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Caso Cláudia: tiro partiu de PMs, diz testemunha; advogado fala em assassinato

Reconstituição da morte da mulher arrastada por viatura deve ocorrer na semana que vem

Rio de Janeiro|Do R7

PMs prestaram nesta semana depoimento à Polícia Civil
PMs prestaram nesta semana depoimento à Polícia Civil

Uma moradora da comunidade Congonha disse nesta sexta (21) em depoimento à polícia que o tiro que matou Cláudia da Silva Ferreira, de 38 anos, partiu de policiais militares e que, no momento do disparo, não havia confronto com criminosos na comunidade Congonha, em Madureira, zona norte do Rio. A informação é do advogado da família de Cláudia, João Trancredo, que definiu a morte como um "assassinato". O defensor, que classificou o depoimento como "bombástico", disse que os PMs tinham a intenção de mudar a cena do crime. O corpo de Cláudia, que foi transportado até o Hospital Federal de Bonsucesso no porta-malas da viatura, ficou pendurado após o compartimento se abrir e foi arrastado por 350 m.

A testemunha contou que os PMs caminhavam pela rua em que morava Cláudia com armas em punho. Segundo relata o defensor a partir do depoimento, a vítima foi alvejada quando os PMs cruzaram com ela. O advogado diz que outra testemunha corroborou essa versão ao declarar à polícia que, no, local havia somente os PMs e o corpo de Cláudia. Trancredo diz que as moradores cogitam a possibilidade de pedir proteção ao Estado.

Tancredo afirmou ainda que a família viu com preocupação a soltura dos três PMs envolvidos na morte. Os agentes deixaram nesta sexta o Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu. Segundo o advogado da família, João Tancredo, os parentes da vítima não compreendem a decisão judicial e se sentem inseguros.

O viúvo e uma filha de Cláudia prestaram depoimento à polícia nesta sexta. Uma reconstituição deve ser feita na semana que vem.


Alex Sandro da Silva Alves, Adir Serrano Machado e Rodney Miguel Arcanjo ganharam a liberdade provisória com base na decisão da juíza Ana Paula Monte Figueiredo Pena Barros, da Auditoria da Justiça Militar. Na quinta-feira (20), Ministério Público do Rio disse concordar com o pedido de liberdade feito pela defesa dos suspeitos, detidos desde o dia 16. A defesa dos PMs alegou que não há necessidade de eles ficarem detidos com as investigações ainda em andamento. Na decisão, a juíza citou fatos relatados no auto de prisão em flagrante.

O documento diz que os PMs decidiram transportar Cláudia no porta-malas por terem sido hostilizados por moradores da comunidade. A magistrada conclui que, a partir das imagens, não é possível saber se os PMs tinham ciência de que a mulher estava sendo arrastada.


"Assim sendo, por mais fortes, chocantes e, até mesmo revoltantes que sejam as imagens da senhora Cláudia Ferreira da Silva, já baleada, sendo arrastada no asfalto presa ao reboque da viatura, dos termos dos autos do APF [auto de prisão em flagrante] não é possível inferir que os policiais militares presentes na viatura conheciam tal circunstância e a ignoraram. Ao contrário, o que mostram as imagens é que a viatura parou e dois policiais desceram para a colocarem de volta no interior da viatura", afirmou a magistrada no despacho.

A juíza pondera, na decisão, que o compartimento de presos da viatura não é o local correto para o transporte de uma pessoa baleada, mas que "as circunstâncias que levaram os policiais a agir desta forma serão melhor avaliadas pelo Conselho Permanente de Justiça, caso sejam denunciados e processados pelo crime previsto no art. 324 do Código Penal Militar".


O artigo consiste em "deixar, no exercício de função, de observar lei, regulamento ou instrução, dando causa direta à prática de ato prejudicial à administração militar". Ana Paula Monte avalia que manter os PMs presos seria um "adiantamento" de uma possível pena.

Ela ainda ressalta que o laudo do Instituto Médico Legal aponta como causa da morte "lacreação cardíaca e pulmonar de ferimento transfixante do tórax" e não o arrastamento da vítima por 350 m. Segundo ela, a origem do disparo (PMs ou traficantes) só pode ser apontada pela perícia.

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