Na Rússia, ativismo contra Putin perde o impulso
Russos estão mais preocupados "com seus iPhones" do que em brigar com o governo
Internacional|Do R7
Enquanto se passavam os últimos dias de 2012, a empresa de Denis Terekhov discutia o próximo protesto antigoverno.
Comparada ao mesmo período um ano antes — quando Terekhov fez uma palestra improvisada sobre como evitar a detenção pela polícia —, Moscou voltou a se parecer com Moscou. Os lucros desta empresa de marketing triplicaram, a festa corporativa de fim de ano ofereceu coquetéis em tons de azul e seus funcionários saíram de férias a locais como Bali e Paris.
Terekhov, que observou seus funcionários enquanto protestos surgiam e diminuíam, diz que eles participaram apenas porque estava na moda, nada mais. Eles tinham fortes sentimentos sobre as manifestações contra Putin, explicou ele, mas "também tinham emoções fortes em relação a seus iPhones".
Mesmo assim, a julgar por este grupo, seria errado dizer que nada mudou no ano em que Vladimir V. Putin voltou à Presidência. A fervorosa excitação em torno do ativismo de rua do ano passado se foi. Mas em seu lugar entrou um profundo senso de alienação, que representa seu próprio risco de longo prazo ao sistema.
O debate de ativismo político em seu escritório, uma empresa de comunicação e marketing chamada Social Networks Agency, hoje é revestido por um tom de desilusão — como se uma rara oportunidade houvesse sido perdida. Durante o julgamento da banda de punk rock Pussy Riot, no verão passado, Terekhov transformou um escritório numa sala de projeção, onde funcionários podiam assistir a uma transmissão ao vivo dos testemunhos, segundo ele, com "risos e lágrimas".
Um espaço havia sido deixado por Pasha Elizarov, gerente de projetos e ativista da oposição, que pediu demissão e deixou a Rússia depois que investigadores convocaram-no a um inquérito por incitar um tumulto. Ele enviou seus cumprimentos de final de ano da Tanzânia.
Essa é a história de uma temporada política. No ano passado, Putin recuperou a Presidência frente a uma oposição pública sem precedentes de pessoas como essas, jovens urbanos que se apresentaram das margens políticas para lhe dizer que seu retorno não era bem-vindo. O Kremlin agiu para deter os protestos; novas leis determinam punições draconianas por atos de dissidência, e tribunais prenderam um pequeno número de ativistas. Putin e seus seguidores adotaram uma retórica nova e acentuadamente conservadora, classificando os manifestantes como traidores e blasfemos, inimigos da Rússia.
Os manifestantes do ano passado, com esperanças de que Dmitri A. Medvedev avançaria com seus planos, estão cientes de que são vistos como intrusos. Irina Lukyanovich, de 24 anos, editora de texto que deixou recentemente a agência, disse que seus colegas agora estavam observando os líderes russos mais de perto, e julgando-os mais severamente.
— É como se eles fossem pessoas de outro planeta. Para mim, parece que dentro de um ano a distância entre eles e nós ficou muito maior.
Yulia Fotchenko, uma diretora de contas, suspirou pesadamente ao se lembrar da euforia que sentiu um ano atrás, quando participou de seu primeiro grande comício e sua "consciência foi virada de ponta cabeça".
Hoje ela se sente insultada, decepcionada. Como se nada na Rússia fosse mudar. Ela culpa os líderes dos protestos, que, segundo ela, se mostraram tão incapazes de capitalizar sobre o momento que as multidões nunca voltarão a confiar neles. Quanto à sensação de comunidade que sentia, ela se mostrou passageira.
"De repente, nós — um enorme número de hamsters da internet — decidimos que havíamos aguentado o suficiente, e nos juntamos e fomos às ruas", disse Fotchenko, usando uma gíria para a juventude digitalmente conectada de Moscou.
— E de repente, ops! Voltamos a ser hamsters da internet, os líderes e todo o resto. Pois nada aconteceu. E agora eu sinto um desespero ainda maior, mais profundo do que antes de começarmos essas ações.
Terekhov, de 33 anos, mostrou-se cético com os protestos desde o princípio — em parte por ter se desanimado com a esquerda em sua própria curta carreira na política de oposição. Há um ano, ele avisou seus funcionários que, ao protestar, eles estariam sofrendo sérios riscos, como confrontos com policiais da tropa de choque usando cassetetes. Eles precisavam perceber, explicou Terekhov, que "a revolução não é um jogo".
Eles acabaram percebendo que os riscos iam além dos cassetetes. Numa manhã de setembro, Terekhov recebeu um e-mail de Elizarov, de 27 anos, o único ativista político de alto perfil entre seus funcionários. Elizarov estava se demitindo de seu cargo como gerente de projetos e indo embora da Rússia.
Ele havia sido intimado num processo político, um que vem sendo usado para moldar os manifestantes como radicais perigosos. Até agora, 19 pessoas foram acusadas no caso de 6 de maio, quando uma grande marcha contra Putin terminou em pancadaria entre a polícia e manifestantes. O único condenado, um homem que não infligiu nenhum ferimento grave e cooperou com os promotores, recebeu quatro anos e meio.
Investigadores procuraram por Elizarov em casa, e depois começaram a visitar seus parentes, um por um.
Numa entrevista via Skype, Elizarov declarou não ter fugido por motivos políticos. Ele garantiu que sempre sonhara em visitar a África Oriental. Segundo Terekhov, porém, a decisão de Elizarov salvou a empresa da vergonha de ser vinculada a um caso conhecido.
— Eu não o teria demitido, mas ele sabe que tenho muitos contratos públicos e sua situação poderia ter interferido seriamente em nossos negócios. O fato de ele ter pedido demissão foi uma decisão muito decente de sua parte.
Os colegas de escritório mostraram uma postura filosófica parecida.
"Eu tive um instinto maternal puro, pensando: 'Certo, ele está seguro lá'", explicou Fotchenko. "Porque é assustador. Se você conhece alguém pessoalmente, e o sistema bate na porta dessa pessoa — bem, eu não desejaria isso para ninguém que conheço. Então ele fugiu, e não tem problema nisso."
No verão, quando Putin aumentou a pressão, a maioria dos funcionários da agência havia concluído que os protestos não iriam além de Moscou.
Assim, essa é sua posição no início de 2013: ninguém espera uma mudança política. Mas medidas do governo ainda estão gerando ondas de indignação, expressas principalmente em redes sociais.
No verão, quando Putin aumentou a pressão, a maioria dos funcionários da agência havia concluído que os protestos não iriam além de Moscou.
Assim, essa é sua posição no início de 2013: ninguém espera uma mudança política. Mas medidas do governo ainda estão gerando ondas de indignação, expressas principalmente em redes sociais.
Terekhov disse que o terceiro pico de conversas políticas do ano, após os protestos do inverno e do julgamento da Pussy Riot, veio no mês passado, quando a câmara baixa do parlamento votou proibir a adoção de crianças russas por norte-americanos. A proibição foi proposta em retaliação à nova Lei Magnitsky americana, que pune autoridades russas ligadas a abusos de direitos humanos. Terekhov viu isso — e muitas das iniciativas impulsionadas pelo legislativo no ano passado — como uma improvisação de políticos tentando agradar Putin.
Quanto a Fotchenko, seus planos eram se "sentar calmamente, tentando me separar da política". Ela disse não se imaginar participando de nenhum protesto, nunca mais.
Então ela cedeu um pouco.
"Existe uma chance de os líderes voltarem a nos surpreender e me fazerem acordar", disse ela.
— Do fundo do meu coração, espero que isso possa acontecer. Caso contrário — bem, simplesmente continuaremos como estamos hoje.