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Hiroshima ficou carbonizada, diz sobrevivente da bomba 68 anos depois

Ex-policial, que hoje mora no Brasil, ficou três dias sem água e comida para fugir da radiação

Internacional|Do R7*

Morita mostra foto dos tempos em que era um policial
Morita mostra foto dos tempos em que era um policial

Na manhã de 6 de agosto de 1945, Takashi Morita era um jovem de 21 anos que marchava pelas ruas de Hiroshima, no Japão, com outros 12 companheiros da Polícia Militar. Naquele “dia bonito”, como ele mesmo descreve, a história do mundo e a sua própria vida mudariam para sempre por conta de um “clarão”: era a bomba atômica.

Crianças chorando e gritando pelas mães, pessoas ensanguentadas e com as roupas esfarrapadas, homens e mulheres andando com pedaços de pele pendurados pelo corpo. Esse era o cenário de horror que Morita encontrava nas ruas de Hiroshima, há exatos 68 anos, após o “clarão” cair sobre sua cidade.

— Eu não sabia o que tinha acontecido, ninguém sabia. Estava andando na rua, era um dia bonito, tinha crianças na rua. De repente, carbonizaram a cidade inteira.

Em entrevista ao R7, Morita, hoje aos 89 anos, relata como conseguiu sobreviver ao ataque nuclear. Dos 350 mil habitantes da cidade, 140 mil morreram por conta da bomba — e milhares de outras pessoas morreriam ao longo das décadas em razão da radiação.


— As pessoas andavam e pediam água. Quem bebia, morria logo em seguida: era a radiação.

Veja em imagens o ataque a Hiroshima


Moradores esquecem a bomba e reconstroem a cidade

Morador de São Paulo há mais de 50 anos, diz que conseguiu sobreviver por dois motivos. Primeiro, por estar a uma distância relativa do epicentro da bomba, cerca de 1,3 km — diferente dele, seus 12 companheiros não tiveram a mesma sorte e morreram.


Além disso, Morita ficou quase três dias inteiros sem beber água nem ingerir alimentos, o que foi decisivo para que a radiação não invadisse seu corpo.

— Aquele dia foi um inferno. Cheiro de cidade destruída, pessoas mortas, tudo queimado. Isso eu não esqueço.

Com queimaduras nas costas e na cabeça, que deixaram marcas visíveis até hoje, Morita aceitou ser hospitalizado no terceiro dia após o ataque, depois de muito esforço na esperança de cumprir seu papel como policial e ajudar outras vítimas nas ruas de Hiroshima.

— As pessoas estavam queimadas, completamente destruídas. O cabelo caía, os dentes caíam, a gengiva sangrava. Era um horror.

Vida nova

A decisão de vir ao Brasil veio alguns anos depois, após amigos em São Paulo lhe descreverem como o país era gostoso, “livre de desastres naturais, mosquitos e ladrões”.

— Na época, a vida no Japão estava muito difícil, o dinheiro estava acabando. Por isso vim para o Brasil. E estou aqui até hoje. Para mim é o paraíso.

Morita, sua esposa e os dois filhos desembarcaram no porto de Santos em 1956. Vivendo na capital paulista desde então, ele trabalhou como relojoeiro por muitos anos. Hoje, mantém uma loja de produtos japoneses e um restaurante no bairro do Jabaquara, zona sul da cidade. Orgulha-se de trabalhar muito e de ter criado os filhos aqui.

— Trabalho 365 dias por ano. Não tem sábado, não tem domingo, não tem feriado, a loja está sempre aberta. Mas uma vez por ano eu dou um jeitinho e viajo até Hiroshima. A cidade está muito bonita, muito moderna.

Em 1984, ajudou a fundar a Associação Hibakusha Brasil Pela Paz, que reúne sobreviventes da bomba atômica com o intuito de ajuda mútua, além de militância pelo recebimento de ajuda do governo japonês.

A associação conta atualmente com 112 membros, entre eles Kunihiko Bonkohara, grande amigo de Morita.

O senhor de 73 anos tinha apenas cinco quando a cidade foi atacada. Seu pai sofreu graves ferimentos para proteger ele e o irmão dentro de casa. Já a mãe e a irmã, que estavam na rua no momento da explosão, não resistiram.

Juntos, os dois já passaram por países como Cingapura, Estados Unidos e Japão, onde participam de palestras e celebrações pela paz.

Quem olha para Morita, não imagina quantas vezes este simpático senhor já esteve bem próximo de morrer: foi considerado morto ao nascer, escapou de duas bombas durante a Segunda Guerra Mundial — uma em Tóquio, no dia 1º de agosto de 1945, e outra em Hiroshima —, além de ter sobrevivido a um infarto em 2010.

Hoje, esbanja saúde, otimismo e o desejo de que as guerras parem de assombrar o mundo.

— Por tudo isso [sei] que não precisamos mais de guerra. Precisamos de paz, eu quero a paz.

* Ana Carolina Neira, estagiária do R7

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