Fuzilados em carro: mãe diz que filho estava vivo e PM negou socorro
Jovens morreram após serem baleados por PMs em Costa Barros na madrugada deste domingo
Rio de Janeiro|Do R7, com Balanço Geral
A mãe de Wilton Esteves, um dos cinco jovens que morreram após terem o carro fuzilado por PMs em Costa Barros, zona norte do Rio, disse que o filho estava vivo quando ela chegou ao local do crime. Márcia Ferreira ainda denunciou omissão de socorro por parte dos policiais.
O carro dos jovens foi baleado com ao menos 40 tiros na madrugada do último domingo (29) após eles terem passado o dia no Parque de Madureira, também na zona norte.
De acordo com Márcia, ela pediu que os agentes encaminhassem os meninos para uma unidade de saúde próxima ao lugar onde foram baleados.
— Eu cheguei e fiquei gritando para os policiais, pedindo socorro, pelo amor de Deus, porque era para os policiais salvarem eles. E eu fiquei falando que tinha um UPA [Unidade de Pronto-Atendimento] ali perto. Falei: 'Pelo amor de Deus, vocês não têm filho? Tem um UPA ali perto, socorre ele, ainda está vivo'.
Érica Esteves falou que o sobrinho, que tinha 20 anos, era um rapaz estudioso e estava prestas a se formar no ensino técnico.
— Eu ajudei o meu irmão a criá-lo. Eu vi ele falar a primeira palavra e esses policiais vieram tirar a vida dele. Wilton era um aluno aplicado e estava quase se formando no curso técnico em contabilidade e administração.
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Os corpos de Roberto de Souza Penha, de 16 anos, Carlos Eduardo Silva de Souza, de 16 anos, Cleiton Correa de Souza, de 18 anos, Wesley Castro Rodrigues, de 25 anos, e Wilton Esteves Domingos Junior, de 20 anos, foram enterrados nesta segunda-feira (30). Os sepultamentos ocorreram no cemitério de Irajá, zona norte.
No sepultamento, uma das mães dos jovens afirmou ter sido ameaçada de morte por um dos policiais após se aproximar e dizer que os meninos não eram criminosos.
A ONG Rio de Paz realizou um protesto no cemitério. De acordo com a ONG, o objetivo da ação foi alertar sobre as situações violentas no Estado do Rio. Na manifestação, foram usados cartazes com os nomes das vítimas e uma bandeira do Brasil de 2 m com 50 furos. O fundador da Rio de Paz, Antônio Carlos da Costa, disse que os PMs estão preocupados em assassinar criminosos, mas se esquecem dos inocentes.
PMs presos em flagrante
A Polícia Civil prendeu em flagrante os PMs Thiago Resende Viana Barbosa, Marcio Darcy Alves dos Santos e Antonio Carlos Gonçalves Filho, suspeitos de envolvimento na chacina. Segundo a delegacia da Pavuna (39ª DP), eles vão responder por homicídio doloso — com intenção de matar — e fraude processual, por alterar a cena do crime. O PM Fabio Pizza Oliveira da Silva também foi preso, mas vai responder apenas pelo último crime. Testemunhas relataram que os agentes colocaram uma arma de brinquedo perto do carro em que os jovens estavam.
A Polícia Militar do Rio de Janeiro exonerou na manhã desta segunda (30) o tenente-coronel Marcos Netto, comandante do Batalhão de Irajá (41º BPM), unidade onde os PMs presos suspeitos de matar os jovens são lotados.
Em nota, a PM informou que a exoneração ocorreu "em razão dos últimos lamentáveis acontecimentos envolvendo policiais sob o seu comando". A corporação também informou que "as ações conflitam com as orientações do Comando da Corporação. A exoneração é resultado do esforço que a PM vem desenvolvendo ultimamente no sentido de mudar padrões operacionais de unidades em áreas conflagradas". No lugar de Netto, assume o tenente-coronel Jorge Fernando de Oliveira Pimenta, que atualmente comanda o 32° BPM (Macaé).
O 41º BPM (Irajá) abriu um Inquérito Policial Militar para esclarecer o caso. Segundo a corporação, os agentes presos vão ser transferidos para a unidade prisional da PM e vão responder na Justiça Comum e na Militar.
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