Caminhões-bomba deixam 22 mortos em cidade síria dominada pelos curdos

Tel Tamer é controlada pela milícia curda YPG, que combate o Estado Islâmico

11/12/2015 - 08h19 (Atualizado em 24/02/2024 - 07h07)

Pelo menos 22 pessoas foram mortas por três caminhões-bomba em uma cidade controlada por curdos na Síria, informou o Observatório Sírio para os Direitos Humanos nesta sexta-feira (11).

De acordo com o Observatório, é provável que o número de mortos em decorrência dos ataques de quinta-feira em Tel Tamer aumente.

A cidade na província de Hasaska é controlada pela milícia curda YPG, que está em confronto contra o Estado Islâmico com apoio de ataques aéreos liderados pelos Estados Unidos.

O Observatório disse que uma das bombas explodiu próximo a um centro de saúde, e outra perto de um mercado.

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O grupo monitor disse que houve "informação confirmada" sobre mortes entre forças de seguranças internas curdas, conhecidas como Asayish. Autoridades das Asayish não estavam disponíveis de imediato para comentários.

A milícia YPG se tornou um dos parceiros mais ativos em solo sírio para a aliança liderada pelos EUA. Em outubro, se tornou parte de uma nova aliança apoiada pelos EUA chamada Forças Democráticas da Síria.

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Em meio a uma violenta guerra civil que já deixou mais de
250 mil mortos e a atuação do grupo terrorista EI (Estado Islâmico), a população síria vive sob ameaça constante de morte. Nos territórios ocupados pelo EI, a preocupação é ainda maior. Além dos assassinatos, há milhares de casos de tortura, estupro e sequestro.

Com o objetivo de frear a expansão dos terroristas, diversos grupos armados vêm combatendo os jihadistas na região. Um dos que mais se destacam nessa guerra são as soldadas do YPJ (Unidades de Proteção às Mulheres), batalhão composto apenas por mulheres que atuam na região do Curdistão sírio, na fronteira do país com a Turquia

Com o desgaste do governo de Bashar al Assad, os curdos que habitam no norte da Síria conquistaram sua independência política de fato em 2012. A região conhecida como Rojava fica na divisa com o território controlado pelo Estado Islâmico

Os curdos são um grupo étnico que vive, em grande parte, nas montanhas do sul da Turquia, norte da Síria, norte do Iraque e oeste do Irã. Acredita-se que eles habitem na região há centenas de anos

O território conhecido como Curdistão cobre uma extensão de 450 mil km². Até 1921, a região fazia parte do Império Otomano

No entanto, com a derrota dos otomanos na 1ª Guerra Mundial, os territórios do antigo califado foram divididos arbitrariamente pelas potências vencedoras

Deste modo, França e Inglaterra traçaram as fronteiras do
Oriente Médio, que se mantêm praticamente iguais até hoje. Nesse processo, os
curdos foram ignorados, ficando sem um Estado próprio e tendo sua população
espalhada pelos recém-criados Iraque, Síria, Turquia e Irã

Na Turquia, onde representam uma parcela expressiva da
população do país, os curdos vêm sendo oprimidos há décadas. Até 1991, o
governo proibia o uso de sua língua tradicional, e manifestações culturais
foram historicamente reprimidas na região

Cofundadora do Comitê Popular em Solidariedade à Resistência
do Povo Curdo em São Paulo, Anelise Csapo afirma que a resistência dos
curdos em Rojava é fundamental para frear o avanço do Estado Islâmico. No
entanto, ela acusa o governo turco de apoiar
os terroristas com o objetivo de evitar que os curdos se defendam

— O Estado Turco promove um massacre contra os curdos. Rojava
é a área mais conflituosa do norte da Síria, e os turcos tentam fazer um
embargo contra eles, tanto de ajuda humanitária, quanto de bens de consumo

Nesse contexto, a atuação das mulheres do YPJ no front de
batalha ganhou destaque como expressão de resistência. A presença delas no
campo de batalha também desagrada os extremistas do Estado Islâmico, que
acreditam que morrer nas mãos de uma mulher significa ter sua passagem para o céu negada

O clérigo egípcio Abu Osama al-Masri, 42, foi identificado pelos chefes de inteligência ocidentais como o principal suspeito por trás do ataque ao vôo 9268 da Metrojet , que matou 224 pessoas

Professor de relações internacionais da ESPM SUL, Bruno Rocha
lembra que a criação de um batalhão composto apenas de mulheres segue as ideias
do Confederalismo Democrático, conjunto de ideias adotadas pelo fundador do PKK
(Partido dos Trabalhadores do Curdistão), Abdullah Öcalan

Rocha explica que o conceito tem como uma de suas principais premissas a ideia de que a estrutura do autoritarismo no Oriente Médio está baseada no poder absoluto do homem sobre a mulher

— Eles querem transformar as relações sociais. Daí surgiu a
compreensão de que, além do protagonismo e da autodefesa, deveriam ser formadas
brigadas exclusivamente formadas pelo sexo feminino

— Nos territórios controlados pelo PKK, estão proibidos os
casamentos forçados, os casamentos com crianças, os crimes de honra e o estupro.
A regra que eles colocam é bastante rígida, o que ajuda a avançar nas relações
sociais

Além de atuarem no front de batalha, as mulheres do Curdistão também atuam ativamente nas decisões políticas de suas comunidades. Elas têm representação direta nas assembleias gerais, e a administração dos conselhos locais deve ser compartilhada, obrigatoriamente, por um homem e uma mulher

No entanto, para Rocha, apesar da atuação e
representatividade das mulheres na política e no próprio front de batalha,
ainda existe resistência à autonomia delas entre parte dos curdos

— Existe resistência? Claro que existe. E ela também se dá
porque a maioria das famílias curdas são sunitas e conservadoras. Mas há uma
negociação com as famílias. Existe um voto de castidade, em que os membros das Forças Armadas se comprometem a não ter relação com ninguém. Eles são
militantes em tempo integral, e com isso conseguem ter uma conversa bastante produtiva
com os conservadores

Rocha acredita que fatores como as diferentes crenças do
povo curdo, que inclui seguidores de diversas religiões, como cristãos,
muçulmanos, judeus e yazidis, é um fator que ajudou as ideias da autonomia das
mulheres a serem aceitas com mais facilidade na região.

Ele ainda afirma que,
apesar da repressão aos curdos, o fato de a Turquia ser um Estado laico com
instituições seculares fez com que o Confederalismo Democrático fosse recebido
com menos resistência pela população da região

Já Anelise afirma que a característica predominante entre
os curdos é a participação política, e não a religião.

— A relação com as mulheres já existia há muito tempo. No Curdistão, é obrigatório o
estudo do feminismo nas escolas, mas o conhecimento que eles têm do tema dá baile em
muitas mulheres ocidentais

Na linha de frente contra o Estado Islâmico e também na política, as mulheres do Curdistão podem ser facilmente consideradas expressão máxima de um lema bastante popular entre os curdos: Berxwedan Jiyan ("A Resistência é Vida")

*Texto de Luis Felipe Jourdain Segura, estagiário do R7

Em meio a uma violenta guerra civil que já deixou mais de 250 mil mortos e a atuação do grupo terrorista EI (Estado Islâmico), a população síria vive sob ameaça constante de morte. Nos territórios ocupados pelo EI, a preocupação é ainda maior. Além dos assassinatos, há milhares de casos de tortura, estupro e sequestro. Com o objetivo de frear a expansão dos terroristas, diversos grupos armados vêm combatendo os jihadistas na região. Um dos que mais se destacam nessa guerra são as soldadas do YPJ (Unidades de Proteção às Mulheres), batalhão composto apenas por mulheres que atuam na região do Curdistão sírio, na fronteira do país com a Turquia