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Eleições 2016

"Crise levou todos os partidos para vala comum", diz Haddad

Em entrevista ao R7, prefeito de São Paulo reconhece que PT pode ser o que mais perdeu

São Paulo|Fernando Mellis, do R7

Haddad aposta que números de pesquisas ainda possam ter reviravolta
Haddad aposta que números de pesquisas ainda possam ter reviravolta

Quando Fernando Haddad (PT) disputou a primeira eleição de sua vida, em 2012, o Brasil passava por um momento de relativa tranquilidade política. Hoje, na disputa à reeleição para a Prefeitura de São Paulo, ele tem pela frente o desafio de contornar um cenário de desgaste, tanto da administração municipal, envolvida em polêmicas que incluem fechamento de avenidas e multas de trânsito, quanto do próprio partido, cuja imagem se degradou nos últimos dois anos.

Em uma antessala do seu gabinete na prefeitura, Haddad recebeu, no último dia 5, a reportagem do R7 para uma entrevista em que falou sobre assuntos que envolvem a disputa para gerir pelos próximos quatro anos uma das maiores cidades do mundo.

O prefeito diz que gostaria de ter investido mais em obras de combate a enchentes e em habitação, mas que foi prejudicado pelo corte de verbas federais na crise. Crise essa que, segundo o petista, atingiu em cheio os gestores do Sul e do Sudeste.

Mesmo assim, ele avalia que a gestão atual teve melhor desempenho do que da ex-petista Marta Suplicy, hoje adversária. “Nós investimos 70% mais do que a administração do PT 12 anos atrás”, diz.


Sobre o cenário político nacional, que pode ser decisivo para Haddad nestas eleições, ele afirma que todos os partidos políticos perderam nos últimos anos, mas que “talvez o PT tenha perdido mais” apesar de ser “muito difícil isolar essa variável das demais”.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.


R7: Como está sua rotina, uma vez que não se afastou da prefeitura para a campanha?

Fernando Haddad: Estou dormindo menos. Vida de prefeito já tem uma jornada... Mas está mais sobrecarregado, em função de que hoje café da manhã, almoço e noite acabaram ocupados com agenda de candidato e final de semana também. Mas sobra algum espaço para descansar.


R7: Em 2012, o senhor se elegeu como um novo homem para São Paulo. O que de fato foi renovado na cidade nestes quatro anos?

Haddad: Tem coisas mais estruturais, que são o legado mais importante e que menos visibilidade têm. Mas é o que vai equacionar o problema da cidade para o futuro: a renegociação da dívida, que caiu em menos da metade do que eu herdei; e o Plano Diretor Estratégico, elogiado até por uma figura como Major Olímpio, por exemplo. Até ele conseguiu compreender o que está em jogo. De fato, é um plano ousado, até 2030.

O pacote de obras, nós batemos recorde de investimento na cidade. Em relação à nossa última administração [PT], se comparar com a Marta [Suplicy], o investimento subiu de R$ 10 [bilhões] para R$ 17 bilhões em quatro anos. Nós investimos 70% mais do que a administração do PT 12 anos atrás, isso já em valores corrigidos. Investimos em todas as áreas: mobilidade, habitação, saúde, educação, que consomem 80% do investimento.

R7: Tem alguma área que, se houvesse mais recursos, gostaria de ter investido mais?

Haddad: Tem duas áreas que a suspensão do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] afetou. Nós poderíamos ter feito mais obras de combate a enchentes. Se bem que eu bati recorde também nisso. Nosso investimento em combate a enchentes foi o maior da série histórica, mas teria ido muito além. E habitação, nós estamos com 35 mil unidades, entre entregues e em obras. Eu tenho 20 mil em carteira aguardando há dois anos a Caixa Econômica liberar o Minha Casa Minha Vida por conta da situação do País.

R7: O senhor apareceu nas primeiras pesquisas eleitorais com 9% das intenções de voto. Qual sua estratégia para reverter esse número e, eventualmente, ir para o segundo turno?

Haddad: É que esse número é de quando não tinha nem começado a campanha. Nós vamos aguardar a evolução para saber se as pessoas estão reconhecendo o que foi feito. Quando você constrói três hospitais simultaneamente e entrega um, as pessoas têm que ver que o prefeito se preocupou com a saúde. Quando você tem 33 hospitais dia em funcionamento, 14 CEUs [Centros Educacionais Unificados] sendo construídos, 15 UPAs [Unidades de Pronto Atendimento], três já entregues, 400 creches, a velocidade do ônibus, o tempo que as pessoas ganharam, passe livre para estudante... Quando você vai mostrando isso, as pessoas começam a lembrar. Mas é uma campanha curta, o desafio é grande. O papel da campanha é ser didático, de mostrar como a cidade mudou.

R7: Se não houvesse todo esse problema nacional, se a presidente Dilma tivesse um País, digamos, sem crise, a sua situação eleitoral hoje em São Paulo seria outra?

Haddad: A campanha só começou, muita coisa vai acontecer ainda. Já tem gente dando esse retrato como o fim do filme. Vamos aguardar. Agora, o fato é que os gestores públicos, de uma maneira geral, do Sul e do Sudeste foram muito afetados pela crise. O Nordeste sofre menos, ainda se consegue preservar.

R7: A imagem do PT neste momento político prejudica a sua campanha?

Haddad: Pode até ser, mas é muito difícil isolar essa variável das demais. Em segundo lugar, eu não vejo nenhum partido que tenha se saído bem na crise. Todos ficaram em uma situação delicada perante o eleitor. A classe política em geral perdeu, talvez o PT tenha perdido mais. Até porque não se conseguiu discernir quem estava do lado do quê. Foi todo mundo para a vala comum. E não é verdade, essa vala comum é fictícia. Tem muita gente boa em todos os partidos, que pensam diferente.

R7: O senhor já pensou ou pensa em mudar de partido no futuro?

Haddad: Não.

R7: Nos últimos anos a prefeitura passou por muitas polêmicas: redução da velocidade, faixas de ônibus, ciclovias, fechamento da Paulista... As críticas foram intensificadas na sua gestão?

Haddad: O clima geral do País acabou contribuindo para uma partidarização indevida de temas que deveriam estar acima dos partidos. Mas elas gerariam polêmica em qualquer ambiente, porque são coisas novas e que geraram polêmica mesmo no mundo desenvolvido. Ainda mais em um País com uma camada da população pouco antenada.

Toda mudança cultural exige fôlego. Lembra do Carnaval de rua? Em 2013, foi muita crítica, em 2014, muita crítica. Em 2015, já melhorou e em 2016, já quase pacificou. Nós também aprendemos. Não é só que a população aceitou, tem o lado da população que vai se habituando, mas tem o lado da administração que vai se aperfeiçoando. A gente não sabia organizar Carnaval de rua. Cometemos erros, mas esses erros não poderiam significar voltar atrás.

R7: Uber e ciclovias, por exemplo, são questões que, caso reeleito, já estão superadas ou precisam ser mais discutidas com a sociedade?

Haddad: Não existe programa público que termine. É uma ilusão isso. Ter coisa por fazer é normal, tem que ter menos. Você tem que ter avançado alguma coisa. Ter ciclovia é bom, mas daqui a pouco vai faltar bicicletário, vai faltar iluminação pública na ciclovia... Toda hora vai ter uma demanda, graças a Deus.

R7: O senhor tem falado muito que a sua gestão não se comunicou da forma como talvez deveria com a sociedade e que houve redução de verbas publicitárias para não cortar gastos em áreas prioritárias. O senhor não considera que faltou um debate mais intenso quanto aos temas polêmicos, por exemplo, no caso da redução de velocidade?

Haddad: Nós somos signatários de um acordo com a Organização Mundial da Saúde. A recomendação mais forte é a fixação de um limite mais baixo de velocidade máxima. Eu acho que o problema [críticas] aconteceria de qualquer jeito. Agora, com uma coisa nós não contávamos, que todos os meios de comunicação fossem se colocar contra a medida. A gente imaginou que fosse ter uma pluralidade de opiniões e isso não aconteceu. Isso dificulta muito.

R7: Então, não voltaria atrás sobre a redução de velocidade?

Haddad: Vida em primeiro lugar. E 9.000 feridos a menos não é pouca coisa. Eu li hoje uma reportagem dando conta que boa parte dos atletas paralímpicos são vítimas de acidentes de trânsito. Isso é que deveria estar sendo observado. A multa vai cair naturalmente. Você vai ver como vai ajustar. As pessoas vão mudar o comportamento e não vão ser multadas. É um efeito momentâneo e natural. É muito difícil sem o apoio da imprensa especializada, que faltou nesse caso, que as pessoas entendam que a velocidade máxima menor acarreta uma velocidade média maior. As pessoas não conseguem compreender isso. Muita gente já constata isso, que o trânsito de São Paulo é muito melhor do que era, mas nem todo mundo dá o braço a torcer.

R7: Já existe algum dado que indique que o número de multas por excesso de velocidade deva cair?

Haddad: No último mês, o número de multas já voltou para a média histórica. Eu não tenho dúvida que vai cair. Tem uma forma muito fácil de não ser multado, que é respeitar.

R7: Se o senhor for reeleito, vai ser um mandato de continuidade ou tem algo novo que o senhor pretende colocar em prática?

Haddad: Tem algumas coisas novas importantes. Eleição direta para subprefeitos. Tem o nosso programa de segurança, que é a troca das luminárias da cidade por LED com o videomonitoramento inteligente em um convênio com a Universidade de São Paulo. Isso vai ter um impacto muito grande na vida da cidade, vai melhorar muito.

R7: Qual seria o prazo para a troca das lâmpadas? O senhor teme que caso não reeleito isso fique para trás?

Haddad: Já trocamos 15%. Até 2018, 2019 deve estar tudo trocado. Sinceramente, lâmpada LED, é fácil falar agora, mas ninguém tinha trocado. Eu duvido que alguém possa ser contra isso. É econômica, ilumina o dobro da outra. Permite determinadas atuações da prefeitura em relação à segurança muito interessantes.

R7: Quanto ao Uber, o senhor teme que possa haver um retrocesso ao que foi conquistado?

Haddad: Eu não sei. Porque a fala dos meus adversários é errática. Por exemplo, o [João] Doria, uma hora vai vender, outra hora vai conceder o Pacaembu. Uma hora vai abrir a Paulista [aos domingos] para os carros, aí volta atrás... O [Celso] Russomanno, primeiro vai proibir o Uber, depois vai regulamentar... É muito difícil você dialogar com pessoas que não têm opinião própria. Eles estão navegando de acordo com o vento... A Marta, que me apoiou contra a inspeção veicular, agora quer voltar com a inspeção veicular.

Essa proposta do Doria, do “rede hora errada” [em alusão ao programa criado por ele: Rede Hora Certa], que é atender as pessoas de madrugada, eu fico com dificuldade até de entender de onde sai uma ideia dessas, você acordar alguém 1h da manhã para fazer um ultrassom. Amplie os hospitais dia, o modelo está pronto, é só expandir, muito mais inteligente. Eu confesso que não consigo sequer debater com essas ideias de tão fora de lugar.

A Marta está dizendo que vai concluir minhas obras. O que ela mais fala é que vai concluir o que eu estou fazendo. “Vou concluir os 14 CEUs, vou concluir os dois hospitais, vou concluir as UPAs”. Ótimo.

R7: O senhor sente algum desconforto em criticar a Marta Suplicy, por ela ter sido prefeita e ter saído da prefeitura bem avaliada?

Haddad: Eu não critico pessoas. Eu discuto ideias. Acho que a aliança dela com o Kassab para trazer de volta a Controlar é um erro. Vai tirar dinheiro da saúde e educação para pagar por algo que não deu certo? Eu estou com dificuldade de entender a plataforma dos outros candidatos.

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