Hospital suspende transplantes e paciente com câncer de fígado aguarda cirurgia: “Tenho que lutar até o fim”
Funcionários não recebem desde outubro e atrasos nos repasses chegam a R$ 23,5 milhões
Rio de Janeiro|Do R7*
A aposentada Norma Maria dos Santos Correa, de 70 anos, tem câncer de fígado e há seis meses aguarda um transplante no HSF (Hospital São Francisco na Providência de Deus), na Tijuca, zona norte. A demora pode ser maior agora que os procedimentos foram suspensos após falta de repasses por parte do Estado. Os funcionários estão desde outubro sem receber.
A unidade de saúde informou que o valor não enviado pela Secretaria Estadual de Saúde – conveniada com o hospital - chega a R$ 23,5 milhões. Os pacientes que precisam realizar transplantes estão sendo transferidos para outros locais. No entanto, a fila de espera chega a 1.000 pessoas.
A moradora de Niterói, região metropolitana do Rio, Norma disse que, caso não realize o transplante, o tumor no fígado pode crescer ou o câncer se espalhar para outras partes do corpo. Ambas as situações tornam a cirurgia inviável. No entanto, a aposentada aguarda a realização do transplante em uma unidade pública, já que não tem condições de arcar com as despesas.
— Eu não tenho dinheiro. Eu não quero. Eu paguei muito para esse Brasil. Meus filhos querem vender tudo para pagar a minha cirurgia, mas eu não vou deixar. Eu acho que tenho que lutar até o fim e não desistir.
De acordo com o hospital, a situação pode provocar uma greve por parte dos funcionários. O HSF ainda disse que, na madrugada da última sexta-feira (18), foi necessário solicitar a transferência de um paciente por falta de recursos, mas o Centro Estadual de Transplantes não estava capacitado para recebê-lo. O hospital teve que realizar o procedimento por conta própria e só na manhã a secretaria enviou os medicamentos para manter o operado.
De janeiro a novembro deste ano, a Unidade de Transplante Renal do HSF realizou 10.658 consultas e 227 transplantes. Já na de procedimento hepático foram 5.108 consultas e 89 cirurgias.
O diretor geral do hospital, Frei Paulo Batista, informou que se tornou “insustentável” manter os transplantes com a falta de recursos.
— Fomos obrigados a decidir pela suspensão de novos atendimentos em algumas áreas. Assim que o mesmo for regularizado, voltaremos a receber novos pacientes com a dedicação e carinho que são as marcas do nosso trabalho.
O coordenador da Unidade de Transplante Hepático do HSF, Lúcio Pacheco, lembra que há pacientes na unidade que têm a cirurgia como única forma de tratamento eficaz.
— A única terapêutica disponível para os pacientes em estágio terminal de doença de fígado e de rim é o transplante. Só quem vive essa angústia ou lida diretamente com o paciente sabe como é difícil essa espera.
A Secretaria de Estado de Saúde informou que os pacientes da unidade ficarão “desassistidos” com a interrupção no atendimento, mas continuam na fila de transplantes e, em caso de disponibilidade, serão encaminhados para que ocorra o procedimento.
No entanto, a pasta disse que a realização da cirurgia depende da aceitação do paciente em realizar o procedimento em outra unidade.
A secretaria ainda reiterou que não tem intenção de fechar o serviço e que está buscando formas de cumprir as responsabilidades financeiras, mas a situação só deve voltar ao normal após os repasses para o Fundo Estadual de Saúde.
*Colaborou Caroline Brizon, do R7 Rio
Caos na saúde: hospital suspende cirurgias de transplantes por causa da crise; veja o vídeo: