Ação policial contra apoiadores de Mursi deixa dezenas de mortos e feridos no Egito
Governo declarou estado de emergência de um mês. Número de mortos é indefinido
Internacional|Do R7, com agências internacionais
As forças de segurança egípcias mataram dezenas de pessoas nesta quarta-feira (14), no Cairo, durante uma ação para acabar com um acampamento de manifestantes que exigem a restituição do presidente deposto Mohamed Mursi. O governo declarou estado de emergência de um mês e confirmou ao menos 95 mortes. Para os opositores, no entanto, mortos passam de 200.
O conflito político no Egito se agravou no dia 3 de julho, quando o islamita Mursi foi destituído por um golpe militar — somente um ano após ser eleito.
Desde então, várias cidades do Egito foram tomadas por apoiadores da Irmandade Muçulmana (grupo político que levou Mursi ao poder) para exigir a volta do presidente, que segue detido pelas Forças Armadas.
Entenda as causas do conflito no Egito
Cinegrafista de emissora britânica morre em confrontos
O confronto de hoje começou nas primeiras horas do dia, quando a polícia egípcia iniciou uma ação para remover dois acampamentos ocupados por apoiadores de Mursi: um na Praça Nahde, e outro do lado de fora da mesquita Rabaa al Adawiva, no oeste do Cairo.
Gás lacrimogênio foi usado para dispersar os manifestantes, e rajadas de metralhadora também foram ouvidas. Escavadeiras foram utilizadas para remover os acampamentos e barricadas de pedra.
"Isso é sórdido, eles estão destruindo nossas barracas. Nós não podemos respirar e muitas pessoas estão no hospital", disse Ahmed Murad, no limite do acampamento de Rabaa, onde guardas da Irmandade Muçulmana tinham colocado sacos de areia na expectativa de uma invasão policial.
O número de mortos é indefinido. Dados oficiais do governo, divulgados pelo Ministério da Saúde, indicam que ao menos 95 pessoas morreram e 874 ficaram feridas. Além do Cairo, o governo diz que pessoas morreram nas províncias de Behira, Beni Suef, Suez e Fayoum.
Mas segundo a Irmandade Muçulmana, que organizava os acampamentos, os confrontos deixaram 200 mortos e milhares de feridos.
Na tentativa de obter um número confiável, um repórter da agência France Presse contou 124 corpos em um dos necrotérios improvisados apenas na praça Rabaa al Adawiya.
Um cinegrafista da emissora britânica Sky News foi baleado e morto no Cairo. E a Irmandade Muçulmana informou que a filha de 17 anos de um de seus principais líderes também foi morta a tiros.
Por causa da violência, o governo interino declarou estado de emergência, que entrou em vigor às 16h (local, 11h de Brasília) e deve durar um mês.
Mais de 250 pessoas já foram mortas em confrontos com as forças de segurança nas seis semanas desde a deposição de Mursi.
Ataques e confrontos continuam em todo país
A situação ainda é tensa nesta tarde no Egito (manhã no Brasil). No Cairo, emissoras de TV e repórteres de agências relatam que os embates continuam entre as forças de segurança e os simpatizantes de Mursi.
Imagens de televisão ao vivo mostraram médicos usando máscaras de gás e óculos de natação enquanto tentavam tratar os feridos.
A reação policial no Cairo desencadeou ataques em outras partes do país.
Membros da Irmandade Muçulmana atacaram várias delegacias e prédios governamentais em diversas Províncias do país, informou a imprensa oficial.
Segundo essas fontes, os islamitas entraram na delegacia do Uarrá no distrito de Imbaba, onde atearam fogo, libertaram os presos e detêm o oficial de polícia no comando.
Em Beheira, os manifestantes partidários do deposto presidente Mursi destruíram o edifício do governo provincial. Já em Garbiya (norte), tentaram entrar em outra delegacia e na sede do governo.
Em Fayum, ao sul do Cairo, os seguidores de Mursi entraram em outra sede policial, na qual causaram um incêndio.
Várias igrejas foram atacadas no sul do país, mas a Irmandade Muçulmana nega envolvimento.
Sem sinal de Mursi
Mursi, o primeiro presidente democraticamente eleito do Egito, foi removido pelo Exército após protestos em massa contra seu governo.
Desde 3 de julho, ele está detido em local secreto, sem que nenhuma foto ou declaração sua tenha sido divulgada.
A eleição presidencial do ano passado ocorreu após os fortes protestos populares que haviam ajudado a derrubar, no começo de 2011, o regime do ditador Hosni Mubarak, que governou o Egito por três décadas.
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