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Justiça manda PMs da Rota a júri popular por morte de suspeito de atentado

Suposto assaltante era da facção PCC e apontado como autor de atentado a comandante da organização

São Paulo|Josmar Jozino, da TV Record, especial para o R7, e André Caramante, do R7

Dois soldados da Rota que vão a júri popular são acusados de matar a tiros um assaltante em setembro de 2010 na capital paulista
Dois soldados da Rota que vão a júri popular são acusados de matar a tiros um assaltante em setembro de 2010 na capital paulista

A Justiça decidiu pronunciar (levar a júri popular) os PMs Fábio da Veiga Cabral e Rubens Silva, da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), suposta tropa de elite da PM paulista, acusados de executar a tiros o assaltante Fábio Santos de Oliveira, o Gordex, em setembro de 2010, em Itaquera, zona leste de São Paulo. Os réus podem recorrer em liberdade.

Gordex era apontado como integrante da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) e também como autor do atentado contra o então tenente-coronel e comandante da Rota, Paulo Adriano Lopes Lucinda Telhada, em 31 de julho de 2010, na Freguesia do Ó, zona norte de São Paulo.

Telhada hoje é coronel da reserva da PM, exerce mandato de vereador pelo PSDB na Câmara Municipal de São Paulo e foi eleito no último pleito como o segundo candidato mais votado a deputado estadual pelo mesmo partido.

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As ligações telefônicas de Gordex, assim como de outros integrantes do PCC, eram monitoradas por policiais militares da Rota e do Comando de Policiamento do Interior-8 (CPI-8), sediado em Presidente Prudente, no oeste do Estado. O assaltante teve o último diálogo interceptado na madrugada de 2 de setembro de 2010.

As conversas dele foram gravadas e as informações repassadas ao policial militar Paulo César Sanches, então chefe do serviço reservado da Rota. Gordex passou a ser seguido. Ele ocupava um Gol prata, de placas EEZ-6441/SP.


O veículo trafegava pela avenida Jacu-Pêssego quando Gordex percebeu a aproximação de viaturas da Rota e de um carro descaracterizado, ocupado por homens do serviço reservado, conhecidos como P-2.

Segundo versão dos PMs Cabral e Silva, ambos estavam em uma guarnição da Rota e foram comunicados para acompanhar e perseguir o veículo suspeito, mas o motorista empreendeu fuga até chegar a um condomínio na rua Serra de São Domingos.


Ainda de acordo com depoimentos de Cabral e Silva, Gordex resistiu à prisão e desceu do carro atirando. Os PMs alegaram que revidaram aos disparos e atingiram o assaltante. Ele foi levado para o Hospital Santa Marcelina, mas não resistiu.

Os policiais militares não se feriram. PMs disseram ter encontrado cocaína, um fuzil e dois carregadores de munição no carro de Gordex.

O caso, na época, foi registrado no 32° DP (Itaquera), como resistência seguida de morte. Cabral e Silva, no entanto, foram denunciados à Justiça pelo Ministério Público em 21 de agosto de 2012. Consta na denúncia que os dois PMs agiram “com intuito homicida e por motivo torpe”.

No último dia 10, o juiz Roberto Zanichelli Cintra, do 1º Tribunal do Júri da Capital, pronunciou os dois PMs da Rota. O magistrado tomou a decisão com base em depoimentos de testemunhas e no laudo de exame necroscópico da vítima.

O porteiro do condomínio, Gilmar Gomes Rodrigues, contou em juízo que estava na portaria no dia do fato quando ouviu um tiro, e, assustado correu. Segundo ele, ao retornar à portaria, um rapaz trajando roupas civis se apresentou como policial da Rota e o indagou sobre a possibilidade de acessar as imagens das câmeras de segurança. Ele entrou em contato com a síndica do edifício que não permitiu o acesso.

Priscila Machado Oliveira disse, ao ser ouvida, que era síndica do condomínio na ocasião e que foi pressionada por policiais militares, por telefone, a fornecer as imagens das câmeras de segurança do condomínio. Acrescentou que se recusou a entregar o material e que só o faria com autorização judicial.

O subsíndico do condomínio, Umberto Ferreira dos Santos, declarou em depoimento que entregou o equipamento de segurança para policiais militares que lhe apresentaram um mandado. A fita, porém, foi entregue à Polícia Civil, posteriormente, mas sem as imagens. Nem os técnicos da empresa responsável pelo serviço, também ouvidos em juízo, souberam explicar como isso aconteceu.

Na sentença, o juiz Cintra menciona que “é possível concluir que há indícios de que o delito narrado na denúncia tenha sido praticado pelos réus, o que basta para a sentença de pronúncia”. Outro trecho da sentença diz que “a materialidade do fato delituoso apontado na denúncia está comprovada pelo laudo de exame necroscópico e pelos depoimentos colhidos em juízo”.

Reconhecimento

No dia da morte de Gordex, o então tenente-coronel e comandante da Rota, Paulo Telhada, concedeu entrevista a jornalistas. Ele disse que esteve no Hospital Santa Marcelina e que reconheceu Gordex, sem a menor sombra de dúvidas, como o indivíduo que tentou matá-lo na porta de sua casa, em 31 de julho de 2010.

Dezesseis horas após o suposto atentado contra Telhada, a Sala de Imprensa da Polícia Militar informava que o quartel da Rota, no bairro da Luz, centro de São Paulo, havia sofrido um ataque do crime organizado e que o autor foi identificado como Frank Ligieri Sons, 33 anos.

Policiais militares que faziam a guarda do quartel alegaram que Sons atirou um coquetel molotov e efetuou disparos de arma de fogo contra o prédio da Rota. Os PMs disseram ainda que revidaram e balearam Sons. Ele morreu. Sons era irmão de um ex-sargento da Polícia Militar.

O então secretário estadual da Segurança Pública, Antônio Ferreira Pinto, concedeu entrevista coletiva e afirmou que “achava bisonho alguém atacar o prédio da Rota com uma garrafa de coquetel Molotov”.

A Polícia Civil apurou que o ataque ao quartel da rota nunca aconteceu. Ainda segundo a invetigação oficial, Sons jamais integrou uma facção criminosa. Ele já havia sido preso sob a acusação de ter abusado da filha. 

O sargento Jorge Inocêncio Brunetto e o soldado Sidney João do Nascimento, que serviam na Rota e acabaram transferidos de batalhão, foram indiciados pela morte de Sons e respondem em liberdade ao processo por homicídio doloso (quando há intenção de matar).

Já o processo que apurava o atentado contra Telhada foi arquivado em 28 de janeiro de 2011 pela juíza Elia Kinosita Bulman “acolhendo as ponderações do Ministério Público”.

O R7 não conseguiu localizar os advogados dos PMs Cabral e Silva.

A Defensoria Pública promete brigar na Justiça para que a família de Gordex seja indenizada pelo Estado. “Meu filho foi executado. Três dias antes de sofrer o atentado ele estava muito doente e tomava medicação. Quero justiça”, afirmou ao R7 a mãe de Gordex, Norma Lúcia Santos de Oliveira, 52 anos.

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