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Professores do Direito da UFMG denunciam colega por homofobia

Alunas teriam sido ameaçadas de processo por desembargador que criticou beijo gay

Minas Gerais|Enzo Menezes, do R7

Professor teria dito que "graças a Deus existe um pouco de heterossexualidade no Direito"
Professor teria dito que "graças a Deus existe um pouco de heterossexualidade no Direito"

Afirmações de um professor do Direito da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) em tom homofóbico em sala de aula provocaram a revolta de alunos e levaram professores da Universidade a pedir abertura de processo administrativo e afastamento do cargo.

O documento entregue no início da semana à reitoria denuncia a conduta do desembargador José Marcos Rodrigues Vieira, professor da UFMG há 35 anos, e pede também a responsabilização do diretor da Faculdade, Fernando Gonzaga Jayme, do vice-diretor Aziz Tuffi Saliba e da coordenadora da graduação, Yaska Fernanda de Lima Campos, por terem supostamente tentado acobertar as denúncias.

Em aula do 5º período, o professor José Marcos Rodrigues teria dito que "graças a Deus existe um pouco de heterossexualidade no Direito" e, em seguida, condenou o beijo entre duas atrizes na novela "Babilônia". Incomodados, vários alunos se retiraram da sala e teriam sido chamados de "vagabundos". Uma das estudantes reclamou da postura do desembargador no Facebook e, na aula seguinte, o professor afirmou que era vítima de ofensas na internet, destacou os títulos acadêmicos que possuía e ameçou processá-la, segundo relatos dos alunos.

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Alertado, o diretor Fernando Gonzaga marcou uma reunião entre os alunos, Rodrigues e representantes da faculdade. Em áudio gravado pelos estudantes, a coordenadora Yaska Campos afirma que "seria impossível" o afastamento do professor desta turma e que os alunos deveriam entrar em acordo para não provocar uma "péssima convivência".

Conforme a gravação, Gonzaga apontou que seria “preciso perguntar a ele se ele tinha alguma intenção de discriminar alguém. A questão é se havia ou não a intenção dele ser homofóbico. Porque ele não é". Depois, teria tentado evitar um pedido de sindicância dizendo que "se eu quisesse, poderia até manipular essa comissão”, segundo o documento ao qual o R7 teve acesso.


O vice-diretor, Azziz Tuffi Saliba, lembrou que a sindicância só geraria advertência, sem o afastamento, e que uma denúncia formal “transformaria a situação em puro litígio”.

"Discriminação"


Para os professores que assinam o pedido, houve "um ato claramente discriminatório e opressivo protagonizado por um professor em sala de aula desnaturar-se nas instâncias de poder", com a direção da faculdade tentando impedir a investigação "esforçando-se para proteger o professor denunciado de qualquer ato administrativo formal". Segundo a denúncia, a aula virou "palco para uma sucessão de atos de discriminação, lesbo-homofobia, autoritarismo, tentativas de silenciamento e desvios em algumas das funções mais elevadas de servidores públicos no exercício de atividades".

Procurado pela reportagem, Fernando Gonzaga não quis detalhar o caso por tratá-lo como "questão interna da faculdade". Entretanto, ele apontou que "nunca houve denúncia contra esse professor".

— Quem sou eu para julgar alguém. Não posso julgar um fato sem tomar conhecimento oficial. Se manifestasse opinião, já emitiria um julgamento, e isso deve ser apurado no devido processo, com respeito ao direito de defesa.

O professor denunciado por ter supostamente adotado discurso homofóbico, José Marcos Rodrigues Vieira, não quis conceder entrevista.

Coordenador do CAAP (Centro Acadêmico Afonso Pena), que também assina o pedido, Rodrigo Ribeiro reafirma que o desembargador teve postura homofóbica e tentou intimidar os universitários.

— Não é um problema entre ele e um aluno, mas com a causa [LGBT]. E ainda usa um discurso hierárquico e de autoridade, de que é desembargador e tem 35 anos de casa, para ameaçar processá-la por injúria.

A reitoria da UFMG confirmou que recebeu o pedido de abertura de processo disciplinar na noite de segunda-feira (6) e que, antes de qualquer análise, nenhum integrante poderia se manifestar sobre o caso.

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