'Cidade ideal' deveria ser tão saudável quanto verde
Sustentabilidade, investimento em uma economia do cuidado e busca por equilíbrio demográfico são desafios da urbanização no século XXI
Internacional|Da EFE, com R7
Na cidade ideal, os moradores resolvem suas necessidades com viagens de 15 ou 20 minutos. A pé, de bicicleta, em veículos elétricos compartilhados ou transporte público sustentável.
Essa é a "cidade em 15 minutos", inspirada nas "cidades vivas" da ativista Jane Jacobs e agora recuperada por Paris, ou no design de "superblocos" que Barcelona experimenta, com ruas de pedestres e mais espaços públicos verdes.
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Também o modelo "8-80", projetado para facilitar a vida de cidadãos entre 8 e 80 anos. Ou a "Cidade Fab" e seus bairros auto-suficientes organizados para aliviar desequilíbrios sociais. Embora apresentadas como inovações na paisagem pós-cobiçada, a maioria é inspirada em velhos modelos utópicos, das falanterias à Brasília sonhada por Oscar Niemeyer.
São, nas palavras de Stefano Boeri, um dos principais incentivadores dos jardins verticais, "cidades caleidoscópio". E eles são "verdes".
A economia de energia e o cuidado com o meio ambiente não podem ser adiados. Nove em cada dez pessoas no mundo respiram ar poluído e sete milhões morrem a cada ano devido à poluição. Mais de 90% das vítimas, alerta a OMS (Organização Mundial da Saúde), correspondem à Ásia e à África, seguidas pelo Mediterrâneo Europeu e pela América Latina.
Mobilidade e ar mais puro
As áreas urbanas geram cerca de 70% das emissões de gases de efeito estufa e são, ao mesmo tempo, especialmente vulneráveis ao impacto das mudanças climáticas.
A interrupção desse fenômeno é um desafio colossal que engloba o uso de energia renovável e a criação de novas infra-estruturas de mobilidade.
"Não fazendo estradas maiores ou estradas circulares, você obtém menos carros, pelo contrário, você tem mais", diz Juan Espadas, prefeito de Sevilha (Espanha) e presidente da Rede Espanhola de Cidades pelo Clima. Sua grande aposta é o transporte público.
Mas descongestionar os centros urbanos também nos obriga a repensar a atividade, as horas e a apostar no teletrabalho. Uma "revolução da mobilidade", diz Boeri, por sua "cidade verde".
Economia do cuidado
Saúde é uma prioridade. "Um problema de saúde pode afundar completamente a economia. Se nossos políticos não o percebem agora, não perceberam nada", diz Miguel Guimarães, presidente da Ordem dos Médicos Portuguesa. "Uma população mais saudável é uma população mais produtiva."
Infecções são a grande ameaça. "Eles serão nossos principais inimigos", diz Guimarães. E o esquema do mega-hospital não funciona mais.
A tendência, descreve o especialista português, são centros com menos leitos, com luz, espaços abertos e corredores. Tudo isso e "uma rede de terapia intensiva mais robusta".
O envelhecimento da população, mais pronunciado na Europa, também nos força a olhar para a "economia do cuidado".
Questões que vão muito além das ruas para pedestres ou da abertura de parques urbanos. Essas mudanças são tão profundas que não se formarão nas cidades até que muitos anos se passem, diz Óscar Chamat, chefe de Pesquisa da Metropolis, uma rede que abrange 130 cidades em todo o mundo. Não estamos enfrentando uma revolução, mas uma evolução.
Cidades menores e oportunidade para as áreas rurais
A transformação não pode esquecer o equilíbrio demográfico. Cidades pequenas e médias devem ser promovidas em paralelo, enfatiza Grimard. O crescimento urbano, segundo os projetos das Nações Unidas, virá precisamente de núcleos com menos de um milhão de habitantes.
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E o ambiente rural? "Ele tem uma oportunidade incrível", considera Elvis García. "Enquanto os governos puderem fornecer infraestrutura suficiente", começando pela Internet, ele esclarece.
"A urbanização tem aspectos mais positivos do que negativos. Também em uma crise como esta, como acesso a serviços de saúde, educação, água. É muito mais fácil obtê-los nas cidades do que nas pequenas", diz Grimard.
A chave, diz Stefano Boeri, é buscar "uma aliança entre pequenas cidades e grandes cidades". Aprecie a natureza sem perder as oportunidades que a cidade oferece.
Seu medo, ele admite, é que as "anti-cidades", selvas de cimento e shopping centers que proliferam em todo o mundo se replicem.
"Se não queremos voltar à antiguidade, precisamos voltar a habitar essas pequenas cidades onde se encontram cultura, história, arquitetura, arte", defende Boeri. "Não se trata de nostalgia, de romantismo".