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Brasil é um alvo fácil na guerra cibernética, dizem especialistas

Denúncias recentes de espionagem expõem vulnerabilidade na defesa a ataques virtuais

Internacional|Amanda Mont’Alvão Veloso, do R7

Em discurso na ONU, em Nova York, Dilma alertou para os perigos da internet como um campo de batalha
Em discurso na ONU, em Nova York, Dilma alertou para os perigos da internet como um campo de batalha Em discurso na ONU, em Nova York, Dilma alertou para os perigos da internet como um campo de batalha

As denúncias de espionagem contra autoridades e empresas brasileiras causaram mal-estar nas relações entre Estados Unidos e Brasil, por um lado, mas também escancaram um problema de segurança nacional: o País é um alvo fácil na guerra cibernética.

Segundo especialistas entrevistados pelo R7, os documentos revelados pelo ex-analista da NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA) Edward Snowden reforçam que o Brasil é vulnerável a ataques virtuais.

Ser alvejado em um confronto como esse significa ter sistemas informatizados derrubados. Isso pode causar a paralisação de sistemas bancários, do abastecimento de água, do saneamento básico, de comunicação, de transporte e também apagões de eletricidade, como aponta o consultor em segurança digital Alan Sanches, que é ex-membro do grupo de hackitivismo

Anonymous.

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— O Brasil possui profissionais qualificados para uma possível guerra cibernética, mas a infraestrutura do País, não. Afinal, se hackers brasileiros conseguem tirar [do ar] sites de bancos durante horas, um ataque de um país com nível tecnológico maior seria devastador.

Guerra cibernética é capaz de causar estragos econômicos

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Brasil está sendo invadido pelos Estados Unidos, diz Assange

Para o diretor do Cetris (Centro de Tecnologia, Relações Internacionais e Segurança) e especialista em segurança internacional Salvador Raza, a ideia de que os EUA invadiram o computador da presidente Dilma Rousseff é lamentável por várias razões, e uma delas é por mostrar um ponto fraco do Brasil.

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— A espionagem mostra o grau de vulnerabilidade do País, ou seja, é muito mais um sintoma de que é vulnerável do que uma evidência de prática da espionagem. A invasão mostra o grau de abandono e de desleixo em que a segurança cibernética foi colocada. Mostra o despreparo para entender o ambiente moderno e também para gerenciar um governo dentro de um ambiente muito mais sofisticado. 

Com as defesas enfraquecidas ou praticamente inexistentes, um temor faz sentido: o de uma invasão cibernética que desestabilize o Brasil, acrescenta Raza.

— No limite, toda infraestrutura crítica do País está vulnerável: represas, sistemas de telecomunicações e aeroportos. Se houver um ataque maciço, intencional, em cinco dias o País “para”.

Males da dependência

O consultor Alan Sanches, que montou uma empresa de segurança digital depois que saiu do grupo hacker Anonymous, ressalta a grande dependência que o Brasil tem dos EUA quando se trata de internet e sistemas informatizados.

— Todo o nosso fluxo de internet passa pelos EUA. Assim, ficamos reféns das tecnologias deles e, principalmente, da infraestrutura da web. O principal sistema operacional utilizado aqui pertence a eles [Windows], assim como os antivírus e as entidades certificadoras. Sendo assim, não temos a mínima chance se um dia existir uma guerra cibernética contra o EUA ou seus aliados.

Coordenador de pós-graduação e professor no curso de relações internacionais das Faculdades Rio Branco, Gunther Rudzit lembra que a infraestrutura de comunicação usada no Brasil também é importada.

— Claro que isso deixa o País mais suscetível a sofrer um ataque cibernético. É tão arriscado quanto o fato de nossos governantes continuarem usando o Gmail e o SMS. Só isso já mostra o quanto estamos vulneráveis à espionagem.

A presidente da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Espionagem, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), em depoimento a uma audiência pública realizada no dia 22 de outubro, apontou outro gargalo, que é a ausência de mecanismos brasileiros de segurança.

— O Brasil é vulnerável pela falta de sistemas próprios de segurança; por não desenvolvermos fiscalização de qualquer sistema, e porque empresas públicas importantes não utilizam tecnologia nacional.

No mesmo dia, o especialista em segurança digital Paulo Sergio Pagliusi avaliou que, em uma escala de 0 a 10, a defesa on-line do Brasil tem nota 4, o que demanda o investimento no desenvolvimento de satélites e de cabos submarinos. Segundo ele, 90% das informações brasileiras passam pelo território norte-americano.

Para contornar essas brechas de segurança, o governo pretende anunciar investimentos para a área em breve, segundo o representante do Comitê Gestor da Internet no Brasil, ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, Rafael Moreira.

Em entrevista à BBC Brasil, o general José Carlos dos Santos, chefe do CDCiber (Centro de Defesa Cibernética do Exército Brasileiro), um dos dois principais órgãos responsáveis por garantir a segurança das redes no País, disse que o Brasil precisa se preparar para a possibilidade de uma 'guerra em rede'.

Campo de batalha

Em seu discurso na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro, a presidente Dilma defendeu uma regulamentação das novas tecnologias para que a internet não se transforme em um campo de batalha.

Na avaliação do sociólogo e pesquisador de redes digitais Sérgio Amadeo, o discurso duro da presidente “defendeu uma posição que todos os defensores da democracia e dos direitos humanos deveriam defender”.

— Não podemos aceitar que um Estado passe a organizar esquemas massivos e ilegais de vigilância. Isso tem que gerar um novo acordo.

Segundo Amadeo, a maior parte da internet não é voltada para a espionagem, uma vez que a usamos para comunicação, comércio eletrônico, entretenimento e práticas educativas. No entanto, um grupo pequeno de organizadores da guerra cibernética estaria transformando a internet em um campo de batalha.

Para evitar esse confronto, o governo Dilma, além de prometer investimentos, quer levar a disputa às Nações Unidas.

O primeiro passo dessa iniciativa ocorreu na última sexta-feira (1º), quando Brasil e Alemanha apresentaram à ONU, em Nova York, uma proposta de resolução contra invasão de privacidade na rede. Evocando a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o texto afirma que as pessoas devem ter garantidos, no ambiente digital, os mesmos direitos que têm fora dele.

Já no plano interno, o Marco Civil da Internet — espécie de constituição da rede e que estava parado há dois anos no Congresso — voltou a ganhar destaque e pode ser votado em breve na Câmara, mas sua aprovação ainda esbarra na falta de consenso entre os legisladores brasileiros.

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