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Apesar da miséria, norte-coreanos idolatram líderes e não demonstram revolta, dizem brasileiros

Brasileiros contam suas impressões após conhecer o país mais fechado do mundo

Internacional|Natália Guerra, do R7


As estátuas dos líderes Kim Il-sung (esq.) e Kim Jong-il (dir.), pai e avô do atual líder Kim Jong-un, dominam o visual do isolado país
As estátuas dos líderes Kim Il-sung (esq.) e Kim Jong-il (dir.), pai e avô do atual líder Kim Jong-un, dominam o visual do isolado país Gabriel Prehn Britto

A dinastia Kim, que governa a Coreia do Norte desde sua fundação, em 1948, é alvo de críticas por sua retórica belicista e por tentar esconder, com as ameaças de guerra, a fome e a miséria que assolam o país. Apesar disso, não parece haver um clima de revolta entre a população, afirmaram ao R7 três brasileiros que visitaram recentemente o país mais fechado do mundo. De acordo com eles, os norte-coreanos idolatram seus líderes com uma "devoção religiosa".

A Coreia do Norte e seu misterioso líder, o jovem Kim Jong-un, monopolizaram as manchetes internacionais no último mês após a intensificação das ameaças a Coreia do Sul, Estados Unidos e Japão.

Mas a recente tensão militar mostrou que a base de sustentação do governo não são apenas os mísseis ou a temida bomba atômica. Mais que seus armamentos, o poder de Kim se apoia nos veículos de comunicação do Estado e na propaganda do governo.

E isso faz toda a diferença, já que com o isolamento do país de qualquer meio de comunicação estrangeiro, a única fonte de informação do povo são os veículos oficiais, como comenta o jornalista André Fran, um dos criadores da série de TV Não Conta Lá em Casa.


— E esta [informação do governo] só se refere a seus líderes como semideuses benevolentes com o povo e defensores da nação. Seres mitológicos que só agem em prol do povo norte-coreano, a quem amam como filhos. Sendo assim, eles idolatram seus líderes. [...] Não observei nenhum clima de revolta entre soldados, guias, e do pouco que vi da população.

Essa adoração fica ainda mais clara porque, como lembra Gabriel Prehn Britto, redator publicitário e autor do blog Gabriel Quer Viajar, as pessoas que vivem nas cidades onde o governo permite turistas estrangeiros (cerca de 3.500 todos os anos) são as "mais fiéis" ao regime.


— Certamente muitas sabem das atrocidades que o governo comete contra quem se rebela, mas a maioria não sabe de nada e só é fiel porque acredita realmente e ingenuamente na santidade e na genialidade de Kim Il-sung, de Kim Jong-il e de Kim Jong-un. É preciso lembrar que são 60 anos de lavagem cerebral e isolamento. É muito tempo. [...] A devoção a Kim Il-sung é religiosa. Não se curvar diante de uma estátua dele é como desrespeitar uma missa católica, por exemplo. Um ato assim é considerado uma grande falta de respeito e educação. 

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A repórter e tradutora Juliana Cunha, que visitou o país no começo deste ano e, por estar acompanhada de um diplomata, conseguiu circular sem guia pela cidade, acredita que, junto à idolatria, também existe o medo.

— Idolatram e sentem medo, na minha opinião. Eles não são burros: o sistema é muito rígido e pesado com a população, é claro que muita gente sabe que tem algo errado com o país. Se não tivesse nada errado, todo mundo poderia tirar passaporte ou fazer ligações para o exterior.

As mazelas escondidas

Embora os turistas sejam autorizados a visitar apenas as cidades mais desenvolvidas do país (como a capital, Pyongyang, considerada a "vitrine" da Coreia do Norte), na opinião dos entrevistados, é possível encontrar pistas dos graves problemas que atingem o país.

"Não se vê pobreza extrema", conta Britto, "mas se vê pobreza".

— A própria capital está caindo aos pedaços, o que dá uma ideia de como são as partes escondidas do país. Se nem a vitrine do regime consegue disfarçar a decadência, imagina o que é escondido.

Já Fran conta que viu campos de trabalho forçado nas estradas, embora, na capital, tudo fosse "limpo, bonito e funcionando".

Interação limitada

Junto a seus companheiros de programa, Fran conheceu o país em 2009, em uma viagem feita "dentro de um roteiro e cronograma pré-determinados" pela agência nacional de turismo, e disse que não conseguiu interagir com o povo norte-coreano.

— Você não dá um passo fora do hotel sem estar acompanhado por dois guias oficiais. Do hotel para uma van, para alguma escola ou monumento. Contato com o povo, só de longe. Interação, nenhuma.

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Já Britto, que viajou ao país em 2012, conta que conseguiu conversar um pouco com os norte-coreanos, mas que a dificuldade era a língua, pois poucos falam inglês. 

— Nas poucas conversas que consegui manter, eles ficavam felizes quando eu dizia que era do Brasil, falavam de futebol e do Ronaldo e me perguntavam o que eu estava achando do país. Eram extremamente simpáticos. 

Juliana disse que só conseguiu travar conversas breves na rua, e que os poucos que falam inglês são os que trabalham com turismo — ou seja, aqueles "de confiança" do regime.

— Eles são curiosos e gostam de turistas, assim como em outros lugares do Oriente, como Coreia do Sul, China e Índia, mas sabem que a aproximação tem limites rígidos. Não rola de tomar um café junto, são só conversinhas breves na rua e cada um para o seu lado.

Clima de normalidade

Os três entrevistados, que visitaram a Coreia do Norte entre 2009 e 2013, relatam que não foi possível sentir nenhum clima de tensão na região.

"O clima era bem 'normal' para os padrões deles", disse Juliana, que voltou há poucos meses do país.

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"Não havia nenhuma ideia de conflito. O único lugar tenso era a fronteira, o que é bem natural, nesse caso. Mas a Coreia do Norte vive nessas idas e vindas de tensão, então não era de se duvidar de que, um dia, as coisas poderiam ficar nervosas de novo", disse Britto, que conheceu o país no ano passado.

Já Fran conta que as conversas giravam em torno de uma possível unificação das Coreias, mas que não havia tensão. 

— Do lado norte-coreano, só ouvi falar que a unificação das Coreias é um desejo de todos. Havia até monumentos a respeito. 

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