Perseguição religiosa: mulheres são espancadas na Índia por se converterem ao cristianismo
País tem liberdade religiosa entre leis constitucionais, mas na prática isso não ocorre
Internacional|Do R7
Milhares de cristãos que vivem na Índia têm sofrido um ultimato preocupante: ou escondem sua fé, ou terão que conviver com intimidações, ameaças e até mesmo com a morte.
Ameaças contra igrejas, ataques incendiários sobre propriedades cristãs e o abuso violento contra quem se converte ao cristianismo têm crescido no país asiático, onde apenas 2,3% da população é cristã.
As vítimas mais recentes dessas perseguições são Meena, de 32 anos, e sua irmã Sunita, de 25 (os nomes foram alterados para proteger a identidade das vítimas). As mulheres foram severamente espancadas por um grupo de homens de uma aldeia no Estado de Odisha, após a notícia de que ambas teriam se convertido ao cristianismo ter se espalhado. Segundo o portal de notícias Christian Today, a fé das jovens foi descoberta por causa de seus hábitos, diz Meena.
— Nós sabíamos em teoria sobre as chances de perseguição, até porque a própria Bíblia fala sobre isso.
Convertimento
As irmãs passaram a se identificar com o cristianismo enquanto ouviam um programa em uma rádio cristã, em 2004. Inicialmente, ambas se sentiram compelidas a esconderem esse convertimento por medo de como isso repercutiria entre os hindus extremistas. Dois anos mais tarde, porém, elas foram batizadas em uma igreja cristã e começaram a frequentar os cultos.
— Minha fé cresceu tanto que eu não mais me importei em escondê-la. Pensava que se morresse, ressuscitaria.
No entanto, um ano depois, houve uma reunião organizada por membros da aldeia onde elas moravam. Em uma decisão consentida por todos, o pai de Meena e Sunita foi pressionado para expulsar as filhas de casa. O homem recusou obedecer às ordens dos vizinhos, mas parou de bancar comida e roupas das jovens.
— Tivemos que passar a cuidar de nós mesmas. Toda a aldeia nos rejeitava. Mas fomos abençoadas pelo senhor.
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O que as irmãs não sabiam é que o pior ainda estava por vir: elas e outras duas mulheres cristãs foram paradas por um grupo de hindus dentro da aldeia. Elas foram informadas de que já não podiam usar a entrada principal ou retirar frutos das árvores que ficavam no local, e foram levadas à força para uma colina próxima. Por quase oito horas, elas foram ameaçadas de serem queimadas.
— Eles ficavam gritando: “Queimem-nas! Queimem-nas! ”.
As mulheres, por sorte, foram resgatadas por policiais, que organizaram uma “reunião de paz” entre elas e seus assediadores. No entanto, o alívio durou pouco: quando voltaram para casa, os moradores foram até o local onde moravam e arrastaram as irmãs para fora. Elas foram espancadas com varas de bambu.
— Eles quebraram pelo menos cinco ou seis varas nas minhas costas. Minha irmã tentou me proteger, mas era em vão, eles eram muitos, e muito mais fortes que nós — conta Meena.
A mulher relata que um de seus agressores não hesitou em dizer:
— Nós sabemos que Jesus morreu numa cruz. E isso vai acontecer com vocês também.
Meena relembra que só rezava para que fosse feita “a vontade de Deus”. Segundo ela, as pancadas foram dolorosas, mas que por dentro ela estava satisfeita por estar sofrendo por Jesus.
Sunita se lembra de orar até perder a consciência enquanto era espancada. Quando acordou, a jovem viu que um de seus ossos estava exposto. Ela conseguiu se arrastar para longe e se esconder em um galpão, orando incessantemente a Deus.
— Agradeço a Deus pela perseguição. Ele havia dito que iria cuidar da gente, estávamos preparadas.
A ascensão do nacionalismo hindu
Embora a liberdade religiosa seja garantida pela Constituição da Índia, a realidade para os crentes na terra está longe de ser o que promete a lei.
Em um relatório anual divulgado em maio, a USCIRF (Comissão dos Estados Unidos sobre Liberdade Religiosa Internacional) destacou uma "trajetória negativa" no que diz respeito à liberdade religiosa na Índia.
— As comunidades das minorias, especialmente os cristãos, muçulmanos e sikhs, sofrem inúmeras experiências de intimidação, assédio e violência, em grande parte por grupos nacionalistas hindus.