"São Paulo deu um voto anti-PT", diz Doria
Após vitória, prefeito eleito diz que resultado nas urnas foi influenciado pela Lava Jato
São Paulo|Fernando Mellis, do R7
O prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), atribuiu a vitória no primeiro turno, em parte, aos efeitos negativos que a Lava Jato e o cenário político tiveram sobre o PT, partido do adversário dele e atual prefeito, Fernando Haddad. Em entrevista no diretório estadual do partido, na noite deste domingo (2), o tucano também cumprimentou o petista.
— Ela [Lava Jato] foi substantiva. O povo de São Paulo deu um voto anti-PT. Isso é muito claro. O voto contra a corrupção, contra a má gestão. Obviamente que os programas e as propostas que apresentamos também contagiaram a cidade. Mas houve um sentimento. Aliás, sentimento expresso pelas ruas.
Em muitos momentos, a militância tucana gritava "fora PT" e "nossa bandeira jamais será vermelha".
Haddad, segundo Doria, ligou logo após o resultado para parabenizá-lo.
— O prefeito Fernando Haddad nos telefonou com muita dignidade, nos cumprimentando e já se oferecendo para estabelecermos o programa de transição. É assim que se faz política.
Doria surpreendeu e recebeu 53,29% dos votos válidos (3 milhões). O atual prefeito ficou em segundo lugar, com 967 mil votos.
Quem é João Doria, o novo prefeito de São Paulo
No que classificou como "a mais expressiva vitória política em São Paulo nos últimos tempos", Doria lembrou que é o primeiro prefeito eleito no primeiro turno das eleições, desde que o pleito passou a ter dois turnos.
Partido rachado
Entre os caciques do PSDB, apenas o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, padrinho da campanha de Doria, estava presente na festa da vitória, o que pode indicar desaprovação de importantes nomes do partido, como o ministro das Relações Exteriores, José Serra, o senador José Aníbal, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Todos foram citados no discurso do prefeito eleito.
Um nome recebeu atenção especial de Doria, o do vice-presidente nacional do PSDB, Alberto Goldman. Nos últimos dias, ele despejou uma série de críticas contra o candidato de Alckmin e chegou a chamá-lo de "uma desgraça para o PSDB".
— A política não se faz criando inimigos, a política se faz conquistando amigos. Eu faço aqui um registro a ele que foi governador, foi vice-governador, deputado estadual, deputado federal, não obstante a todas as posições, merece respeito. Eu me refiro a Alberto Goldman, que provavelmente está nos acompanhando. Mesmo diante de todas as circunstâncias, o meu respeito a ele, a sua esposa Deuzeni, e aqueles que ao lado dele têm uma posição diferente da nossa. Não há problema nenhum nisso. Nós compreendemos.
Minutos antes, quando Doria ainda não estava no diretório, o presidente estadual do partido, Pedro Tobias, usou o microfone para sugerir que Goldman deixasse a legenda. "Se não está com a gente, está contra a gente", disse, sob aplausos da militância.
O racha no partido envolveu um dissidente, o vereador Andrea Matarazzo (agora no PSD), que foi candidato a vice na chapa de Marta Suplicy. Matarazzo deixou o PSDB acusando Doria de ter comprado votos para derrotá-lo nas prévias que decidiram quem seria o candidato tucano.
Pedro Tobias se referiu a Matarazzo como "traidor".
— Vocês viram a dificuldade para [Doria] ser candidato. Nós precisamos aprender. A cúpula [do partido] escuta a urna. As prévias foram democráticas e teve gente que não aceitou. Matarazzo traidor.
No sábado, um grupo de militantes dissidentes fez um ato em apoio à candidatura de Matarazzo. Questionado neste domingo, Doria defendeu a unificação do partido.
A vitória do candidato apoiado por Alckmin, a contragosto de muitos tucanos, dá ao governador ainda mais fôlego para apostar que será o nome do partido para disputar a presidência em 2018. Apesar disso, ele nega relação.
— Não há relação entre eleição municipal, mesmo em uma capital como São Paulo, e eleição nacional. Tudo tem seu tempo.