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'Ainda tenho marcas', diz jovem recrutado à força pelos talibãs

Afegão de 17 anos que fugia com sua família levado para uma colina, forçado a carregar armas e espancado

Internacional|

Talibãs se reunindo em uma rua da cidade de Kunduz na última segunda-feira (9)
Talibãs se reunindo em uma rua da cidade de Kunduz na última segunda-feira (9) Talibãs se reunindo em uma rua da cidade de Kunduz na última segunda-feira (9)

Quando o Talibã chegou, no último domingo, à cidade de Kunduz (norte), Abdullah, de 17 anos, foi forçado a lutar ao lado deles, após um breve treinamento que só lhe permitiu oficiar como portador de cerca de vinte quilos de armas de fogo.

Hoje, o jovem chegou com sua família para se refugiar na capital Cabul como milhares de afegãos, fugindo da ofensiva relâmpago dos insurgentes que tomaram o controle de mais da metade das capitais provinciais em oito dias.

Abdullah e sua família se instalaram em uma tenda na periferia norte da capital. De lá, contou o horror do último domingo, seu último dia em sua cidade.

O jovem afegão sabia que os talibãs chegariam em breve em seu bairro, mas se surpreendeu quando o pararam na rua, o levaram para uma colina próxima e o forçaram a carregar armas: um saco de cabeças de RPG (granada propelida por foguete), de cerca de vinte quilos, e uma caixa de munição em cada mão.

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Com o rosto marcado pela acne, Abdullah afirma ter reconhecido, junto com o Talibã, vários alunos de uma madrassa (escola corânica) perto de Kunduz. Os talibãs recrutaram de 30 a 40 jovens ali, alguns com apenas 14 anos.

"Eles pediram que pegassem em armas e se juntassem a eles. E quando seus pais vieram pedir sua libertação, eles os ameaçaram com armas", disse o adolescente.

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A provação de Abdullah durou três horas. Mais tarde, seus parentes conseguiram convencer os talibãs a libertá-lo e a família decidiu fugir.

Mas quatro combatentes "paquistaneses", que Abdullah reconheceu pelo sotaque, o detiveram e o levaram novamente para prepará-lo para o combate.

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"Eles nos espancaram. Ainda tenho as marcas". Uma hora depois, foi equipado com um fuzil M16. "Eu tremia, não conseguia segurar minha arma", lembra Abdullah, que trabalhava na barbearia de seu pai e nunca havia lutado antes.

"Houve bombardeios aéreos e tiros de tanques. Três ou quatro crianças portando armas foram atingidas e morreram quando suas bolsas explodiram", porque na frente estavam as forças afegãs reagindo.

Choque

A "metade dos talibãs do grupo" que o acompanhava foi morta ou ferida. Então, Abdullah tentou a sorte, largou a arma e fugiu.

Demorou uma hora para voltar ao seu bairro: "Estava em choque, nem reconheci a nossa porta (...) Quando cheguei em casa nem tinha certeza de que estava vivo".

A família se preparou para fugir, pedindo dinheiro emprestado e até vendendo o telefone da mãe para pagar a viagem. "Não trouxemos nada conosco. Até vendemos a comida que tínhamos", lamenta Abdullah.

Tudo o que eles deixaram para trás virou fumaça quando sua casa foi atingida por um projétil de morteiro.

Após 15 horas de viagem, Abdullah finalmente chegou a Cabul com seus pais, seu avô, suas duas irmãs e três irmãos, o mais novo deles com apenas dois anos e meio de idade.

Desde então, dormem no chão, vestindo apenas as roupas no corpo e um cobertor jogado sobre eles na véspera por "um empresário de passagem".

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