Parlamento Europeu classifica massacre de armênios em 1915 de genocídio
Internacional|Do R7
Por Adrian Croft e Ayla Jean Yackley
BRUXELAS/ISTAMBUL (Reuters) - O Parlamento Europeu apoiou uma moção nesta quarta-feira que classifica de genocídio o massacre de até 1,5 milhão de armênios ocorrido um século atrás por forças otomanas, dias depois de o papa Francisco usar o mesmo termo.
Embora a resolução tenha repetido uma linguagem adotada anteriormente pelo Parlamento em 1987, poderá criar tensões com a Turquia, cujo presidente, Recep Tayyip Erdogan, disse mesmo antes da votação acontecer que iria ignorar o resultado.
Após o resultado, o Ministério das Relações Exteriores turco acusou o Parlamento de tentar reescrever a história.
Muçulmana, a Turquia concorda que os cristãos armênios morreram em combates com soldados otomanos a partir de 15 de abril de 1915, quando um grande número de armênios vivia no império governado por Istambul, mas nega que isso equivalha a um genocídio.
A Armênia, alguns historiadores ocidentais e parlamentos estrangeiros se referem à matança coletiva como genocídio.
A maioria dos parlamentares europeus endossou a moção, afirmando que "os eventos trágicos que ocorreram entre 1915 e 1917 contra os armênios no território do Império Otomano representam um genocídio".
O chanceler da Armênia, Edward Nalbandian, comemorou a resolução como um moviumento que tem o objetivo de defender os direitos humanos.
"A resolução contém uma mensagem importante para que a Turquia use a celebração do centenário do genocídio armênio para entrar em acordo com o seu passado, reconhecer o genocídio armênio e, assim, abrir o caminho para uma verdadeira reconciliação entre os povos turco e armênio", ele disse em comunicado.
O papa Francisco desencadeou uma rixa diplomática no domingo ao chamar o massacre de "o primeiro genocídio do século 20", levando a Turquia a convocar o embaixador do Vaticano e a chamar de volta seu próprio diplomata.
O Parlamento Europeu saiu em defesa do pontífice, elogiando sua mensagem.
A Turquia se candidatou para se juntar aos 28 membros da União Europeia, mas as conversas sobre sua filiação vêm se arrastando há anos com pouco progresso.
Mais cedo, Erdogan declarou numa entrevista coletiva que "qualquer decisão que o Parlamento Europeu tome a respeito das alegações de genocídio dos armênios irá entrar por um ouvido e sair pelo outro".
"Está fora de questão uma mancha, uma sombra chamada 'genocídio' na Turquia", afirmou ele no aeroporto de Ancara antes de partir para uma visita ao Cazaquistão.
No ano passado, quando ainda era primeiro-ministro da Turquia, Erdogan ofereceu o que seu governo disse serem condolências inéditas aos netos dos armênios mortos na Primeira Guerra Mundial.
A resolução europeia afirmou que tais declarações são um passo na direção certa, mas parlamentares instaram a Turquia a ir além.
Num comunicado após a votação, o Ministério das Relações Exteriores turco declarou que os parlamentares que apoiaram a resolução estão em conluio com "aqueles que não têm nada a ver com os valores europeus e que se alimentam de ódio, vingança e da cultura do conflito".
(Reportagem adicional de Humeyra Pamuk e Ece Toksabay, em Ancara; de Francesco Guarascio, em Bruxelas; e de Hasmik Mkrtchyan, em Yerevan)