Obama tem chance de recomeçar a busca por energias limpas
Presidente destacou na posse estacou a necessidade de abordar a mudança climática e as tecnologias energéticas não poluentes
Internacional|Do R7
Foi animador ver o presidente Obama incluir uma longa referência à importância de políticas energéticas favoráveis ao meio ambiente em seu discurso de posse. Sua fala foi apenas um esboço do que dirá no discurso sobre o Estado da União a respeito das iniciativas políticas deste ano.
Em seu discurso, Obama destacou a necessidade de abordar a mudança climática e as tecnologias energéticas não poluentes como uma questão de legado e uma prioridade da vida real. Além disso, o presidente alertou para o fato de que a jornada será longa. Aqui vai um trecho:
"Nós, o povo, ainda acreditamos que nossas obrigações enquanto americanos não são apenas para conosco, mas com toda a posteridade. Vamos responder à ameaça da mudança climática sabendo que a incapacidade de fazê-lo seria trair nossos filhos e as futuras gerações".
Obama expressa preocupação com violência no futebol americano
Baile de Obama tem aperto e comida ruim, mas foi memorável
NYT: Quando os capitalistas se importavam
"Algumas pessoas ainda duvidam do esmagador consenso dos cientistas, mas ninguém pode evitar os devastadores impactos das queimadas, das secas e de tempestades cada vez mais poderosas. O caminho em direção às fontes de energia sustentáveis será longo e frequentemente difícil. Mas os Estados Unidos não podem evitar essa transição. Precisamos liderá-la".
"Não podemos ceder a outras nações as tecnologias que irão criar novos empregos e novas indústrias. Precisamos aproveitar suas possibilidades. É dessa forma que manteremos a vitalidade econômica e o tesouro nacional, as florestas e a água, as terras aráveis e as montanhas cobertas de neve. É assim que preservaremos o nosso planeta, entregue por Deus aos nossos cuidados. É isso que dará sentido à fé que nossos pais professaram".
É chegado o momento em que o presidente deixará de fazer pedidos e começará a realizar ações. Em 2010, sem dar uma data certa, o assessor científico da presidência, John P. Holdren, afirmou que o presidente faria um "importante discurso" sobre a mudança climática. Espero que este seja o ano em que o governo priorize mais que a retórica, colocado em prática um conjunto de iniciativas (algumas das quais citei há alguns dias http://dotearth.blogs.nytimes.com/2013/01/19/obamas-second-term-options-on-the-environment/).
Até o momento, ações contínuas e pacientes são frustrantes para quem espera atitudes mais urgentes. Contudo, conforme escrevi anteriormente, desafios imediatos como a criação de um cardápio energético que funcione em longo prazo exigem a estranha mistura entre urgência (talvez intensidade seja uma palavra melhor) e paciência.
Leia o artigo "Climate Change Given Prominence in Obama's Address" (http://www.nytimes.com/2013/01/22/us/politics/climate-change-prominent-in-obamas-inaugural-address.html) para entender os contextos e subtextos políticos.
A única abordagem plausível é uma política consciente, que dê passos inteligentes e de curto prazo, que possam ser explicados para muitos eleitores e por diversas razões (eficiência energética, maior flexibilidade frente aos perigos do clima em lugares vulneráveis) em relação aos problemas mais complicados. Essa era a recomendação do finado Stephen H. Schneider, cientista climatológico da Universidade de Stanford, em 2006, e acho que essa ainda é a melhor abordagem.
Há muito o que analisar no discurso do presidente, incluindo a infeliz mistura de clareza em relação à ciência básica do efeito estufa (que reside no "esmagador consenso" das avaliações científicas) e do desafio muito mais complicado de compreender os fatores que levaram às recentes perdas causadas pelas queimadas, secas e tempestades.
Quando o presidente coloca lado a lado áreas robustas e incertas da ciência, muito embora esteja tentando isolar aqueles que neguem os "conceitos básicos", Obama pode alienar os americanos que concordam que a mudança climática oferece riscos e que amam medidas em prol de energias mais inteligentes, mas duvidam (legitimamente) de algumas das recentes conclusões a respeito de desastres desse tipo.
Além disso, o expediente político de caracterizar o setor energético americano como uma competição por empregos e riqueza com outros países (leia-se China) mascara a realidade de que uma mistura substancial de competitividade internacional e de colaboração será necessária para que o mundo alcance avanços significativos em tecnologias não poluentes. Um bom resumo disso pode ser encontrado no relatório de 2010 do Conselho de Relações Internacionais: "Inovação energética gera concorrência e colaboração entre Estados Unidos, China, Índia e Brasil" (http://www.cfr.org/india/energy-innovation/p23321).
Mas esse discurso é apenas o começo e não passa de um esboço. Haverá tempo suficiente para que Obama e o seu governo refinem a abordagem e seus objetivos. (Também haverá tempo para que o governo reconsidere a abordagem das discussões climáticas da semana passada quando, de acordo com a Reuters, a Casa Branca pediu que uma reunião sobre o aquecimento global com um grupo de prefeitos não fosse publicada.)
Um bom começo para as autoridades do governo e qualquer outra pessoa que esteja à procura de formas de moldar o ímpeto americano em prol da ação energética – das tomadas da cozinha à Casa Branca – é uma convincente palestra não ideológica de Richard Smalley, ganhador do prêmio Nobel de química que se dedicou nos últimos anos de sua vida, mesmo enquanto lutava contra a leucemia, à causa dos desafios e das oportunidades energéticas da humanidade. Assista à sequência de vídeos no YouTube (http://www.youtube.com/playlist?list=PLnf4Z6Yq17hTjScHB52Or5rCqrOi20EFh). O blogueiro Adam Siegel também me lembrou pelo Twitter de incluir um link para o importante artigo de Smalley publicado em 2004: "The Terrawatt Challenge" (http://cohesion.rice.edu/NaturalSciences/Smalley/emplibrary/120204%20MRS%20Boston.pdf). Além disso, Siegel apresenta uma importante avaliação dos próximos passos de Obama em relação às questões ambientais.
Também aconselho a leitura de meu outro post publicado há algum tempo – "America's Energy Challenge, and Opportunity" (http://dotearth.blogs.nytimes.com/2011/01/24/americas-energy-challenge-and-opportunity/) – para saber sobre algumas das propostas de desenvolvimento que podem dar certo apesar da falta de verbas e da polarização política em relação à energia.
Para saber mais sobre os debates a respeito do discurso de "negação do aquecimento global", veja Dan Kahan (http://www.culturalcognition.net/blog/2013/1/20/what-inferences-can-be-drawn-from-empirical-evidence-about-t.html), Matt Nisbet (http://thebreakthrough.org/index.php/voices/the-public-square/the-wisdom-of-denier-discourse/) e uma troca de mensagens no Twitter envolvendo Michael Mann, Joe Romm, Kahan e eu (http://getenergysmartnow.com/2013/01/22/obamaenv-steps-for-presidential-action-in-light-of-inaugural-address/).
Em uma discussão por e-mail com diversos analistas de comunicação climática, Max Boykoff, da Universidade do Colorado, enviou o comentário "Climate denier, skeptic, or contrarian?" (http://www.pnas.org/content/107/39/E151.full), escrito por ele e Saffron O'Neill em 2010 para a revista Proceedings of the National Academy of Sciences, comentando um artigo mais antigo. Boykoff acrescentou o seguinte comentário em relação ao discurso do presidente:
"Ao ver que Theda Skocpol também utilizou o termo 'negador' em um recente artigo (http://www.scholarsstrategynetwork.org/sites/default/files/skocpol_captrade_report_january_2013_0.pdf) bastante comentado no simpósio 'The Politics of America's Fight against Global Warming', da Harvard, parece que o termo não irá desaparecer tão cedo. Além disso, não pude deixar de notar o tuíte entusiasmado de Marc Morano, logo após o discurso inaugural de Obama, declarando em AT.climatedepot: 'Negadores citados no discurso inaugural!'".
"Esses apelidos geralmente ajudam a reverter a politização e a polarização envolvidas nessas questões, por isso, alguém parece estar se saindo muito bem, se esse for seu objetivo".
Na semana passada, o Projeto de Comunicação Climática de Yale publicou um memorando que parece ter sido lido na Casa Branca. "The Political Benefits to Taking a Pro-Climate Stand in 2013" (http://environment.yale.edu/climate/publications/Political-benefits-to-taking-a-pro-climate-stand-in-2013/). Um dos principais pesquisadores do projeto da Yale, Edward Maibach da Universidade George Mason, foi entrevistado em um vídeo da Climate Access (http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=xzi9HN1oN5I) sobre o papel dos recentes extremos climáticos na transformação (embora momentânea) das atitudes americanas em relação à mudança climática. Há muito que se aproveitar aqui, embora eu tenha algumas preocupações a respeito das conclusões de Maibach, que poderá ler em minha página no Tumblr (http://revkin.tumblr.com/post/41138593455/six-americas-work-on-us-climate-energy).
O que acontece no mundo passa por aqui
Moda, esportes, política, TV: as notícias mais quentes do dia