Mesmo investigado sob suspeita de enriquecimento ilícito, o engenheiro Roberto de Farias Torres, um dos dois funcionários da Prefeitura de São Paulo flagrados em um vídeo tentando extorquir dinheiro de um comerciante dentro da Câmara Municipal de São Paulo, foi indicado, em abril deste ano, pelo vereador Adilson Amadeu (PTB) para integrar a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Alvarás.
Antes de abril, Torres já estava na mira da Controladoria-Geral da Prefeitura de São Paulo. Ele e outros 59 servidores públicos municipais estão na malha-fina por serem donos de um patrimônio muito acima do que o salário recebido do município poderia bancar. Torres, por exemplo, recebe mensalmente R$ 4 .000, mas é investigado sob suspeita de ter comprado 19 imóveis nos últimos anos, alguns deles de alto padrão.
O apadrinhado do vereador Adilson Amadeu e Antônio Pedace, assessor parlamentar do vereador Eduardo Tuma (PSDB), foram flagrados em um vídeo no qual aparecem exigindo R$ 15 mil de um empresário para conseguir a regularização de seu imóvel. Nas imagens, os dois servidores públicos induzem o empresário a acreditar que, caso não concordasse com o pagamento da propina, o seu imóvel iria para a lista negra da CPI dos Alvarás.
Um terceiro suspeito de envolvimento no esquema, o engenheiro civil Marcos Peçanha, também aparece no vídeo ao baixar o valor da propina para R$ 13 mil e afirmar que a extorsão do dinheiro serviria para “presentear” o presidente da CPI dos Alvarás, vereador Eduardo Tuma. O engenheiro Peçanha é suspeito de usar um escritório do apadrinhado de Adilson Amadeu, o engenheiro Torres, para concluir as negociações das propinas.
Torres, Pedace e Peçanha indicaram ao empresário o escritório de uma arquiteta para que ela fosse contratada. A partir do pagamento dos R$ 13 mil à arquiteta, o estabelecimento do empresário ficaria livre do rigor da fiscalização.
No dia 23 de abril deste ano, o vereador Adilson Amadeu enviou um requerimento à CPI dos Alvarás pedindo que Roberto de Farias Torres fosse cedido pela Secretaria de Licenciamento, onde estava lotado, para prestar "assessoria técnica permanente" à comissão.
Quando fez o pedido para levar Torres para trabalhar na CPI, o vereador Adilson Amadeu abriu mão de contar com a expertise de vários técnicos da Prefeitura de São Paulo que lidam com alvarás há anos. Na CPI, Torres recebia comissionamento para atuar ao lado do vereador.
A partir das suspeitas contra Adilson Amadeu, a Câmara Municipal decidiu abrir uma sindicância para investigar os funcionários suspeitos de cobrar propina. Assim que o escândalo foi revelado, a corregedora-geral da Câmara, vereadora Sandra Tadeu (DEM), pediu licença para tratar de assuntos particulares. Adilson Amadeu e Eduardo Tuma são parceiros da vereadora na Corregedoria.
Procurados pelo R7, os vereadores Amadeu, Tuma e Sandra Tadeu não foram localizados para se manifestar sobre as suspeitas envolvendo cobrança de propina na CPI dos Alvarás. O mesmo ocorreu com Torres, Peçanha e Pedace.