Mais do que fazer discurso, Brasil e Argentina precisam consolidar na prática o Mercosul, diz consultor
Diretor-executivo argentino, de instituição renomada, defende equilíbrio entre as economias
Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7
O fortalecimento do comércio entre Brasil e Argentina no Mercosul é visto como fundamental pelos especialistas em economia. No entanto, é consenso que a maneira de chegar a este objetivo não deve apenas ficar nos discursos políticos ou em acordos que não definam estratégias macroeconômicas.
Nesta linha de pensamento, representativa para a maioria dos economistas, Eduardo Blasco, diretor-executivo da Maxinver, uma das principais consultorias da Argentina, acredita que a reunião entre os presidentes Michel Temer, do Brasil, e Maurício Macri, da Argentina, ainda não significa um passo definitivo.
O especialista argentino acredita que tudo não passará de discurso político caso os governos mantenham o velho hábito de não buscarem na prática um ajuste de ambas as economias, para que haja realmente o livre-comércio.
— O Mercosul é um tema já discutido há muito tempo e, para o seu sucesso pleno, é necessário que haja uma vocação realmente estrutural de se fazer um mercado comum sério e não colocar travas de nenhum tipo. Nem cambial, nem aduaneira. O Mercosul faz parte de um ciclo e necessita da consolidação.
Mais do que os acordos assinados nesta terça-feira (7), que para Blasco são um importante passo, o Mercosul necessita que tanto o Brasil quanto a Argentina alcancem uma estabilidade que possibilite um crescimento contínuo. Sem isso, e sem a sintonia das especificidades de cada uma das economias o Mercosul pode se manter apenas de maneira parcial.
— Para a Argentina, o Brasil é chave, trata-se de uma economia de 4 a 5 vezes maior e é fundamental que se tenha acesso a ela. Quando Brasil não cresce é complicado. Para a Argentina, é muito difícil competir com o Brasil, onde a inflação é mais controlada, o mercado financeiro é mais desenvolvido, com créditos em prazos mais longos e taxas mais baixas. Este tipo de diferença precisa ser levada em conta. A Argentina, por exemplo, tem de tratar de buscar formas de melhorar a situação para suas empresas, a fim de que elas tenham crédito a longo prazo, senão nunca se chega a um conceito de mercado comum.
Blasco quer dizer, com isso, que os desequilíbrios não resultam apenas do chamado dumping, quando setores baixam os preços de produtos para derrotar os concorrentes, mas sim de uma consequência de contextos econômicos que precisam ser sintonizados em um único mercado.
Ele citou como exemplo o caso da polêmica relativa aos sapatos, nos anos 2000, quando, com preços mais competitivos, o produto brasileiro ameaçou tomar conta do mercado argentino, o que arrasaria os produtores locais. A situação foi normalizada após um acordo. Segundo ele, este tipo de caso pontual não colabora para um mercado integrado.
— Quando baixamos ao nível de ver detalhe por detalhe, setor por setor é porque não há uma convicção de fundo. Quando isso ocorre, deveria ser aceito como algo do jogo, buscar correções necessárias, mas não ficar limitando, nem cobrando do outro país algo que é resultado de uma situação de mercado.
Reunião e comércio
Na reunião entre Macri e Temer, ambos falaram em medidas para eliminar obstáculos do comércio entre os países. A relação com a Europa e a América do Sul também esteve em pauta. Eles assinaram, ainda, uma carta a ser enviada ao presidente do BID (Barco Interamericano de Desenvolvimento), solicitando estudos para a formação de uma agência binacional sobre normas técnicas e sanitárias.
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Também foram assinados acordos nas áreas social, diplomática e econômica, com um complemento a acordo que permite entrada de ambulâncias de ambos os países nas fronteiras, para casos de emergência. Outro acordo assinado, de cooperação entre a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) e a Agência Argentina de Investimentos e Comércio Internacional, possibilita intercâmbio em pesquisas e missões comerciais.
Em 2015, segundo informações do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços do Brasil, o comércio entre o Brasil e a Argentina chegou a US$ 23 bilhões (exportações de US$ 12,8 bilhões e importações de US$ 10,2 bilhões). Houve com isso um superávit para o Brasil de US$ 2,5 bilhões. A partir dos últimos três meses, após um período de queda, as negociações comerciais entre os países retomaram uma tendência de crescimento.
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