Médicos sem Fronteiras brasileiros voltam ao País depois de combater ebola na África
A organização mantém uma rotatividade grande de profissionais brasileiros em campo
Internacional|Do R7*
Um grupo de profissionais de saúde brasileiros da organização não governamental MSF (Médicos Sem Fronteiras) deve retornar ao Brasil nos próximos dias, depois de trabalhar no combate ao ebola nos países mais atingidos da África.
Como protocolo, a organização deve receber os profissionais na sede de MSF, no Rio de Janeiro, para seguirem um acompanhamento que já era acordado desde antes da viagem para readaptação e até mesmo proteção de cada um.
De acordo com a MSF, no caso de combate ao ebola, especificamente, os profissionais são observados por 21 dias, tempo limite para manifestação de qualquer sintoma da doença. Além disso, são acompanhados por psicólogos e podem encontrar familiares, que inclusive ajudam na regularização dos níveis de estresse aos quais são submetidos durante a atuação em campo.
Ao R7, a MSF disse que o acompanhamento na saúde mental é bastante frisado pela organização, já que a epidemia de ebola é uma das mais difíceis de lidar, principalmente por causa do estresse mental, causado pelas constantes mortes, medo de contaminação, distância da família e até insegurança dos profissionais.
Apesar do alto risco, algumas pessoas permanecem neutras ao contato com o ebola. O próprio organismo ou imunidade são fatores que neutralizam a ação do vírus. “O contato com um paciente confirmado não necessariamente vai fazer com que a pessoa tenha a doença”, ressalta a assessoria de imprensa de MSF.
Falta de dados e casos não registrados atrapalham luta contra o ebola
Se a pessoa apresentar algum tipo de sintoma da doença, é submetida ao procedimento já estabelecido para OMS (Organização Mundial de Saúde), mas até hoje não aconteceu nenhum caso, afirmou a assessoria. Além disso, alguns sintomas de ebola são semelhantes ao de outras doenças, então, a assistência aos profissionais é necessária.
Depois dos 21 dias e o atestado de que não há contaminação com o vírus do ebola, os profissionais de saúde devem continuar seus afazeres diários no Brasil.
Além disso, a organização mantém uma rotatividade de brasileiros no combate à epidemias e na atuação em outros 70 países que são acompanhados. Alguns dos profissionais que já retornaram são convidados a orientar novos candidatos antes do embarque na missão.
Em agosto, o médico brasileiro Paulo Reis retornou de uma missão de combate ao ebola em Serra Leoa, na África, onde estava em julho. Em entrevista a MSF, ele disse que quando chegou a Serra Leoa, o surto já tinha se espalhado. "O desafio era ter profissionais em número suficiente para atender todos os pacientes", lembra.
Quando questionado sobre os desgastes, Reis afirmou que é preciso estar atento a todos os detalhes, já que trabalha por muitas horas por dia. "Também é complicado do ponto de vista psicológico. Não é fácil assistir a tanta gente morrendo".
A MSF recusou o dinheiro doado pelo governo da Austrália e divulgou um comunicado oficial pedindo que os governos enviem apoio pessoal, afirmando que até mesmo uma dúzia de pessoas capacitadas poderiam salvar milhares de vidas.
A instituição alega que não tem capacidade de combater o surto sozinha. "Estamos recusando gente nas nossas clínicas, que operam há semanas acima da sua capacidade", diz.
* Bruna Vichi, estagiária do R7