"Ele foi usado por uma pessoa má", diz mãe de jovem preso na Tailândia

Foi por volta das 9h da manhã do dia 11 de setembro que a aposentada Isolete Pires do Nascimento, de 59 anos, recebeu as últimas notícias do seu filho. Pelo aplicativo de mensagens, a mãe ficou sabendo que o jovem Paulo Henrique Pires do Nascimento, de 27 anos, tinha sido capturado no dia 6 (quarta-feira) pela polícia tailandesa quando desembarcava em Bangkok com 1,3kg de cocaína no estômago. Desde então, Isolete somente recebe informações do familiar por e-mails enviados pelo consulado brasileiro na Tailândia. Ainda atordoada pelo impacto da prisão, a mãe desamparada tenta entender o que aconteceu com o filho do outro lado do mundo, há mais de 16 mil km de distância de casa. 

— Foi a minha filha que mostrou um áudio porque ele não teve coragem de mandar para mim. Foi ela que me avisou. Eu estou sofrendo demais porque eu tenho muito amor pelo meu filho. Ele é a pessoa que eu mais amo no mundo. Abaixo de Deus, eu amo as minhas duas filhas e o meu filho. O amor que eu tenho pelo meu filho é muito grande.

Conforme explica a mãe de Paulo Henrique, ele saiu de casa para ir trabalhar em um garimpo no Suriname, uma atividade de que ele já tinha feito três vezes para ajudar a aumentar a renda da família.

— Eu não sabia de outra viagem que ele fazia. Eu acho que ele foi usado por uma pessoa muito má, que não tem coração. Por que alguém faria isso com uma pessoa de 27 anos, com uma mãe como eu? A nossa casa é muito humilde. Ele foi usado por uma pessoa que não tem amor.

Segundo o chefe da divisão de narcóticos da polícia de Bangkok, Sommai Kongwisaisuk, o jovem fez o papel de "mula", quando uma pessoa é utilizada como meio de transporte de drogas para fora do país. Após desembarcar do voo ET618, da Ethiopian Airlines, Paulo Henrique foi detido pela polícia e, após passar pelo aparelho de Raio-X, as autoridades constataram que ele tinha dezenas de cápsulas de cocaína no estômago.

Assim como aconteceu com Paulo Henrique, outros 732 brasileiros foram presos por tráfico de drogas em 2016 [veja o infográfico no final da matéria]. De acordo com dados do Ministério de Relações Exteriores, 76 pessoas entraram para essa estatística de prisões na Ásia. 

Para a irmã do jovem, que preferiu não ser identificada pela reportagem, Paulo Henrique era uma pessoa preocupada com a família e fazia várias viagens para ganhar dinheiro e aumentar a renda da família.

— Eu não sei dizer o que o motivou a fazer isso, mas o que eu digo é que meu irmão não é um bandido, ele não é uma pessoa de coração ruim. Ele é um menino que pode ser influenciado com facilidade. Ele é uma pessoa boba, um menino ingênuo, mas não é uma pessoa má. Eu creio que ele foi induzido a chegar nessa situação. Por essa falta de dinheiro, as pessoas chegaram até ele e o convenceram a fazer isso.

Segundo a irmã de Paulo Henrique, as únicas informações que a família teve depois que ela perdeu contato direto com ele foram somente três e-mails enviados pelo consulado do Brasil na Tailândia.

— Mesmo assim eles são muito vagos, tem muitas informações imprecisas. Eles disseram que ele está em uma central onde todas as pessoas que estão lá são acusadas do mesmo crime, que é o tráfico de drogas.

Em dos comunicados que a embaixada fez à família de Paulo Henrique, as autoridades disseram que se os parentes desejassem que o jovem tivesse um advogado, todos os honorários deveriam ser pagos pela própria família.

— A gente sofre mais porque sabe as condições que é o país que ele está. É um país bem pobre que tem uma condição econômica não tão boa. As prisões de lá, pelo que eu tenho observado na internet, não são prisões comuns. São prisões atípicas, que têm um regime carcerário muito severo. Isso faz com que a gente sofra ainda mais. A gente não sabe como ele está, se ele está se alimentando e tem uma grande quantidade de pessoas nas celas.

O R7 entrou em contato com o Ministério de Relações Exteriores na semana passada e a pasta confirmou que, além de Paulo Henrique, outro brasileiro que não teve a identidade revelada também foi preso por tráfico de drogas na Tailândia.

De acordo com as investigações, o traficante era o receptor da droga e fez uma ligação para combinar o local onde ele se encontraria com Paulo Henrique no dia 8 (sexta-feira). As autoridades prenderam o criminoso em flagrante em um hotel.

Até o fim do ano passado, o número total de brasileiros presos no exterior era de 2.999, um aumento de 9,8% em relação ao número de 2.732 de 2015. De todos eles, 732 (24,4%) foram detidos por posse de drogas e narcotráfico.

*Caíque Alencar, do R7