Medo de faltar água já traz prejuízos para prestadores de serviços em São Paulo
Estabelecimentos como lava-rápidos sofrem há dois meses queda de até 50% no movimento
São Paulo|Marcella Franco, do R7
Enquanto milhões de paulistas se esforçam diariamente para manter as torneiras fechadas, já que o Estado enfrenta a pior crise hídrica de sua história, comércios da capital que dependem do uso da água para oferecer seus serviços se veem diante de um dilema: Como lidar com a escassez da sua principal matéria-prima sem precisar fechar as portas?
“Em dois meses, registramos uma queda de 50% no movimento”, aponta Sérgio Spada, representante da Spaclean, empresa especializada na limpeza de fachadas.
Segundo ele, até mesmo contratos que já estavam fechados estão agora temporariamente suspensos, aguardando a normalização do abastecimento para serem retomados.
— Nosso quadro de funcionários está totalmente direcionado para outros serviços, como a limpeza de vidros. Enquanto para limpar uma fachada usamos lavadoras de alta pressão, que consomem cerca de 400 litros por hora de trabalho, nos vidros usamos muito pouca água, só com pequenos baldes e rodos.
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No início desta semana, o nível do Sistema Cantareira, que abastece a capital, bateu mais um recorde negativo ao atingir 13,5% de sua capacidade. A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) alerta que água pode se esgotar definitivamente no dia 21 de junho.
O medo de que isso aconteça afastou os clientes de Maria do Carmo Salve, proprietária do Lava Rápido Belo Park, em Perdizes.
— É a pior crise dos últimos 21 anos, desde que abri o estabelecimento. Nosso movimento caiu 30% nos últimos meses. Agora, quem vem pede para que os funcionários caprichem no serviço, já que não levam mais o carro para lavar com a mesma frequência de antes.
Entre as mudanças na rotina do lava-rápido, estão a desativação temporária de um arco de lavagem, que consumia grandes quantidades de água, e a ausência da captação de água da chuva.
— Agora lavamos apenas com as máquinas de alta pressão, que são mais econômicas.
Também de olho na economia está Carlos Ricardo Silva, franqueado da rede de lavanderias Quality no bairro de Higienópolis.
Embora garanta que o movimento recente caiu apenas cerca de 5%, ele explica que há alguns meses realizou mudanças operacionais, que agora permitem que o estabelecimento poupe mais no consumo total de água.
— Só ligamos a máquina se ela estiver com o volume total, ainda que isso prejudique um pouco as entregas. Fora isso, temos dado preferência a um sistema especial de lavagem chamado White Clean, que utiliza menos água no processo. É importante pensar no coletivo.
Campanha
O parque aquático Wet’n’Wild, que fica na região de Itupeva, promoveu uma campanha neste mês para tentar conscientizar seus frequentadores sobre o uso consciente da água, não só em suas dependências, mas também no dia-a-dia em casa.
Clientes que apresentassem na bilheteria do parque uma conta de água com valor inferior a R$ 60 tinham direito a comprar até quatro ingressos pela metade do preço normal.
“Todo mundo ganha com a utilização consciente. Brincar com água, só aqui no parque”, avalia Alain Baldacci, presidente do complexo que oferece 7 milhões de litros d’água em 36 mil m².
O parque capta a água de um lago, e, em seguida, realiza um tratamento específico. Para chegar às piscinas, a água é puxada por duas bombas e direcionada para um tanque com capacidade para 50 mil litros.