No Rio, 90% das crianças à espera de adoção são filhas de usuários de crack
A cada dia pelo menos um recém-nascido é abandonado nos hospitais públicos do Estado
Rio de Janeiro|Do R7
Milhares de casais aguardam a adoção de crianças no Rio de Janeiro. Por outro lado, vários recém-nascidos, filhos de viciados em crack são encaminhado para abrigos e precisam de um lar. A cada dia, pelo menos um recém-nascido é abandonado nos hospitais públicos do Rio de Janeiro. Só em 2013 foram 300 casos. A maioria são filhos de mães viciadas em crack, que, após o parto, voltam para as ruas. Os números representam um aumento de 50% em relação ao ano passado.
A situação tem gerado outro problema, os abrigos públicos não estão preparados para receber as crianças e acabam superlotados. A juíza Ivone Caetano conta que os locais são apenas uma saída para o problema, mas não são adequados para nenhuma criança.
— O número de vagas disponibilizadas pela rede pública é muito pequeno. Além das condições também não serem as melhores. Na minha opinião, está faltando tudo.
A produção do Balanço Geral, com uma câmera escondida, teve acesso a um desses abrigos na Barra da Tijuca, na zona oeste. As imagens mostram o local completamente depredado, com portas arrombadas, janelas quebradas e com muito lixo dentro.
No centro do Rio, um educandário tem recebido o maior número dessas crianças. Mas o local sobrevive apenas de doações e o espaço é limitado. O prédio tem capacidade para 15 crianças, mas acaba recebendo mais do que pode devido ao abandono constante dos filhos pelas mães viciadas em drogas. Além disso, os bebês que chegam a instituição sofrem com abstinência. Elas apresentam sintomas como irritação constante, pouco apetite, sono agitado, entre outros.
Enquanto mães abandonam os filhos 27 mil casais aguardam na fila de adoção no Brasil. O problema é que nem sempre as crianças tem o perfil que os futuros pais procuram. No Estado, 90% das crianças na lista de adoção são filhos de usuários de crack. Mas o dado parece não ter assustado o casal Janise e Thales. Eles adotaram uma delas, o Nicolas. Ele morava com oito irmãos em um barraco em uma comunidade da Baixada Fluminense. Thales relata o estado em que encontraram o menino.
— Ele estava deitado em um colchão, sujo, preto, sem um travesseiro, sem um lençol, cheio de mosca. A fisionomia dele estava toda destruída por causa do catarro seco no rosto, sem conseguir respirar e tendo convulsões.
As crianças abandonadas só se tornam disponíveis para adoção quando se esgotam todas as possibilidades dos pais ou parentes darem os cuidados necessários a elas e na maioria das vezes comprovar isso leva tempo. A espera também fez parte da história de Vânia. Ela aguardou por três anos até conseguir a guarda definitiva de Mariana, que na época era um bebê.
— Eu queria ser mãe e eu sou mãe. Não importa se eu não gerei, mas eu gerei de uma forma linda, maravilhosa, sagrada.
Atualmente, Mariana tem 7 anos e a mãe dela acredita que ela terá um futuro promissor. Assista ao vídeo: