Após tsunami, empresas japonesas geram sua própria eletricidade
Com crise nuclear que o país enfrente, energia a gás começa a se espalhar por fábricas
Internacional|Do R7
No nordeste do Japão, devastado pelo terremoto seguido de tsunami em março de 2011, uma fábrica da Toyota gera sua própria eletricidade, ainda com a lembrança fresca do grande apagão que paralisou a região.
A usina de montagem que esta empresa tem em Ohira, pequena cidade do município de Miyagi, onde 1.200 operários montam anualmente 120 mil veículos Corolla e Yaris, conta com um sistema de eletricidade gerada pela própria fábrica.
À primeira vista é difícil imaginar que estas instalações foram duramente castigadas, pouco depois de sua inauguração, pelo grande terremoto de magnitude 9 que abalou todo o município.
Só uma pesada porta de hangar entreaberta dá testemunho de que, naquele 11 de março, toda a fábrica ficou paralisada. Primeiro pelas medidas de precaução, depois porque a corrente elétrica ficou cortada durante uma semana, tanto na fábrica quanto no resto da localidade.
Uma vez passada a crise, "decidimos produzir nossa própria eletricidade", conta Toshiyuki Nonaka, encarregado da fábrica.
Atualmente, cerca de 70% da eletricidade necessária para as instalações é fornecida por uma pequena usina a gás de 7.800 kw.
E nada — ou quase nada — se perde: a central é equipada com um sistema que usa o calor produzido para secar a pintura das carrocerias e a água em ebulição dos radiadores serve para aquecer uma estufa onde crescem pimentas exploradas pela empresa Toyota Tsusho.
O resultado é uma fábrica que pode continuar sua produção, embora a corrente externa fique interrompida por um dos tremores de terra que regularmente sacodem a região.
"Geramos eletricidade de emergência para nós, mas também para as empresas dos arredores e para o povo", explica Makoto Sogo, um encarregado da empresa.
Esta produção privada faz parte de uma "comunidade energética" que está conectada à companhia elétrica regional, a Tohoku Electric Power, à qual alivia de parte da carga da rede elétrica e à qual poderia substituir parcialmente caso ocorra alguma interrupção.
Masahiro Atobe, prefeito de Ohira, tem motivos para comemorar.
— Em 2011, a vida diária parou aqui. Queremos evitar a todo custo que esta situação se repita.
"Depois de 2011, todo mundo se deu conta da necessidade de gerir sua própria energia em certa medida, pois até então, o país dependia totalmente das [grandes] companhias", destacou Takanobu Aikawa, do Departamento de Energia da Mitsubishi UFJ Research and Consulting.
Gás
Os concorrentes da Toyota também apontam nesta direção. A Mitsubishi Motors equipou no ano passado a fábrica de motores que tem em Kioto com uma miniusina de gás, a pedido de uma companhia regional de eletricidade.
A montadora, inaugurada em julho passado pela Honda em Yorii, é coberta por painéis solares com capacidade total de 2.600 kw e dispõe também de uma usina a gás.
Outra solução que parece ir de vento em popa para reduzir o risco de corte de eletricidade é diversificar os fornecedores, algo que é possível desde que pôs fim ao monopólio da produção energética desde o final dos anos 1990.
A Nissan começou este ano a se beneficiar desta possibilidade em quatro de suas fábricas, entre elas a de Tóquio.
"Infelizmente, não existem estatísticas sobre esta produção 'fora das companhias oficiais'", lamentou Aikawa.
— Mas as mudanças que começaram a acontecer não vão parar e eu prevejo que a situação energética do Japão terá mudado radicalmente daqui a dez anos.
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