Mulher trans é morta no meio da rua no centro de SP
Aos 31 anos, vítima foi baleada e jogada na calçada para morrer diante de dezenas de pessoas
São Paulo|Caroline Apple, do R7
Lidar com assassinatos não é para qualquer um. Mas existe uma grande diferença entre ver uma pessoa morta e uma pessoa morrendo.
E foi isso que aconteceu na frente de uma dezena de pessoas por volta das 20h desta quinta-feira (15), na rua General Jardim, região central de São Paulo, ao presenciar uma travesti baleada jogada na calçada, com uma marca de bala no abdômen, de onde escorria um fio de sangue que desembocava na valeta.
Tiros foram ouvidos. A dois quarteirões, uma viatura e alguns policiais estavam parados. Mas o som não chegou até lá. Em volta do corpo, cerca de cinco pessoas. Um jovem contava que viu a vítima ser lançada para fora de um carro modelo Fox, na cor cinza. No susto, correu, junto com uma senhora. Na volta, a travesti, Larissa, jazia alternando o movimento do peito entre suspiros fracos e outros que eram como tentar voltar à vida.
Quando o peito não se mexia por muito tempo, as pessoas ao lado entoavam seu nome e suplicavam: "Larissa, respira". E ela respondia com um suspiro profundo, mas visivelmente fruto de um esforço descomunal.
Polícia. Bombeiros. Curiosos. Larissa.
Um amigo pedia para pegar na bolsa dela o telefone para, segundo ele, ligar para a mãe da jovem. O policial nega o pedido. A vítima precisa respirar.
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A área é isolada. Os socorristas insistem na massagem cardíaca e começam a aplicar algum medicamento na região do disparo. A barriga de Larissa fica inchada e segue se mexendo num movimento sobre-humano, por causa na pressão feita na caixa torácica.
Ela será resgatada. Um alívio, por enquanto. Está viva.
A jovem foi levada ao Hospital das Clínicas. Ao R7, a assessoria de imprensa do hospital comunica que Larissa morreu na madrugada desta sexta-feira (16). Sucumbiu à violência ao qual seu corpo foi exposto. Nas ruas, como travesti, a vítima estava exposta diariamente a todos os tipos de violência, que só quem vive nas e das ruas sabe.
Larissa era o nome social de um jovem menino que nasceu em Passos (MG). Com 31 anos e somente o primeiro grau completo, a travesti circulava pelas ruas do centro e fazia o cabelo em um salão da região. Ali, a um quarteirão de onde morreu.
Achar o culpado não será fácil. A placa do carro, ninguém viu. Uma moradora da fatídica rua comentava que a maioria das câmeras de segurança do entorno de onde Larissa foi jogada não funciona. A polícia vai dizer.
A vítima que não era "nada", tornou-se estatística num País que lidera rankings de violência contra travestis e transsexuais ao mesmo tempo que os vídeos pornográficos com essa categoria são preferência entre os brasileiros. Algo de lógica questionável.
Que outras Larissas tenham o direito de respirar.