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Após reabertura, brasileiras aproveitam a vida em Paris

França reabriu museus, cinemas, teatros e a área externa de bares e restaurantes no último dia 19

Internacional|Sofia Pilagallo*, do R7

Clientes em um café da cidade no dia da reabertura
Clientes em um café da cidade no dia da reabertura Clientes em um café da cidade no dia da reabertura

Os franceses, que há praticamente sete meses não saíam às ruas, agora têm mais um bom motivo para comemorar a chegada do verão no Hemisfério Norte, no próximo dia 21: a reabertura de museus, cinemas, teatros e da área externa de bares e restaurantes, ainda que com uma série de restrições. A medida está em vigor desde o último dia 19 e é parte de um plano governamental de quatro etapas para aliviar a última quarentena, que teve início em 3 de maio.

Naquele dia, enfim, a França começou a caminhar a passos estreitos rumo ao fim de um longo e restrito confinamento. As escolas reabriram as portas, os cidadãos voltaram a poder circular livremente sem a necessidade de apresentar um atestado de locomoção — documento que justificasse a saída por motivo de força maior — e o toque de recolher foi postergado das 19h para as 21h.

No penúltimo estágio, com início nesta quarta-feira (9), todos os estabelecimentos, com exceção de boates, serão reabertos e as pessoas passarão a poder voltar para casa ainda mais tarde, às 23h. O país também reabrirá suas fronteiras para viajantes de todos os países, salvo os que integram o grupo vermelho (alto risco).

Aqueles que chegarem do Brasil e de outros 15 países só poderão entrar na França em caso de extrema necessidade, como em razão de um tratamento de saúde ou um trabalho inadiável. Ainda assim, a pessoa deve apresentar um teste PCR negativo realizado até 36 horas antes da viagem e fazer outro na chegada ao aeroporto, mesmo que já esteja vacinada.

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Por fim, em 30 de junho, espera-se que o país retome a normalidade quase que por completo. As boates permanecerão fechadas, mas não haverá mais toque de recolher ou quaisquer restrições de locomoção.

"Liberdade" é a palavra que define o sentimento da paulista Silvia Fagundes, 38 anos, que há três anos mora em Paris. Em 30 de maio, a primeira vez que saiu depois de sete meses confinada, ela aproveitou o embalo da primavera para visitar uma high line [estação de trem desativada], circuito de cerca de cinco quilômetros com uma grande variedade de flores.

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"Eu e meu marido decidimos esperar pelo menos até o fim de maio para tentar evitar aglomerações, mas não teve jeito. O local estava bastante cheio — e, com a chegada do calor, também havia algumas pessoas que ficavam tirando e colocando a máscara", afirma.

Silvia passeando com o marido no dia da reabertura
Silvia passeando com o marido no dia da reabertura Silvia passeando com o marido no dia da reabertura

"O fato de poder sair e ver gente depois de tanto tempo confinada traz uma sensação tão curiosa que não sei nem descrever. Estava um dia mega ensolarado, nós acordamos cedo, passeamos o dia todo. São coisas simples a que antes, talvez não déssemos tanto valor", completa.

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A mineira Aline Araújo, 24 anos, por sua vez, que há dois anos saiu da pequena Araguari, no Triângulo Mineiro, para viver na capital francesa, não conseguiu esperar tanto tempo. Como trabalha durante a semana, sua primeira saída ocorreu no primeiro sábado após a reabertura, dia 22 de maio.

Aline vive há dois anos em Paris
Aline vive há dois anos em Paris Aline vive há dois anos em Paris

Diferentemente de Silvia, que foi agraciada com um dia ensolarado, Aline teve a infelicidade de pegar mau tempo — mas isso não a impediu de sair às ruas. Determinada a comemorar o fim do confinamento, ela caminhou debaixo de intensa chuva e foi se encontrar com amigos em um bar da cidade.

"Foi muito engraçado porque, como os bares só tinham permissão para reabrir na área externa, eu fiquei sentada segurando um guarda-chuva sobre a cabeça — e achando aquilo maravilhoso (risos)", diz.

"Minha amiga, que mora em uma cidade vizinha aqui de Paris, conta que no dia da reabertura, chegou a um bar às 9h e saiu pouco antes das 21h, para estar em casa antes do toque de recolher. Saiu, inclusive, uma matéria sobre isso em um jornal local da cidade onde ela mora", completa.

Pandemia controlada

Atualmente, a França já está com a pandemia relativamente controlada, com uma média móvel de 8.350 casos e 95 mortes nos últimos sete dias. Para Silvia e Aline, a melhora da crise sanitária se deve, sobretudo, aos três longos confinamentos impostos pelo governo desde março do ano passado, bem como às rígidas medidas de higiene e segurança para conter a propagação da covid-19.

No país, o descumprimento das medidas, tais como o uso obrigatório de máscara nos espaços públicos e o toque de recolher, acarretam multa de €$ 135 (cerca de R$ 830). Em caso de reincidência, o valor, que já não é nada baixo, sobe para €$ 1.500 (aproximadamente R$ 9.240).

"O francês não é um tipo de cidadão que aceita muitas regras, mas com multas tão altas, não tem como não acatar", afirma Silvia. "Ele dança conforme a música, ou seja, segue as regras à medida que elas apertam."

"É muito difícil ver pessoas sem máscara na rua", diz Aline. "Também não se ouve falar de festas clandestinas ou coisas do tipo. Há pessoas que pegam o carro e vão para a casa de amigos após o toque de recolher, mas nunca eventos ilegais em bares e boates como vemos ocorrer aí no Brasil."

Baixa taxa de vacinação

Apesar de a pandemia estar controlada e as brasileiras já terem tomado pelo menos a primeira dose da vacina, apenas Aline se sente totalmente segura para sair às ruas e retomar a vida normal. Silvia ainda fica com um pé atrás e teme o surgimento de uma nova onda de casos, ainda que mais branda.

Isso porque, diferentemente de outros países europeus, como o Reino Unido, onde a vacinação caminha a passos largos, somente 17,6% dos franceses já estão totalmente protegidos contra a covid-19. Silvia e Aline atribuem o fato a uma questão cultural.

"Historicamente falando, o francês é um cidadão que preza muito pela liberdade de escolha", afirma Silvia. "Ele entende que é uma decisão dele ficar em casa ou não, usar a máscara ou não e tomar a vacina ou não. Estão sobrando tantas doses que até adolescentes estão conseguindo se imunizar."

"A campanha de vacinação é forte, mas, por outro lado, tem muita gente anti-vacina, sobretudo a população mais velha", diz Aline. "Não sei o que essas pessoas pensam, mas é certo que são negacionistas. No futuro, acho que elas terão tantos empecilhos para viver uma vida normal, como serem impedidas de viajar e entrar nos lugares, que, uma hora ou outra, não terão mais para onde correr."

Expectativas para o futuro

Com a chegada do verão e a França caminhando rumo à terceira fase do plano de desconfinamento, as expectativas das brasileiras para o futuro são altas. Ambas gostariam de vir para o Brasil, mas a burocracia para tal é um tanto quanto desanimadora.

Dadas as circunstâncias, Silvia pensa em viajar para Portugal com o marido e já fez até uma lista de passeios que quer fazer nos próximos meses. Aline, por sua vez, no auge de sua juventude, só pensa em poder retomar os shows e festivais que tanto frequentava antes de isso tudo acontecer.

"Sabe aquele sentimento de 'viver cada dia como se fosse o último'?", afirma Silvia. "É mais ou menos isso. Sabemos que não será o último, mas se tem uma coisa que a pandemia nos mostrou é que a vida é imprevisível e que devemos aproveitar o aqui e agora."

"Quero viver intensamente esse momento da reabertura e todos os outros que se seguirem", diz Aline. "Ficar sete meses confinada dentro de casa, ainda mais longe da família e do país de origem, não foi nada fácil. Agora é curtir."

*Estagiária do R7 sob supervisão de Pablo Marques

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