Assaltos nas ruas crescem 40% e voltam a assustar RJ no último ano da gestão Cabral/Pezão
Queda do lucro do tráfico leva bandidos a praticar outras modalidades de crimes
Rio de Janeiro|Rodrigo Teixeira, do R7
O incremento de policiamento em comunidades a partir das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), embora tenha ampliado a segurança, pode ter contribuído para o aumento do volume de roubos a pedestres no Rio de Janeiro. No Estado, os assaltos nas ruas saltaram 40% de janeiro a agosto ante o mesmo período do ano passado. Somente na capital fluminense, até agosto passado, foram registrados 26.565 casos de roubo a transeunte — 7.300 a mais que o mesmo intervalo de 2013. Especialistas ouvidos pelo R7 avaliam que a queda do lucro do tráfico pode ter levado criminosos a buscarem outras modalidades de crime.
Na última quarta-feira (15), um tiroteio após tentativa de assalto deixou um morto e três feridos perto do largo da Carioca, no centro do Rio de Janeiro. Ao menos dez disparos foram ouvidos. Dois suspeitos ficaram feridos e foram hospitalizados. Uma mulher foi atingida por um tiro de raspão. Um policial à paisana reagiu a uma saidinha de banco e foi morto pelos bandidos. Para Paulo Storani, capitão do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) entre 1994 e 1999, o aumento dos roubos no Estado pode ser explicado por uma possível falta de policiamento nas ruas e batalhões, o que teria se acentuado após a adoção das UPPs.
— O delito é cometido por vontade individual, da oportunidade e de meios facilitadores para que isso ocorra. A polícia atinge o ponto da oportunidade de se cometer o delito. Sem polícia, aumenta a oportunidade de se cometer um delito, já que a motivação para delinquência continua crescendo. [...] Existe um déficit de aproximadamente 20 mil homens nas forças de segurança do Rio para atender à demanda de policiamento ostensivo na rua e operações policiais.
O especialista em segurança disse que, nos últimos cinco anos, a maioria dos PMs que ingressaram na corporação foram colocados para atuar em favelas ocupadas.
— A UPP é um projeto exitoso, mas baseado em efetivo policial. Quem ingressou na Polícia Militar, nos últimos cinco anos, foi para as UPPs, não suprindo o déficit de pessoal nos batalhões e permitindo que esse déficit aumente.
Dados divulgados pelo ISP (Instituto de Segurança Pública do Rio), órgão da Secretaria de Segurança do Estado, mostram que maio passado registrou o maior volume de roubos (residência, coletivos, transeuntes, carros e celulares) na comparação com os meses de maio dos últimos dez anos. Foram 13.967 roubos — volume 14% superior ao verificado em maio de 2007, primeiro ano do governo Sérgio Cabral.
Entre janeiro e agosto de 2013, 38.967 pessoas foram assaltadas nas ruas de todo o Estado. No mesmo período deste ano, 54.925 assaltos foram registrados, um aumento de 40%.
Procurada pelo R7, a Polícia Militar afirmou que, em agosto passado, foi atingido o recorde de prisões e apreensões de adolescentes (3.507) num único mês, desde que os índices de criminalidade passaram a ser quantificados pelo ISP em 2000. A corporação destacou ainda que, neste ano, batalhões receberam PMs para complementar seus efetivos, como o 2° BPM (Botafogo) com 120 policiais, o 5° BPM (centro) com 140 policiais e o 7° BPM (São Gonçalo), que recebeu 144 agentes. Em nota, a PM reiterou a importância do registro das ocorrências por vítimas e disse que usa esses dados para planejar o policiamento.
Migração da criminalidade
Na Baixada Fluminense e Grande Niterói, os roubos também cresceram. Na baixada, o acumulado de assaltos a pedestres até agosto deste ano chega a 15.713 casos — 4.456 a mais que em 2013. Na Grande Niterói, que contempla as cidades de São Gonçalo, Itaborái e Rio Bonito, os roubos a transeuntes até agosto passado chegam a 8.769 — 3.102 casos a mais do que em 2013.
O diretor do Sindicato dos Policiais Civis do Estado do Rio de Janeiro e especialista em segurança, Fernando Bandeira, avalia que, após a política de UPPs, houve uma migração da criminalidade para regiões como a Baixada Fluminense.
— A mancha criminal aumentou onde há ausência de polícia na rua. Existe um número maior de outros delitos urbanos devido ao asfixiamento do tráfico.
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Arrastões nas praias
A sensação de insegurança aumentou também nas praias, onde menores de idade chegaram a praticar arrastões nos últimos fins de semana. Para reforçar a segurança na orla da zona sul, a Polícia Militar antecipou em três meses a Operação Verão, que acontece todo o ano na orla carioca. Geralmente a segurança era intensificada em dezembro, no início do Verão.
Em 2014, a operação foi antecipada para setembro e vai contar com 650 policiais, que receberam treinamento especializado, que inclui técnicas de abordagem nas praias, observação e preparação física. O patrulhamento ostensivo já ocorre nos finais de semana e vai até o fim do verão e conta com efetivo dos batalhões de Botafogo, Flamengo, Copacabana, Leblon e Ipanema, além do Batalhão de Choque, do Batalhão de Ações com Cães e de recrutas do Cfap (Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças).
Assaltos nas ruas do Rio de Janeiro. Assista: