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Mizael escreve livro na prisão para "colocar no papel as angústias", diz defesa

Advogado diz que material não será usado no júri; para irmão da vítima, iniciativa é desespero

São Paulo|Ana Cláudia Barros, do R7

Uma forma de “colocar no papel as angústias”. Foi assim que Ivon Ribeiro, um dos advogados do policial militar reformado e advogado Mizael Bispo, acusado de assassinar a ex-namorada Mércia Nakashima em 2010, definiu a iniciativa do cliente de escrever na prisão um livro em que sustenta ser inocente. Na próxima segunda-feira (11), Bispo começará a ser julgado no Fórum Criminal de Guarulhos, na Grande São Paulo. Ele é acusado de homicídio triplamente qualificado – motivo torpe, meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima, que também era advogada.

— É um desabafo de tudo que ele não conseguiu ver reproduzido na imprensa. Era uma angústia que ele tinha dentro dele de colocar isso para as pessoas... É um desabafo dele, para ocupar o tempo, enquanto estava aguardando o seu julgamento.

O advogado nega que o livro faça parte de alguma estratégia da defesa e adianta que ele não será usado no plenário.

— Fiquei sabendo que talvez o doutor Samir iria fazer chegar uma cópia aos jurados, mas não falei com ele ainda. Isso não vai acontecer, porque nós teríamos que ter juntado uma cópia no processo, dentro de um prazo legal.

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Segundo Ribeiro, não há “carta na manga” ou “coelho na cartola”.

— Nossa defesa tem uma tese. Trabalhamos com o processo.

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Mas o advogado admite a possibilidade de mencionar os textos de Bispo durante o júri, sem fazer citações literais de trechos.

— Podemos fazer citação somente assim: “Olha, inclusive, essa passagem, vocês encontrarão no livro que vai ser editado”. Mas eu não posso nem ler um parágrafo na sessão, porque nós não juntamos [ao processo].

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Ivon Ribeiro diz que ainda não viu o que o cliente escreveu, apesar de ter recebido de um advogado, amigo de Mizael Bispo, uma cópia dos originais por e-mail, no dia 26 de fevereiro deste ano.

— Confesso que nem abri. Estou passando os olhos agora, que estou lendo o e-mail.

Indagado porque o livro veio à tona apenas às vésperas do julgamento, o defensor respondeu que não sabia. Acrescentou ainda que a intenção de Mizael é procurar uma editora para publicar o material.

“Ele é ridículo”

Para Márcio Nakashima, irmão de Mércia, o livro não passa de “desespero” do réu e uma tentativa de manobra da defesa. Sobre a possibilidade de os textos chegarem aos jurados, ele diz que não vê problema.

— Ele escreveu um livro em que se compara a Jesus Cristo. Diz que está sendo injustiçado. O título é Mizael na cova dos leões. Cada vez que fala, ele mente e se enrola mais ainda. Tudo que ele vem a fazer acaba depondo contra ele mesmo.

Márcio Nakashima diz ainda que é alvo de acusações de Mizael.

— No livro, ele fala que desde o início eu o elegi como autor do crime porque eu sou racista. A minha ex-mulher, mãe dos meus dois filhos, é morena tanto quanto ele. E eu fiquei doze anos com ela. Ele é simplesmente ridículo... Acusa o Ministério Público, acusa todo mundo. Ele é o santo.

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O irmão da vítima completa:

— Minha irmã (Mércia) fez o aniversário dele na casa da minha avó, fizemos festa para ele lá. Tem foto com ele no aniversário do meu filho, a gente no aniversário dele, na casa da minha avó. No casamento do meu tio, nós todos juntos, brincando. Depois, eu me afastei realmente, porque a postura dele não me agradava mais. Mas no início, eu jogava bola com ele.

Márcio destaca que a família está tranquila em relação ao livro.

— Acho que tudo isso é desespero. Ele não tem o álibi da prostituta. Ele não contesta nenhuma perícia, nenhuma prova. Ele não quis apresentar nada. Em todos os depoimentos dele, em cada um, ele se contradiz. Então, em relação a isso, estamos tranquilos.

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Ele e os parentes esperam que o réu seja condenado com rigor.

— Não é fácil para a gente a ausência da Mércia. O que esperamos é que ao final da semana que vem, ele (Mizael) seja condenado com uma pena bastante rigorosa e que cumpra a pena efetivamente. Que não seja só a condenação, que não seja mais um caso de impunidade. É isso que a gente tem receio, que ele seja condenado, mas que vá responder em liberdade e que o processo se arraste por muito tempo.

"Não conheço o 'best seller'"

O promotor Rodrigo Merli soube do livro pela imprensa.

— Em princípio, ele não pode apresentar o livro para os jurados a não ser que eu concorde ou assistente de acusação concorde. Não conheço o "best seller" que ele escreveu. Não sei se eu vou ter tempo de analisar até segunda-feira (11), porque tenho mais coisa importante para fazer.

O representante do Ministério Público lembra que não é obrigado a aceitar o material.

— A lei diz que toda documentação [incluída no processo] tem que ser com três dias úteis de antecedência. Teria que ser até quarta-feira (6). Não sou obrigado a aceitar o livro. Não apresentou antes, é o risco que ele vai correr. Se ele meter o pau no Judiciário, Ministério Público pode ser que interesse para mim.

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