Amante de fiscal que confessou corrupção ameaçou denunciar esquema
Jornal revela escutas que apontam outros servidores que podem estar envolvidos
São Paulo|Do R7
A amante de um dos fiscais presos por fraude milionária na prefeitura de São Paulo durante a gestão de Gilberto Kassab ameaçou denunciar todo o esquema. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. O auditor Luís Alexandre Cardoso Magalhães teve os telefones grampeados durante as investigações do MPE (Ministério Público Estadual). As escutas revelaram que a amante, que tem um filho com Magalhães, recebia pensão de R$ 700 e sabia do esquema de corrupção. Para ficar quieta, ela queria a guarda da criança, uma pensão de R$ 3 mil, móveis, o cachorro do casal e uma câmera digital.
Magalhães é dono do Porsche Cayenne amarelho apreendido, na última quarta-feira (30), na operação que resultou na prisão dele e de mais três servidores ligados à Subsecretaria da Receita da prefeitura da capital. Eles são apontados como integrantes de um esquema de corrupção que causou prejuízos de pelo menos R$ 500 milhões aos cofres públicos, somente nos últimos três anos. Todos são investigados pelos crimes de corrupção, concussão, lavagem de dinheiro, advocacia administrativa e formação de quadrilha.
O fiscal da prefeitura aceitou um acordo de delação premiada oferecido pelo MPE e confessou que cada um dos quatro envolvidos no esquema recebia R$ 80 mil por semana. A estimativa é que patrimônio não declarado de Magalhães supere R$ 7 milhões.
Nos telefonemas, a amante disse que foi espancada pelo ex-companheiro quando ainda estava grávida para forçar um aborto, que não aconteceu. As interceptações telefônicas foram feitas entre os dias 2 e 4 de setembro deste ano.
A mulher também ligou para Eduardo Horle Barcellos, outro servidor preso suspeito de participar da fraude na prefeitura, e afirmou que iria denunciar o ex-companheiro. Por causa dessa ligação, os fiscais envolvidos no esquema conversaram entre si. Barcelos ligou para Carlos di Lallo, outro servidor preso por corrupção, e disse que a mulher era "encrenca".
Propina de construtoras à prefeitura terminou em cadeia e multas milionárias em Nova York
A amante de Magalhães também telefonou para o ex-subsecretário da Receita Municipal Ronilson Rodrigues, o quarto servidor preso na última semana, e apontado com chefe do esquema. Ela contou que tinha diversos documentos que comprometiam o grupo e que sabia como era feita a lavagem de dinheiro.
As escutas do MPE revelaram também que ela ameaçou o amante dizendo que enviaria e-mails a quatro secretários da gestão do atual prefeito Fernando Haddad (PT). Ela disse que denunciaria o esquema de corrupção em detalhes.
Mais envolvidos
Os telefonemas gravados entre a mulher e Luís Alexandre Cardoso Magalhães sugerem que vários outros servidores podem estar envolvidos na fraude. Nas conversas do casal, ela cita mais 14 pessoas, além dos quatro presos até agora.
A Odebrecht, uma das maiores empresas de construção civil na América Latina, é citada nas conversas como responsável por emitir notas frias. A construtora nega envolvimento no esquema.
Prisão prorrogada
A Justiça prorrogou, por mais cinco dias, a prisão temporária de três dos quatro suspeitos de esquema milionário de pagamento de propina na Prefeitura de São Paulo. Todos ocuparam cargos de confiança na Secretaria Municipal de Finanças, na gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD).
O Ministério Público pediu a libertação do agente de fiscalização Luiz Alexandre Magalhães que aceitou colaborar com as investigações. Magalhães, que era ameaçado pela amante, pode ser libertado ainda neste domingo (3).