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O risco Obama: qual o pior medo de seus opositores?

Críticos dizem que presidente está criando um precedente prejudicial para os EUA

Internacional|Fábio Cervone, colunista do R7

A popularidade de Barack Obama pelo mundo continua sendo um ponto forte do presidente norte-americano, sobretudo no Brasil, onde o democrata é visto como um símbolo de modernidade social e exemplo de sucesso individual. Porém, dentro de casa, nos EUA, o líder não é unânime e, por isso, um novo mandato na Casa Branca ainda é incerto. Mesmo se eleito, esta rejeição, latente em muitos setores importantes da sociedade, terá reflexo na futura configuração do Congresso e deverá dificultar a governabilidade do país. Entre as incontáveis polêmicas e críticas, o que pode ser entendido como o “risco Obama”?

Os republicanos e opositores ao atual presidente dos EUA estão menos receosos do que parece em relação à condução da política externa dos EUA e aos avanços liberais das leis sobre casamento entre pessoas do mesmo sexo ou aborto. Normalmente, esses assuntos são ressaltados apenas como alegorias da polarização conflagrada por conservadores e liberais e, na realidade, não explicam divergências filosóficas consideradas cruciais para o futuro do país.

Duas importantes bandeiras do presidente, o programa de saúde pública universal, conhecido como Obamacare, e o processo de regulamentação estatal sobre o sistema financeiro, denominado Dodd-Frank (nome dos congressistas autores da reforma), são dois bons exemplos dessa batalha silenciosa travada entre republicanos e democratas, e, por isso, são ao mesmo tempo hasteadas e queimadas por muitos cidadãos. Para um observador externo, essa relação de amor e ódio pode ser entendida como um simples sinal de que Obama não é unânime.

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Mas, para muitos entendedores, tanto o Obamacare quanto as reformas propostas pelas leis Dodd-Frank evidenciaram um comportamento centralizador de Washington. Republicanos e, inclusive, democratas não alinhados (sobretudo os famosos blue democratas, considerados centristas) alegaram que a atual gestão tenta condicionar atividades de grande envergadura e impacto nacional de dentro de uma pequena sala na Casa Branca, sob responsabilidade de um pequeno grupo de indicados políticos, e não necessariamente conhecedores dos temas em questão.


Esse processo centralizador estaria indo contra os princípios federalistas norte-americanos, pois afetará a autonomia local dos Estados frente à União e, ao mesmo tempo, contribuirá para o inchaço burocrático do setor público.

No campo financeiro, os desdobramentos das reformas Dodd-Frank, para muitos, não só confirmam o processo centralizador como interferem também nas ideias capitalistas de livre-mercado historicamente defendidas pelos EUA.


Obamacare

O Obamacare (similar ao SUS brasileiro) realmente tem uma grande pretensão, pois deseja garantir saúde básica gratuita para a população americana, uma demanda antiga de muitos setores da sociedade. Entretanto, o governo federal está sendo criticado, pois terá que administrar e arcar com transferências gigantescas de custos e articular complicados meandros operacionais para viabilizar o sistema de forma eficaz nos 50 Estados que compõem os EUA. 

Essa será uma iniciativa inédita em termos funcionais e proporcionais para o Estado americano. É por isso que os republicanos e os lobbys do setor dizem que Washington D.C. não terá capacidade técnica e estrutural para conseguir consolidar um sistema eficaz, estável e à prova de fraudes que possam desfalcar os cofres públicos.

Regulamentação dos bancos e afins

As instituições financeiras de todas as naturezas — operadoras de ações em bolsas de valores e mercadorias futuras; os investidores imobiliários e de entretenimento; as seguradoras e resseguradoras; as administradoras de leasing e pequenos empréstimos — ninguém escapa de um amedrontador calafrio quando considera plausível a aplicação completa do plano de regulamentação financeira de Obama, Dodd-Frank. O projeto, que já está em execução, é uma agenda contínua de medidas restritivas que teoricamente diminuem o risco dos negócios operados por essas empresas. O objetivo na pratica é evitar o surgimento de fórmulas kafkianas e irregulares de lucro que contribuem para a instabilidade e, futuramente, a insustentabilidade da operação de cada ramo, como ocorreu no mercado hipotecário norte-americano, agravando a crise financeira de 2008.

Se por um lado muitos movimentos populares aplaudiram os avanços, os principais atingidos pelo controle afirmam que o governo está indo longe demais interferindo na alma do negócio atrapalhando a lógica de livre-mercado dos EUA, a principal nação capitalista do mundo. Quando plenamente em vigor, as novas leis terão enforcado um agente importante da economia, reclamam empresários e profissionais. Em resumo, o mercado financeiro alega que o líder democrata está tirando do baralho o coringa do jogo, e o triunfo que seduz os apostadores deixará de existir. Quer dizer, a essência do setor, que pode ser fielmente comparado com um casino de Las Vegas, está no instinto de caça imponderável ao lucro, pois esse sentimento é vital para a enorme exposição ao risco inevitável da profissão. Os heróis deste safari financeiro são os que assumiram maior risco e em pouco tempo abateram e levaram para casa a maior caça, quiçá uma riqueza suficiente para uma boa aposentadoria.

Obama está tirando de circulação a adrenalina que pulsa no negócio dos riscos financeiros. Com tanto controle e regulamentação, será, ao mesmo tempo, impossível de agir com discrição (denunciando sua posição para a caça e aos caçadores rivais) e com agilidade, movimentos bruscos e espontâneos exigidos na condução destes mercados tão efêmeros, que são motivados por incontáveis fatores analisados e divulgados em tempo real. Um importante analista (que optou por não ser identificado) foi taxativo, ao afirmar:

— Obama é mais carismático e acompanha muitos anseios de população por mudanças. Enquanto Romney provoca certa rejeição com sua postura patronal de empresário bem-sucedido. Além disso, ele [Romney] tenta defender ambiguamente o reajuste orçamentário com cortes radicais nos gastos de todos os setores, a exceção dos aportes militares que, segundo ele, devem ter o investimento federal reforçado. Diante disso, parece muito mais racional optar pela continuidade da gestão atual. Entretanto, se Obama consolidar o ato Dodd-Frank, a economia será radicalmente afetada e a iniciativa empreendedora do livre-mercado deixará de existir.

Se os investidores terão que prestar conta sobre boa parte de seus passos, o mercado deixará de ser livre, e o Estado será mais intervencionista.

Esse processo, somado ao movimento centralizador de Washington, poderá arranhar de vez a imagem de que os EUA são o paraíso do capitalismo e o berço do federalismo democrático.

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