Maratona de candidato tem empurra-empurra, muita fritura e mais de 800 apertos de mão
R7 acompanhou o tucano João Doria em uma dia de corpo a corpo na zona leste de SP
São Paulo|Caroline Apple, do R7
Em uma hora, o candidato João Doria (PSDB) consumiu 600 calorias, apertou a mão de 172 eleitores e tirou mais de 70 selfies. Estes são alguns dos dados levantados pelo R7, que acompanhou a agenda do político, no último dia 17, pelas ruas de São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo.
O horário marcado para a saída de Doria e de seus assessores era às 10h30, no “centro de estudos da coligação” (nome dado pela equipe do candidato), no Jardim Europa, zona oeste de São Paulo. A fama de pontual reflete em seus funcionários. O primeiro assessor deixa claro nas mensagens: “Chegue no horário, eles não esperam ninguém”. A assessora repete a mesma informação dias depois. Apesar do cuidado com a hora, a caravana partiu com quase uma hora e meia de atraso.
O papo na van era sobre políticas públicas de saúde, com o ex-deputado estadual Milton Flávio, que é o “cara da saúde” de Doria. A conversa rende. Afinal, São Miguel Paulista fica a quase 40 km do escritório das coligações e Milton tem centenas de histórias ao lado de tucanos como Mario Covas. Balinha refrescante foi oferecida para todos. Doria, sentado na frente com o motorista, segue o caminho quieto e atende o telefone em alguns momentos. Conversas rápidas. Às vezes, parava para ouvir alguma “dica” dos seus seguidores sobre a campanha. Ele não estendia o assunto.
O carro estacionou em um posto de gasolina, próximo à Praça do Forró. Fogos começam a estourar sob a Igreja Matriz. Algumas centenas de pessoas aguardavam o político de forma entusiasmada. Alguns cantavam, outros puxam gritos de guerra. Começa a maratona. Empurra-empurra. Abraços, beijos e mais de 170 apertos de mão em uma hora, tempo que foi suficiente para percorrer menos de 1 km.
Uma pequena coletiva é improvisada no meio dos apoiadores. Entre as perguntas, assuntos como Lula, Marta, Haddad. Como gancho, após uma pergunta sobre o nome de batismo da tradicional praça do bairro, Doria aproveita para valorizar a alcunha do logradouro, que segundo o candidato, foi dada por ele, quando era secretario de Mario Covas.
— Fomos os que introduzimos as ruas de lazer. Fizemos aqui a Praça do Forró, que foi um grande sucesso. O nome se consolidou e até hoje é conhecida por esse nome.
No caminho, pessoas ligadas a Doria passam o telefone para ele conversar com padre e até aniversariante do dia.
Comida e caminhada
Chega um dos momentos mais esperados, principalmente pela imprensa: Doria vai comer pastel. A dona da barraca não entende nada. Dezenas de pessoas cercam a tenda. Fotógrafos “invadem” a área interna para ficar de frente para o candidato. Um pastel de queijo é servido. Ele divide ao meio e dá a outra metade para o deputado estadual delegado Olin, que não largou o candidato por um minuto durante todo o trajeto.
A primeira mordida rende dezenas de cliques. Ele posa para as fotos dando uma mordida generosa no pastel. A situação é diferente da vista nas últimas semanas, quando a assessoria de Doria pediu para não o fotografar comendo, depois que o candidato foi criticado pela oposição e eleitores, que não gostaram das expressões que ele fazia enquanto comia alimentos populares, reforçando o estereótipo de “playboy” e “coxinha”.
A caminhada continua. Doria entra em praticamente todos os estabelecimentos comerciais. "Por não ser político", como gosta de dizer, ele aproveita a pequena rejeição. Em uma vitrine, um grupo de meninas escreve de caneta em papel sulfite: “Primeiramente, fora Temer”. Ele vai cumprimentá-las. A investida não rende. Ele segue a jornada.
Mais comida. Agora, uma coxinha de queijo, compartilhada com a reportagem. Um cafezinho de coador adoçado. A movimentação é intensa em torno de Doria. Cada um dá pitacos de como a caminhada deve seguir. Uma apoiadora diz para uma candidata a vereadora: “Fica do lado dele. É bom ter mulher por perto”. Outros gritam: “Cadê as bandeiras flamejando?”.
O passeio vai findando. O caminho foi curto, nem 2 km, mas longo em horas (quase duas) e tumultuado em alguns momentos. Um cabo eleitoral, que não estava com a equipe na van desde o início, pega um dos lugares, sorrateiramente, no carro. “Imperceptível”, com adesivo pelo corpo todo, até na testa, santinhos na mão, camiseta amarela, o idoso finge naturalidade. Não demora muito para um dos funcionários de Doria contar uma história rápida: “Vamos ter que passar naquele lugar lá. Lembra?”. O lugar não existe. O homem, sem escolha, sai da van, cabisbaixo.
Hora do almoço. Uma padaria no caminho para o Shopping Aricanduva, onde seria a próxima parada. Doria pede um americano com peito de peru e um suco de laranja. Só come metade. Assim como o pastel, busca alguém para dividir o sanduiche. Seu cuidado se deve à vida equilibrada e saudável que mantinha antes da campanha. Exercícios diários regulares, consumo zero de álcool, nada de cigarro, peladas com os amigos, quando assume a posição de lateral direito. Tudo um tanto descompensado por causa da nova rotina.
Num bate-papo com o R7, Doria conta que já tinha comido na vida tudo que vem comendo por suas andanças por São Paulo, menos buchada de bode.
— Comi no CTN (Centro de Tradição Nordestina). Eu não conhecia o sabor. Eu diria que é razoável, mas não vai ser minha preferência, mas é razoável.
O gosto vai na contramão do ex-presidente Lula, que mandava buscar quentinhas de buchada de bode, em um restaurante em Brasília, para comer no Planalto.
Entre selfies
A chegada ao Shopping Aricanduva conta com apoiadores em frente a uma loja de departamento. Em 45 minutos, o candidato tirou ao menos 70 selfies.
O passeio segue com trilha sonora. Um violinista faz uma pequena apresentação e passa a acompanhar o candidato pelos corredores enquanto toca hits como Garota de Ipanema.
Em 1h estão todos na van novamente. A próxima parada é um estúdio de gravação na zona oeste, onde ele gravaria programas eleitorais. Mas, à noite, tem mais. Doria iria visitar a festa italiana San Genaro, na Mooca.
E o dia termina com ao menos mil calorias a mais, centenas de selfies e mais de 800 apertos de mão, em média.