"A cura da Aids poderia estar naquele avião", diz autoridade mundial de combate à doença
Especialista renomado na pesquisa do HIV está entre as vítimas do voo da Malaysia Airlines
Internacional|Do R7, com agências internacionais
A tragédia do voo MH17 da Malaysia Airlines, atingido por um míssil enquanto sobrevoava o espaço aéreo ucraniano, foi especialmente chocante para a comunidade que luta contra a Aids. Entre os 298 mortos no acidente, está o ex-presidente da SAI (Sociedade Internacional da Aids) Joep Lange, 60 anos, e sua esposa, juntamente com o inglês Briton Glenn Thomas, funcionário da OMS (Organização Mundial de Saúde), um dos braços da ONU.
Além dos dois, outras 106 pessoas ligadas ao combate ao HIV - entre cientistas e ativistas - estão listadas como possíveis vítimas, segundo o jornal britânico Telegraph. O grupo iria participar de uma conferência internacional sobre Aids na Austrália, que será iniciada domingo (20), em Melbourne.
Joep Lange era um dos maiores especialistas mundiais na pesquisa da Aids, com mais de 30 anos dedicados à pesquisa da cura da doença. O cientista trabalhava como professor de medicina na Universidade de Amsterdã, era diretor do Instituto de Amsterdã para a Saúde Global e o Desenvolvimento, além de um dos maiores defensores internacionais do barateamento dos tratamentos contra o HIV em países pobres.
Voo MH-17 da Malaysia Airlines levava médicos e funcionário da ONU; conheça as vítimas
— Temos informação que muitos de nossos colegas e amigos estavam a bordo do avião —, disse Françoise Barre-Sinousi, Prêmio Nobel em 2008 por seu papel na descoberta do HIV e co-presidente da conferência.
Barre-Sinousi, a pesquisadora australiana Sharon Lewin e o ex-secretário de Saúde britânico Norman Fowler renderam tributo hoje a Lange, em Canberra. A Austrália declarou este sábado (19) como dia de luto nacional por esta tragédia, na qual morreram, pelo menos, 28 cidadãos do país.
— Ainda estamos comparando os passaportes com os registros. O número pode aumentar, mas neste momento podemos confirmar que são 28 —, disse a ministra das Relações Exteriores, Julie Bishop, depois de se reunir com o embaixador russo na Austrália, Vladimir Morozov.
Família escapou da morte por falta de assento no avião
Pesquisadores também muito lamentaram a morte de Lange e dos outros que participariam do evento.
— A cura da Aids poderia estar à bordo daquele avião, simplesmente não sabemos —, afirmou Trevor Stratton, um consultor sobre Aids que já se encontrava em Sydney para um pré-evento, à rede Australia Broadcasting Corp.
— Ele é um dos ícones de todo esse campo de pesquisa. Sua perda é imensa —, disse Richard Boyd, professor de imunologia na Universidade Monash, de Melbourne, à Reuters.
A SAI informou que, apesar da perda dos ativistas e pesquisadores, a conferência será realizada, "em reconhecimento à dedicação de nossos colegas na luta contra o HIV/Aids". Esse ano, o evento contará com a presença do ex-presidente americano Bill Clinton e são esperados cerca de 12 mil participantes.