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"Ele nunca mais foi meu filho", diz mulher que teve que entregar bebê após dar à luz na cadeia

Parto foi realizado em 2001 com os pés e as mãos da detenta algemados à maca

São Paulo|Ana Ignacio, do R7

Grávidas relatam dificuldade de acompanhamento médico em cadeias
Grávidas relatam dificuldade de acompanhamento médico em cadeias Grávidas relatam dificuldade de acompanhamento médico em cadeias

Maria*, 38 anos, é mãe de dois meninos. Um de 13 e outro de 3 anos. Os dois nasceram no cárcere. Em 2001, quando cumpria pena por furto em Pinheiros, na capital paulista, foi levada ao hospital regional de Osasco seis horas após a bolsa estourar. Algemada pelos pés e pelas mãos, deu à luz um menino. Ficou sabendo o sexo do bebê na hora do nascimento, mas não pôde pegá-lo nos braços. Passou três dias no hospital sem tomar banho e continuou algemada até deixar a unidade de saúde em um camburão. Seu bebê foi levado no colo de uma agente penitenciária, no banco da frente.

— Eu comecei a usar droga cedo, aos 13 anos de idade. Vivi altos e baixos e, aos 23 anos, tive um problema com a Justiça. Gestei em cárcere os nove meses. Não fiz um exame sequer. Foi bastante assustador. Minha bolsa estourou era por volta das 15h30. Pedi ajuda, não veio ninguém. Consegui sair para um hospital depois que as meninas [outras detentas] começaram a quebrar coisas na cadeia. Tive meu filho algemada pelos pés e pelas mãos. Ele nasceu às 23h30 do dia 30 de novembro de 2001. Ele não veio para os meus braços.

Após sair do hospital, Maria e seu filho foram para o presídio do Butantã onde ela poderia amamentar e interagir com a criança por ao menos seis meses.

— Lá eram quartos, todos com grades nas janelas, e dava para ficar uma em cada quarto. Mas logo encheu e a gente dividia o quarto em três mães e três bebês. Uma ficava na cama e duas no chão. Fiquei com meu filho três meses. Como a unidade ficou superlotada, foi imposto que eu tinha que entregar meu filho. Chorei, implorei, pedi, clamei, mas não adiantou. Entreguei para a minha mãe.

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Naquele dia, Maria conta que perdeu o filho. Ela voltou para o presídio que cumpria pena e só voltou a ver a criança três anos depois, quando deixou a cadeia. Como sua mãe tinha dificuldade de locomoção e o presídio era de difícil acesso, ela não recebeu visita.

— Ele nunca mais foi meu filho. Até hoje ele não é, ele é da minha mãe. Quando sai da cadeia fui pra casa, ele se escondeu no canto da parede e nunca mais foi meu. Saí cheia de planos e sonhos, mas encontrei um filho que não era mais meu, emprego não existia para mim e, como tive problemas de drogas, nessa decepção me afundei de verdade e fui morar na rua.

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Maria saiu da cadeia em 2004 e, em 2005, estava morando embaixo de um viaduto na rua das Noivas, no centro de São Paulo. Consumida pelas drogas, foi presa por tráfico. Estava grávida de quatro meses. Novamente foi escoltada até o hospital e ficou sabendo o sexo do bebê 15 minutos antes do parto.

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— Dessa vez, eu não fui algemada, mas tive meu filho na presença de um policial militar e da agente penitenciária, só com eles me observando.

Após o parto, amamentou o filho por cerca de dois meses. No entanto, as coisas foram diferentes desta vez. 

— Deus foi maravilhoso para mim. Hoje existe um direito que é das mães encarceradas de responderem em liberdade. Em 25 de julho de 2012 eu fui embora com o meu filho nos braços. Fui pra casa da minha mãe, nunca mais usei drogas. Meu filho transformou minha vida. Sou chefe de confeitaria e trabalho com festas e vendo doces.

Maria responde em liberdade por tráfico e aguarda recurso de revisão de pena. Enquanto isso, continua morando com a mãe, de 67 anos, e os dois filhos.

* A pedido da entrevistada, sua identidade foi preservada

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