Após desocupação em hotel, metade das famílias se espalha pelas ruas do centro
Cerca de 130 famílias prometem permanecer nas proximidades da avenida São João
São Paulo|Do R7
Após a desocupação do Aquarius hotel, na avenida São João, cerca de 130 famílias espalharam-se pela região central da cidade. Integrantes do movimento afirmam que permanecerão nos arredores do local desocupado até que tenham um lugar para ir.
De acordo com Silmara Fungo, coordenadora da FLM (Frente de Luta por Moradia), 205 famílias estavam abrigadas no hotel havia seis meses. Com a decisão judicial que determinava a reintegração de posse, 75 voltaram para a casa de parentes.
— As outras famílias iriam para uma ocupação na avenida Líbero Badaró, mas o lugar não comporta todo mundo. Então, para privilegiar uns e não outros, resolvemos que todos ficarão na rua por enquanto — afirmou Silmara.
Silmara, porém, afirma que as famílias não devem, ao menos inicialmente, permanecer juntas.
— Se nos juntarmos, a polícia joga bomba.
A prefeitura diz que disponibilizou uma unidade do Cras (Centro de Referência de Assistência Social) na Sé para os moradores do prédio que precisarem de atendimento, mas os sem-teto afirmam que não querem ser tratados como moradores de rua.
Confrontos e detidos
A reintegração de posse foi marcada por confrontos. Depois de os sem-teto resistirem à ação da PM pela manhã, grupos que, de acordo com a polícia, não aparentavam ter ligação com o movimento, passaram a atacar, à tarde, os PMs que davam apoio à retirada de móveis de dentro do hotel.
Dois profissionais de imprensa ficaram feridos. O repórter Cesar Menezes, da Rede Globo, foi atingido por uma bala de borracha nas costas. Já o auxiliar técnico Osmar Senna, também da Globo, foi pisoteado. Ambos foram levados a hospital. Durante a tarde, outras cinco pessoas foram levadas à Santa Casa — duas delas eram policiais. Não há informação sobre o estado de saúde deles.
Ao menos 84 pessoas foram detidas — 75 por desobediência, seis por furto, duas por lesão corporal contra PMs e uma sob acusação de incendiar um ônibus. A PM apresentou no 3º DP (Santa Ifigênia) 12 coquetéis molotovs que teriam sido achados dentro do prédio desocupado.
Após o conflito, a PM decidiu manter cerca de 850 homens na região central de São Paulo durante a madrugada, como explica o comandante de policiamento da capital, o coronel Glauco Silva de Carvalho.
— É para nós mantermos a ordem se houver a possibilidade de empregar a força.
O efetivo foi distribuído em cinco pelotões do Choque e outros cinco da Força Tática e policiais do Comando de Policiamento da Copa (CPCopa) que foi mantido após o evento em regiões de alta concentração de pessoas.
Ainda de acordo com o oficial, a avenida Paulista ganhou o reforço de 60 policiais militares.
Cofre
O advogado dos proprietários do imóvel, Bruno Forli Freiria, nega que o prédio estivesse desocupado quando os integrantes da FLM invadiram o local.
— Lá dentro deste imóvel funciona um escritório da empresa, do Aquarius Hotel. Lá havia um arquivo, um cofre com inúmeros documentos, havia pessoas, até por isso a juíza entendendo ela preferiu a liminar.
Silmara, da FLM, afirma que, no momento da invasão, havia no prédio apenas um vigia. Ele confirma a existência de um cofre no 20º. E afirmou que ele não foi mexido.
Uma ação de desapropriação do hotel, movida pela prefeitura, ainda tramita na Justiça. Mas o governo municipal afirma que desistiu de transformar o prédio em local de moradia popular por causa do custo — acima da média de medidas do tipo.
O advogado dos proprietários afirma que os donos do lugar ainda esperam um acordo com a prefeitura:
— O intuito deles [do Aquarius Hotel, com a reintegração] é assegurar a posse sobre imóvel até que a prefeitura enfim desaproprie.