Ao longo dos anos, a população israelense foi se habituando a encontrar alternativas para se proteger de ataques, orquestrados fora do país. Nas décadas de 60 e 70, o bunker se tornou um símbolo de abrigo que deixava intrigados turistas procedentes de um mundo distante dessa condição.
Eles ficavam embasbacados com a maneira serena com a qual os israelenses encaravam essa situação. Em construções subterrâneas, muitas delas em kibutzim (comunidades igualitárias), poderia-se passar dias ouvindo música, jogando xadrez, deitando em camas de quartos até que confortáveis, aproximando famílias, enquanto bombas estouravam noite adentro.
Nesta época também eram comuns os turistas ouvirem histórias sobre esfaqueamentos no shuk, mercado árabe localizado na Cidade Velha de Jerusalém, muitas delas lendas a inflamarem frases, que se tornaram recorrentes, com uma dose de preconceito: "nunca ande pelo skuk depois das três da tarde, quando o dia útil se aproxima do fim". Ou: "duvido que você tenha coragem de fazer a barba em um barbeiro árabe do shuk".
Enquanto as guerras vinham lá das fronteiras, em lutas nas trincheiras, emboscadas e bombardeios, essa situação acabou se tornando "assimilável". A cada ameaça de bomba vinda do alto, uma sirene alucinante cortava o silêncio e fazia todos romperem sua rotina de forma abrupta. Já a agitação da Cidade Velha, por precaução, se desfazia ao entardecer e, entre um beco e outro, com alguma conversa entre moradores, Jerusalém ouvia apenas os ecos da história vararem a madrugada.
Até mesmo o início das intifadas, revoltas da população dos territórios ocupados, a partir de 1987, teve um caráter mais pontual. Os atentados em geral eram cometidos já em território israelense, após serem planejados fora do país, mas tinham como autores militantes de grupos terroristas. Isso se estendeu até a primeira década dos anos 2000, quando Israel construiu um polêmico muro na fronteira com a Cisjordânia e reduziu drasticamente este tipo de ação.
Bloqueio em Jerusalém
O que tem acontecido ultimamente, porém, pegou os israelenses desprevenidos, por eles terem de lidar, pela primeira vez, com uma realidade na qual os atentados são realizados por pessoas que moram em Israel, revoltadas com a política e a sociedade locais. O governo ainda busca alternativas para refrear este novo método de ataque.Enquanto não encontra, decidiu estabelecer bloqueio a alguns bairros árabes de Jerusalém, como o Ras al-Amud.
O cônsul-geral de Israel em São Paulo e na região Sul do Brasil, Yoel Barnea, contou ao R7 que o país vive um momento diferente e que até mesmo a conhecida serenidade israelense está um pouco abalada.
— O momento é diferente, a população está com medo. Israel enfrenta há anos situações de guerra mas agora está mais complicado, porque os atentados são cometidos aleatoriamente. São atos individuais, feitos por jovens. As pessoas andam na rua com receio de quem passa ao lado. Uma mão no bolso já é motivo de receio. Fica um clima de desconfiança e é uma situação difícil de lidar.
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Barnea afirmou ainda que o cerco da polícia e do exército a bairros árabes da capital israelense é uma solução dolorosa mas necessária como primeira medida.
— Jerusalém é uma cidade única, esta não é uma boa solução. Mas o momento exige isso, apesar de que não se pode deixar de lado o objetivo de manter a cidade unida, sem fragmentos, como deve ser sempre.
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