Sobe para 26 número de mortos em protesto na Ucrânia
União Europeia condena repressão e ameaça sanções ao país
Internacional|, com R7
O presidente Viktor Yanukovytch denunciou nesta quarta-feira (19) uma tentativa de insurreição na Ucrânia, abalada por confrontos nas últimas horas que deixaram pelo menos 26 mortos no centro de Kiev, incluindo nove policiais, o que levou a União Europeia a ameaçar o país com sanções.
A repressão foi condenada pela UE, que anunciou a análise da possibilidade de sanções contra o governo de Yanukovytch, que tem o apoio da Rússia.
O balanço mais recente até então, do ministério da Saúde, registrava 25 mortes desde a explosão da violência na terça-feira em Kiev e 241 feridos hospitalizados, incluindo 79 policiais e cinco jornalistas.
Porém, a imprensa russa já noticia que há mais de 600 feridos.
Um repórter do jornal Vesti morreu ao ser atingido por tiros perto do cenário dos confrontos, anunciou a publicação.
A violência atingiu outras regiões da ex-república soviética. Em Leopolis (oeste), os manifestantes assumiram o controle de prédios públicos e de depósitos de armas.
Os confrontos começaram na terça-feira (18), nas imediações do Parlamento. Durante a noite, as forças de segurança iniciaram uma ofensiva com gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral contra Maidan, a Praça da Independência de Kiev, epicentro dos protestos.
Os manifestantes responderam com coquetéis molotov,
Na manhã desta quarta-feira, manifestantes e policiais permaneciam frente a frente, separados por uma cortina de fogo, em um cenário de devastação.
As barracas instaladas no local pegaram fogo, assim como vários andares da Casa dos Sindicatos, quartel-general dos manifestantes em Maidan.
Em um discurso à nação exibido durante a madrugada após um encontro infrutífero com líderes da oposição, o presidente do país acusou os manifestantes de terem ultrapassado os limites com a defesa de uma "luta armada" para assumir o poder com uma insurreição.
"Estes supostos políticos tentaram tomar o poder infringindo a Constituição por meio da violência e dos assassinatos", disse o presidente, que prometeu que os responsáveis deverão "responder à justiça".
Yanukovytch decretou a quinta-feira como dia nacional de luto. As bandeiras serão hasteadas a meio-mastro nos prédios públicos e serão cancelados os eventos e competições esportivas, segundo o decreto publicado pela presidência.
Os serviços especiais ucranianos anunciaram a abertura de uma investigação por tentativa de tomada ilegal do poder.
A investigação, sobre "alguns políticos", que não são identificados, será centrada em "ações políticas ilegais para a tomada de poder", afirma um comunicado dos serviços secretos (SBU).
"O presidente propôs que nos rendamos. Ficaremos aqui com os manifestantes", declarou um dos líderes da oposição, Arseni Yatseniuk, à emissora de televisão Kanal 5.
"O governo desencadeou uma guerra contra o próprio povo", declarou outro líder do movimento, o ex-campeão de boxe Vitali Klitschko.
O governo impôs na terça-feira o estado de emergência de fato: o metrô de Kiev foi fechado e as autoridades anunciaram um "limite" do tráfego em direção à capital a partir da meia-noite, para evitar "uma escalada da violência".
A agitação na Ucrânia teve início em novembro, quando o governo decidiu repentinamente suspender as negociações de associação com a UE e estreitar as relações econômicas com a Rússia.
A UE (União Europeia) estudará sanções contra os responsáveis pela repressão na Ucrânia, anunciou a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton.
Ashton convocou os ministros das Relações Exteriores da UE para uma reunião extraordinária dedicada à crise ucraniana, na quinta-feira.
Nesta quarta-feira, ela terá uma reunião com os embaixadores da UE responsáveis pelas questões de segurança. Eles estudarão todas as opções, incluindo sanções contra os responsáveis pela repressão e por violações dos direitos humanos, destaca um comunicado de Ashton.
O ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague, disse que o governo ucraniano terá que responder pela violência.
"A violência contra manifestantes pacíficos é inaceitável e o governo ucraniano terá que prestar contas", escreveu Hague, que está no Brasil, no Twitter.
O ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, afirmou que o país terá deliberações com a Alemanha e que provavelmente serão decididas sanções.
— Não permaneceremos indiferentes.
A chanceler alemã Angela Merkel está em Paris para um conselho de ministros conjunto.
O ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, afirmou que a "Ucrânia está pagando muito caro pelas táticas dilatórias do presidente (Viktor) Yanukovytch".
— Sua recusa a realizar conversações sérias sobre uma solução pacífica do conflito e uma reforma constitucional é um grave erro.
O ministro das Relações Exteriores da Suécia, Carl Bildt, afirmou que o presidente ucraniano Viktor Yanukovytch é responsável pelas mortes.
"Devemos ser claros: a responsabilidade final das mortes e da violência recai no presidente Yanukovytch. Tem sangue nas mãos", escreveu no Twitter.
A Rússia, no entanto, apoiou Yanukovytch e atribuiu a violência à oposição.
"No fundo se trata de uma tentativa de golpe de Estado", afirma o ministério russo das Relações Exteriores em um comunicado.
— A parte russa exige que os líderes (da oposição) façam cessar o derramamento de sangue em seu país e retomem sem atraso o diálogo com o governo legítimo, sem ameaças nem ultimato.
A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, condenou a violência na Ucrânia e pediu uma "investigação urgente e independente".
"Condeno com veemência as mortes e peço ao governo e aos manifestantes que atuem para desativar a tensão e que adotem ações rapidamente para encontrar uma solução pacífica à crise. Também peço uma investigação urgente e independente para estabelecer os fatos e responsabilidades", afirma Pillay em um comunicado.
Na noite de terça-feira em Washington, o vice-presidente dos Estados Unidos Joe Biden se declarou "consternado" e pediu a Yanukovytch a retirada das forças de segurança das ruas, além da retomada urgente do diálogo com a oposição.
O primeiro-ministro polonês Donald Tusk considerou que a Ucrânia está ameaçada por uma "guerra civil", com consequências para a segurança e a estabilidade de toda a região.