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“Derretimento” do sistema político-partidário elevou líderes controversos como Hitler e Berlusconi, diz especialista

Brasil apareceu em último lugar em pesquisa divulgada pelo Financial Times sobre confiança nos políticos

Internacional|Do R7*

Brasileiro viu a confiança em seus representantes despencar
Brasileiro viu a confiança em seus representantes despencar Brasileiro viu a confiança em seus representantes despencar

Em meio a um grave escândalo de corrupção que afeta a principal empresa petroleira do País e um processo de crise política que culminou na queda da presidenta Dilma Rousseff, o brasileiro viu a confiança em seus representantes despencar. De acordo com o Índice Global de Competitividade 2016-17 publicado na semana passada pelo jornal Financial Times, o País aparece na última colocação no nível de confiança em seus políticos, dentre 138 países pesquisados — atrás de países como Zimbábue e Venezuela.

Para o cientista político e professor da UFABC, Vitor Marchetti, o Brasil passa por uma crise de representatividade que se expressa por meio da rejeição aos partidos. Com isso, diversos candidatos — como o deputado federal Jair Bolsonaro e o candidato a prefeito de São Paulo, João Dória — estão tentando “surfar nessa onda” e se colocar acima dos partidos. No entanto, Marchetti lembra que o “derretimento do sistema” político-partidário foi usado na história recente por políticos controversos para chegar ao poder.

— Você não vê na história projetos políticos que se sustentem sem uma estrutura partidária. Talvez o exemplo mais duradouro desse tipo de lógica tenha sido o nazismo. Na Itália, o que deu lugar ao derretimento do sistema foi espaço para a ascensão do Berlusconi.

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Apesar de a rejeição aos políticos ter se intensificado, Marchetti lembra que a crise de representatividade está presente também em outras democracias, como na Espanha e na Grécia, e já se manifestava com intensidade nas ruas do Brasil desde as passeatas de junho de 2013.

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— Era proibido fazer a discussão político-partidária, como se, ao fazer isso, você estivesse colocando elementos não éticos na discussão. Mas sem estrutura partidária você não consegue mediar os conflitos. Não conheço nenhuma teoria política no mundo que dispense os partidos.

Derretimento do sistema deu espaço para a ascensão de Silvio Berlusconi na Itália, segundo especialista
Derretimento do sistema deu espaço para a ascensão de Silvio Berlusconi na Itália, segundo especialista Derretimento do sistema deu espaço para a ascensão de Silvio Berlusconi na Itália, segundo especialista

Economia

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O Índice Global de Competitividade também analisou aspectos econômicos do Brasil. No relatório referente ao biênio 2016-2017, o Brasil caiu seis posições no ranking geral, ocupando a 81º colocação. Em 2012, o País chegou a ficar em 48º.

Doutora em Economia do Desenvolvimento pelo IPE-FEA-USP, Fernanda Cardoso lembra que o índice leva em consideração a percepção dos executivos internacionais em relação ao País. Segundo ela, a crise econômica fortalecida pela crise política e social pela qual o Brasil passa desde 2013 fortalece a percepção de um ambiente de instabilidade.

— Pode ser que no próximo índice o Brasil caia ainda mais por conta da instabilidade que foi criada com a saída de um governo. Isso certamente ajudou para a perda da confiança.

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De acordo com Fernanda, os “abalos institucionais” sofridos pelo país nos últimos anos criaram uma dúvida com relação à democracia e as instituições brasileiras — o que faz com que se crie um ambiente onde “quem quer investir fica com o pé atrás”.

— Porque as instituições são importantes? Porque elas definem a regra do jogo. Quando as regras são bem estabelecidas, há uma tendência menor que os jogadores tenham um comportamento oportunista. Você não vai mudar a regra com o jogo andando.

Mercado

Dentre os aspectos negativos relacionados à economia brasileira destacados pelo Índice, se destacam o baixo incentivo à inovação — o País ficou na 100ª posição no quesito, dentre as 138 nações avaliadas —, eficiência do mercado de trabalho (117º), qualidade das suas instituições (120º), ambiente macroeconômico (126º), eficiência do seu mercado de bens (128º) e incentivos para o investimento.

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Um dos motivos para a falta de investimento no Brasil seria, de acordo com o Financial Times, o nosso sistema tributário. Para Fernanda, a tributação nacional tende a taxar proporcionalmente mais os pobres do que os ricos — o que, do ponto de vista do empresário, é negativo, porque tende a impor “um gasto em cascata”, tornando a produção e o produto mais caros, o que prejudica a competitividade internacional dos nossos produtos.

— Fato é que taxar mais a renda e a riqueza, do ponto de vista do sistema tributário, é melhor, porque ai você vai fazer com que ele seja mais progressivo, produzindo uma distribuição melhor.

* Por Luis Felipe Segura

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