Médicos do "Caso Pavesi" são condenados e presos por retirada de órgãos de criança há 14 anos
Segundo sentença, profissionais devem perder cargos e pagar multas de até R$ 695 mil
Minas Gerais|Enzo Menezes, do R7
Quatorze anos após a morte de Paulo Pavesi, três médicos foram condenados nesta quinta-feira (6) pela retirada de órgãos do menino na Santa Casa de Poços de Caldas, no sul de Minas.
Foram condenados Celso Roberto Frasson Scafi, Cláudio Rogério Carneiro Fernandes e Sergio Poli Gaspar. Scafi e Fernandes foram levados para o presídio da cidade às 23h, já que o juiz Narciso Monteiro de Castro, da 1ª Vara Criminal, considerou que a liberdade dos médicos condenados durante a fase de recursos prejudicaria a tramitação processual. Sérgio Poli Gaspar ainda não foi encontrado pela polícia. As prisões foram confirmadas pela Seds (Secretaria de Estado de Defesa Social).
Gaspar, Scafi e Fernandes foram condenados, respectivamente, a 14, 18 e 17 anos de prisão em regime fechado por submeter o paciente a procedimentos inadequados, adulteração de diagnóstico da morte encefálica e retirada dos órgãos. Paulo Pavesi havia caído da grade do playground do prédio onde morava em abril do ano 2000.
O juiz também decretou a perda dos cargos públicos, ressaltando que houve lesão à administração pública por causa do recebimento indevido de verbas do SUS com o comércio do fígado e córneas da criança. Foi ainda fixada multa de R$ 695.040 para Scafi e Fernandes, e R$ 452.500 para Sérgio Poli Gaspar.
Eles respondem em outro processo pelo homicídio da criança, que foi aditado e aguarda recurso. Outros quatro médicos recorrem da decisão de terem sido levados a júri popular pela morte.
O advogado José Arthur Di Spirito Kalil, que defende Fernandes e Scafi, afirma que as prisões durante a fase de recurso "são determinações desnecessárias e ilegais", já que "o processo correu em absoluta tranquilidade perante o juízo de Poços de Caldas".
Ele promete entrar com habeas corpus para tentar tirá-los da cadeia e recorrer da sentença. Entretanto, isso só pode acontecer depois de terça-feira (11), quando a sentença será publicada. Até lá, os médicos permanecem no presídio.
Livro detalha crimes
Há três semanas, o pai do menino, Paulo Veronesi Pavesi, lançou o livro "Tráfico de Órgãos no Brasil - O Que a Máfia Não Quer Que Você Saiba", em que detalha os crimes praticados pelos médicos e a rede de proteção política que permitiu aos condenados continuar trabalhando sem qualquer impedimento nos últimos 14 anos. As denúncias da família levaram à instalação da CPI do Tráfico de Órgãos em 2004, quando casos semelhantes vieram à tona, mas todos os pedidos de indiciamento no relatório final foram arquviados. O pai do menino recebeu asilo político na Itália em 2008, alegando perseguição, e hoje vive em Londres.