"O lado feio do jogo": relatório denuncia violação dos direitos humanos em obras da Copa no Qatar

Trabalhadores foram ouvidos pela Anistia Internacional no ano passado

30/03/2016 - 20h00 (Atualizado em 23/02/2024 - 15h45)

Um relatório da AI (Anistia Internacional) divulgado nesta quarta-feira (30) mostra que trabalhadores migrantes da construção do Estádio Internacional Khalifa, em Doha, no Qatar, que será usado na Copa do Mundo de 2022, sofreram abusos sistemáticos e, em alguns casos, foram vítimas até de trabalho forçado.

Intitulado “O lado feio do jogo bonito: a exploração do trabalho no Qatar para a Copa do Mundo de 2022", o texto afirma ainda que a Fifa (Federação Internacional de Futebol) se mantém indiferente ao tratamento terrível dado aos trabalhadores migrantes.

Entre os abusos relatados estão alojamento em locais ruins e apertados, pagamento de taxas para recrutadores em troca do emprego, salários mais baixos do que o prometido (chegando, em alguns casos, a metade), atraso de vários meses no pagamento, problemas na documentação trabalhista (risco de deportação e detenção), confisco de passaportes e ameaça em caso de reclamação sobre as condições de trabalho.

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Segundo o Secretário Geral da Anistia Internacional, Salil Shetty, "o abuso de trabalhadores migrantes é uma mancha na consciência do futebol mundial. Para jogadores e fãs, um estádio de Copa do Mundo é um lugar de sonhos, mas, para alguns dos trabalhadores, ele pode ser um pesadelo”.

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— Apesar de cinco anos de promessas, a FIFA falhou quase completamente na tentativa de evitar que a Copa do Mundo seja construída a partir de abusos dos direitos humanos.

O relatório é baseado em 132 entrevistas feitas com trabalhadores migrantes da construção civil do estádio Khalifa, definido para ser o primeiro estádio concluído para o torneio e programado para sediar uma semifinal da Copa. Outros 99 migrantes que trabalham com paisagismo e jardinagem em torno complexo desportivo também foram ouvidos.

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A maioria dos trabalhadores vieram de Bangladesh, Índia e Nepal. Eles foram entrevistados pela Anistia Internacional, no Qatar, entre fevereiro e maio de 2015.

Quando investigadores da Anistia voltaram ao país em fevereiro de 2016, alguns dos trabalhadores haviam sido transferidos para acomodações melhores e seus passaportes haviam sido devolvidos pelas empresas.

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Um relatório divulgado pela Anistia
Internacional revela que os imigrantes que trabalham nas obras para a Copa do
Mundo de 2022, no Qatar, vêm sofrendo abusos sistemáticos e em alguns casos têm
sido forçados a trabalhar

Intitulado "O lado feio do jogo bonito: a exploração do
trabalho na Copa do Mundo de 2022", o relatório aponta ainda para a indiferença
da Fifa quanto a terrível questão dos trabalhadores imigrantes

"O abuso de trabalhadores imigrantes é uma mancha na consciência do futebol mundial", disse o Secretário Geral da Anistia Internacional, Salil Shetty. "Para jogadores e fãs, um estádio de Copa do Mundo é um lugar de sonhos. Mas, para estes trabalhadores que conversaram conosco, têm sido um verdadeiro pesadelo", completou

"Apesar de cinco anos de promessas, a Fifa falhou quase que completamente na tentativa de impedir que a Copa seja feita com abusos dos direitos humanos", assegura Shetty. O
número de trabalhadores nas obras do Mundial deve chegar a 36.000 nos próximos
dois anos

O relatório divulgado pela Anistia Internacional é baseado
em entrevistas com 132 operários imigrantes que trabalham nas obras do estádio Khalifa,
definido como palco da semifinal da Copa do Mundo de 2022

Entre outras coisas os trabalhadores reclamaram das
condições do alojamento, de salários atrasados e de terem os passaportes retidos

O valor recebido pelos trabalhadores também seria menor do
que o oferecido nas propostas de emprego. Além disso, em alguns casos, os
imigrantes relataram que precisaram pagar taxas para terceiros para garantirem a
vaga – os valores variavam entre US$ 500 e US$ 4.300

"Endividados, vivendo
no deserto em acampamentos miseráveis e recebendo uma ninharia por isso. A
realidade de milhares de trabalhadores contrasta com a de muitos jogadores da
elite que jogaram no estádio Khalifa", lembrou o Secretário Geral da Anistia
Internacional. "Os trabalhadores querem apenas os seus direitos: receberem em
dia, poderem deixar o país quando quiser e serem tratados com dignidade e
respeito", completou Salil Shetty

Nabeel (nome alterado para proteger a identidade do
trabalhador), um metalúrgico da Índia que trabalhou no estádio Khalifa,
queixou-se quando não estava sendo pago por vários meses, mas recebeu apenas ameaças
de seu empregador: "Ele simplesmente gritou para mim e disse que se eu
reclamasse novamente não voltaria jamais para o meus país"

Aproveitando as mudanças no comando da Fifa, Salil Shetty suplica
para que a entidade que rege o futebol mundial não feche os olhos para estas
graves questões. "Se a nova liderança da Fifa é séria quanto a 'virar uma
página', não pode permitir que seu maior evento tenha estádios construídos com
abusos de trabalhadores"

Os trabalhadores, na sua maioria de Bangladesh, Índia e
Nepal, falaram com a Anistia Internacional, no Qatar, em 2015

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Um relatório divulgado pela Anistia Internacional revela que os imigrantes que trabalham nas obras para a Copa do Mundo de 2022, no Qatar, vêm sofrendo abusos sistemáticos e em alguns casos têm sido forçados a trabalhar