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Dois meses após morte de soldados em lago de quartel, mães estão sem respostas do Exército

Inquérito sobre circunstâncias das mortes já está pronto, mas famílias não têm acesso

São Paulo|Giorgia Cavicchioli, do R7

Michelly ao lado de Jonathan e Sandra com o filho Vítor: mães querem saber o que aconteceu com os filhos
Michelly ao lado de Jonathan e Sandra com o filho Vítor: mães querem saber o que aconteceu com os filhos Michelly ao lado de Jonathan e Sandra com o filho Vítor: mães querem saber o que aconteceu com os filhos

“Mataram três soldados e agora vão matar as mães. É uma tortura”. Isso é o que Michelly Turella, mãe de Jonathan Turella, diz sobre o Exército Brasileiro. O filho dela foi um dos três soldados que morreram afogados em uma lagoa no quartel, em Barueri, no dia 24 de abril deste ano.

A angústia da mãe é justificada pelo fato de ela esperar uma resposta sobre a morte do filho há mais de dois meses. Ela conta que foi prometido para os parentes dos jovens, que tinham entre 18 e 19 anos, que em 40 dias após a morte eles teriam uma resposta sobre o inquérito que investigava as mortes. Porém, até hoje, eles não receberam nenhuma resposta.

A versão do exército é que os soldados morreram durante um treinamento e que tudo foi um acidente. Mas Michelly diz que quer provas dessa versão porque o filho dela não sabia nadar e tinha, inclusive, medo de água.

— Eu duvido que meu filho entraria dentro desse lado por livre e espontânea vontade. No meu coração de mãe, eu tenho duas hipóteses: ou mandaram ele entrar para pegar alguma coisa lá dentro, ou jogaram ele em um “trote”.

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A mãe de Jonathan conta que o filho sempre comentava sobre como as atividades dentro do quartel eram desafiadoras e difíceis, mas que ele fazia mesmo assim porque “missão dada era missão cumprida”. Ela lembra que, certa vez, o filho estava com pneumonia em decorrência dos banhos gelados que tinha que tomar e recebeu um atestado médico para ficar de fora das atividades por três dias. Mesmo assim, ele foi obrigado a fazer o treinamento.

Michelly teve três filhos. Um deles morreu aos 21 anos em decorrência de uma distrofia muscular. Depois, perdeu Jonathan, que era quem mais ajudava a mãe a cuidar do irmão doente. Hoje, ela diz que encontra forças para continuar graças ao seu filho mais novo, que tem 10 anos.

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Quando pensa na possibilidade de, um dia, o seu filho mais novo ser obrigado a se alistar no Exército, a mãe diz que “não vai deixar”. “Nem que eu tenha que entrar na Justiça”, diz ela.

— O Exército matou o irmão dele. Eu dei meu filho vivo apara eles acreditando que nada de mal acontecia com ele e eles entregaram meu filho dentro de um caixão. Está sendo muito difícil. Eu tomo remédio tarja preta, ontem eu entrei em desespero, comecei a chorar muito... para acreditar que meu filho morreu, eu tenho que ir no cemitério.

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Ela diz que, em casa, ela sempre tem a impressão de que Jonathan vai chegar a qualquer momento e que só queria uma resposta para “aliviar um pouco o coração”.

Outra mãe que espera angustiada por respostas é Sandra da Costa Ferreira. O filho dela era o soldado Vítor da Costa Ferreira, outra vítima de afogamento no lago. Ela conta que ele também não sabia nadar e que acredita que tenham mandado ele entrar na água. Como ele era muito obediente, a mãe diz que o soldado acataria uma ordem superior.

— Meu filho foi sempre um menino muito obediente e certinho. Ele nunca teve vício nenhum, nunca colocou uma bebida na boca, nunca foi pra uma balada. Eu só soltei meu filho pra ir pro Exército porque era obrigatório.

Sandra conta que o jovem trabalhava de segunda a sexta e que, aos finais de semana, fazia “bico” como animador de festas vestido de palhaço e também como garçom. “Ele não era nenhum marginal, ele era um trabalhador”, diz a mãe que também relata várias agressões e abusos que aconteceram dentro do quartel. Como forma de desabafo, o menino contava para ela que levava socos, ficava longos períodos debaixo do sol escaldante e com a garganta seca.

— No começo, foi um tratamento muito hostil, duro. Meu filho queria desistir. Até mesmo agrediram meu filho. Judiaram primeiro pra depois matar.

A mãe diz que, até agora, nenhuma autoridade a procurou “para nada”. Ela conta que o filho era “a alegria da casa” e que isso foi tirado dela.

— É um direito nosso, como mãe, saber o que aconteceu realmente naquele dia. Nós cuidamos dos nossos filhos, nós entregamos nossos filhos vivos e eles entregaram eles mortos com um atestado de óbito e uma bandeira do Brasil.

A reportagem entrou em contato com Comando Militar do Sudeste por meio de sua assessoria de imprensa para pedir acesso ao relatório com as causas das mortes e também questionar por qual motivo as famílias ainda não obtiveram respostas sobre o caso.

Por meio de nota, foi dito que o Inquérito Policial Militar que apurou as causas “teve sua abertura determinada pelo comandante da 2ª Região Militar no mesmo dia do acidente, 24 de abril, sendo formalmente instaurado no dia 25 de abril e encerrado no dia 5 de junho” e “encaminhado à 2ª Circunscrição Judiciária Militar, órgão judicial a quem cabe as próximas etapas”.

Além disso, o Comando Militar do Sudeste disse que “o comandante da 2ª Região Militar apoiou e apoia através de psicólogos e assistentes sociais as famílias dos militares envolvidos”. Como a reportagem não teve as perguntas respondidas por meio da nota, foi solicitado outro posicionamento com a elucidação da pergunta da família: qual o motivo de as famílias não saberem das circunstâncias das mortes. Até o fechamento desta matéria, a reportagem não obteve respostas.

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