentivou, tomei coragem e prestei o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) sem pretensão nenhuma”.

Mas, para sua surpresa, a babá conseguiu pontos suficientes para obter bolsa de 100% pelo Prouni (Programa Universidade para Todos), no curso de Pedagogia da UniCarioca.

“Quando minha filha me ligou contando que estava doida para postar que tinha uma mãe universitária, achei que fosse brincadeira dela. Aquele sonho estava engavetado há dez anos, realmente eu não imaginava”, lembra Veronice.

Veronice na formatura
Veronice na formatura Veronice na formatura

No 5° período de faculdade, um susto. Os patrões anunciaram que iriam se mudar para Petrópolis e Veronice já imaginou que teria que adiar seu projeto mais uma vez. Mas eles perguntaram na escola dos filhos se não haveria uma vaga de estágio para ela e deu certo. “Esse casal foi uma das melhores coisas que me aconteceu. Tínhamos combinado de ficarmos juntos até a formatura, mas a mudança deles veio antes. Hoje são meus amigos pessoais”, diz. Depois de dois anos como estagiária, veio a contratação para o cargo de professora auxiliar.

“É muito bom saber que posso ser exemplo para outras pessoas. Sou uma mulher que se formou depois dos 40, nordestina, negra, moradora de favela e estudante de escola pública. Mas eu consegui e estou conseguindo, porque não pretendo parar”, afirma. A professora pretende cursar o doutorado. “Meu sonho é fazer a diferença, ajudando as classes menos favorecidas e que estão à margem da sociedade. Acredito que tudo se resolve com educação”, conclui.

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