"Dói demais ver que Sandro Dota quer manchar a imagem da minha filha", diz mãe de Bianca Consoli
Marta será novamente testemunha no júri de Sandro Dota, que começa nesta segunda-feira
São Paulo|Ana Cláudia Barros, do R7
Nesta segunda-feira (16), quando estiver novamente diante do acusado de assassinar a filha dela, Marta Consoli terá uma missão especial: dar voz a Bianca, morta aos 19 anos em setembro de 2011, dentro de casa, na zona leste de São Paulo. O motoboy Sandro Dota, que no mês passado confessou o homicídio, irá mais uma vez a júri popular amanhã. Em julho passado, ele chegou a se sentar no banco dos réus, mas, no momento do interrogatório, desconstituiu a defesa e o julgamento foi adiado.
Apesar do desgaste, Marta não quis ser poupada do depoimento. A exemplo do que aconteceu na primeira vez, ela figura no rol das testemunhas.
— Faz dois anos que eu perdi minha filha e há dois anos estou nesta busca por justiça. Não é agora que vou parar, não é agora que vou ficar calada. O Sandro conseguiu calar a voz da Bianca. Ela não está mais aqui para se defender das mentiras que ele fala. Mas eu estou. A voz de Bianca é a minha voz. Enquanto eu tiver voz, vou defender a minha filha.
A mãe da jovem, que na semana passada foi ao cemitério visitar o túmulo da estudante, revela que enfrentar o novo julgamento significa trazer à tona, com mais intensidade, a dor da perda. Em suas palavras, a sensação é de “ir ao velório de Bianca de novo”.
— É um peso a mais. Você se lembra de todos os detalhes. Saber que ela poderia estar aqui. Para visitar minha filha, eu tenho que ir lá, no túmulo dela.
Emocionada, ela desabafa:
— Você fica na expectativa de qual mentira ele [Sandro Dota] vai contar desta vez. O que ele fala na TV, o que ele escreve é só mentira. Ele é um grande manipulador. Eu fico sem ação. Dói demais ver que ele está tentando manchar a imagem da minha filha.
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Ao confessar o homicídio, Dota afirmou que matou a cunhada durante uma briga. Segundo ele, a estudante teria batido no filho de Daiana (irmã da vítima e mulher dele na época do crime) e ele foi até a casa da jovem para tirar satisfação. A versão é desmentida pela família da jovem. Marta desabafa:
— Ficamos indignados. É uma palhaçada. Ele quer sair do estupro e, para isso, tinha que inventar outra coisa para ele se livrar, dizer que entrou [na casa] por outro motivo, e não porque assediava a minha filha. A única verdade que ele fala é que a assassinou. Ele planejou tudo, calculou tudo direitinho.
Para o Ministério Público, o motoboy matou a universitária porque não conseguiu manter um relacionamento sexual consensual com ela. O réu responde por homicídio triplamente qualificado (meio cruel, motivo fútil e recurso que dificultou a defesa da vítima) e por estupro. O acusado nega o crime sexual.
A mãe de Bianca completa:
— Ele não tem como se defender, então, quer manchar a imagem da Bianca, para que ela seja mostrada como uma pessoa má.
Luta sem fim
O sofrimento provocado pela perda de Bianca a aproximou do grupo “Justiça é o que se busca”, uma organização sem fins políticos e financeiros, cujos integrantes estarão no Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste, durante o júri de Dota. Desde então, Marta frequenta manifestações, julgamentos e passou a se dedicar à militância. Mesmo com o desfecho do caso, ela diz que sua luta não terá fim.
— O caso da Bianca vai ser solucionado. Ele vai ser condenado a pena máxima. Eu acredito. Mas minha luta não vai parar. Quero continuar lutando junto das outras mães para poder ver a justiça ser feita nesse País.