Rússia cumpre ameaça e corta o fornecimento gás da Ucrânia
Envio de gás para a União Europeia, porém, "está garantido"
Internacional|Do R7
Após o fracasso das negociações, a Rússia cumpriu nesta segunda-feira (16) a ameaça de cortar o fornecimento de gás para a Ucrânia, o que pode afetar o abastecimento da Europa e agravar o pior conflito entre Moscou e o Ocidente desde o fim da Guerra Fria.
O governo pró-Ocidente ucraniano tinha a esperança de encontrar uma solução de última hora no domingo à tarde em Kiev para solucionar a divergência com Moscou, enquanto o leste do país é cenário de um violento conflito entre militares e insurgentes pró-Rússia.
Mais de 250 pessoas morreram em 2 meses de violência no leste da Ucrânia
Presidente ucraniano ordena criação de corredor humanitário em áreas de ações militares
Mas o ultimato chegou ao fim nesta segunda-feira às 6H00 GMT (3H00 de Brasília) e a gigante semiestatal russa Gazprom anunciou que adotou para a Ucrânia um sistema de pagamento antecipado para o gás, com o qual forneceria apenas os volumes pelos quais já foi paga.
"A Naftogaz recebe apenas os volumes pelos quais paga. Não pagou nada, então não recebe nada", afirmou o porta-voz da Gazprom, Serguei Kuprianov.
A Ucrânia confirmou nesta segunda-feira que a Rússia "reduziu a zero" o fornecimento de gás e que apenas transita por seu território gás destinado a outros países europeus.
"Nós fomos informados de que o fornecimento de gás a Ucrânia foi reduzido a zero e que apenas há volumes enviados em trânsito para países europeus", disse o ministro ucraniano da Energia, Yuri Prodan.
A Ucrânia "vai garantir o trânsito confiável (de gás) para a Europa", completou.
A Gazprom também advertiu a Comissão Europeia sobre "possíveis perturbações" no fornecimento ao bloco, caso a Ucrânia se aproprie do gás que transita por seu território. Quase 15% do gás consumido na Europa passa pelo país.
O comissário europeu da Energia, Guenther Oettinger, afirmou que não devem acontecer problemas no fornecimento de gás russo para a Europa nas "próximas semanas", mas advertiu para um possível problema "no caso de inverno rigoroso".
A Gazprom anunciou que apresentou uma denúncia contra a Naftogaz Ucrânia ao tribunal de arbitragem internacional de Estocolmo para reclamar o pagamento de uma dívida que alcança 4,5 bilhões de dólares (cerca de 10 bilhões de reais).
Desta maneira se antecipou a Naftogaz, que anunciou pouco depois que recorreu ao mesmo tribunal contra a Gazprom pelo pagamento indevido de seis bilhões de dólares (cerca de 13,4 bilhões de reais) em 2010, além de ter solicitado um "preço justo" para futuros contratos de fornecimento de gás russo.
Kiev não aceitou o aumento de preço imposto por Moscou após a chegada ao poder de autoridades pró-Ocidente, depois da queda do presidente pró-Rússia Viktor Yanukovytch.
O preço subiu de 268 dólares (R$ 598,74) por 1.000 metros cúbicos para 485 dólares (R$ 1.083,54), um valor sem precedentes na Europa. Na "última oferta", Moscou apresentou a proposta de US$ 385 (R$ 860,13).
No domingo, nas últimas horas das negociações, as autoridades ucranianas e europeias ainda tinham esperanças de conseguir evitar a terceira 'guerra do gás', após os conflitos de 2006 e 2009, que afetaram o fornecimento para a UE.
O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, denunciou no domingo o que chamou de "arrogância" de Kiev.
No leste da Ucrânia, a situação com os separatistas pró-Moscou permanece tensa. O presidente pró-Ocidente ucraniano Petro Poroshenko prometeu uma "resposta adequada" aos separatistas depois que um avião do exército foi abatido em Lugansk e matou 49 pessoas, no ataque com o maior número de vítimas desde que a Ucrânia iniciou em abril uma operação militar contra os rebeldes.