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"Não vou usar mais vestido no metrô", diz mulher que teve partes íntimas filmadas na estação da Sé

Em outro caso de abuso registrado nesta quarta, vítima foi apalpada dentro do trem

São Paulo|Ana Cláudia Barros, do R7

"Sinto que nós, mulheres, não temos direito de usar o que queremos", desabafa vítima
"Sinto que nós, mulheres, não temos direito de usar o que queremos", desabafa vítima

“Você foi filmada”. A frase, dita por um segurança do Metrô de São Paulo, surpreendeu a auxiliar administrativa Renata, 25 anos. Só depois de ser alertada pelo funcionário, ela descobriu que havia acabado de ser vítima de um abusador. O caso aconteceu nesta quarta-feira (19), na estação da Sé.

Ao descer do trem, a jovem acessou a escada rolante. Foi ali que um administrador de empresas, usando a câmera de um celular, fez imagens das partes íntimas dela, que usava um vestido pouco acima do joelho.

— Eu tinha acabado de sair do metrô Sé, estava do lado preferencial e, subindo a escada rolante, vi só o vulto de alguém atrás de mim. Subi normalmente, e quando já estava saindo, fui abordada por um segurança do Metrô. Na verdade, eram dois e três à paisana.

Informada sobre o que havia acontecido, Renata ficou indignada ao ver sua imagem no telefone do suspeito.


— Eles abordaram essa pessoa [suspeito] e, no celular dela, tinha uma gravação por baixo do meu vestido. Aí, vi a minha gravação e de outra mulher também.

Revoltada, a auxiliar administrativa precisou ser contida pelos seguranças para não agredir o autor da filmagem.


— Queria ir lá e agredir o homem. Não foi possível, porque a guarda não deixou.

Depois do episódio, ela afirma que deixará de usar vestido no metrô.


— Sinto que nós, mulheres, não temos direito de usar o que queremos. Acredito que na cabeça deles [abusadores], tudo é insinuação. Eles acham que podem tudo. Resolvi abrir a boca. Vou fazer o que puder. Vou ficar mais atenta. Não vou usar mais vestido no metrô. Estarei sempre de calça. É um absurdo.

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Renata não acha que a denúncia que fez irá inibir a ação dos molestadores.

— Eles são caras de pau. Não vai inibir. Mas talvez outras mulheres se sintam encorajadas a tomar uma atitude. Pretendo entrar com um processo na Justiça para ele aprender que não é só um simples boletim de ocorrência.

“Eu me senti humilhada”

A vendedora Janaina, 33 anos, também foi vítima de abuso sexual dentro do metrô nesta quarta-feira. Assim como o caso de Renata, o episódio aconteceu na estação da Sé. A vendedora teve as partes íntimas tocadas por um desconhecido, segundo conta.

— Eu estava do lado contrário da porta de desembarque. Na hora de descer, é um tumulto grande. O pessoal empurra mesmo. Neste momento, senti que alguém enfiou a mão na minha coxa, levou para frente, puxou a mão e apalpou. Eu olhei para trás, porque queria ter certeza. E vi um sorriso sarcástico. Pouco depois, aconteceu de novo. Foram duas vezes seguidas.

Ela diz que aguardou descer do trem para gritar por socorro.

— Esperei descer do metrô e comecei a gritar. Falei que ele era um tarado. Gritei para todo mundo ouvir. Ele subiu a escada rolante, dizendo que eu era louca. Ele subiu disparado, tentando fugir e sair da situação. Tentei visualizar algum agente do Metrô. Quando enxerguei, gritei e apontei para ele. Pedi socorro.

O homem, um engenheiro, foi abordado pelos seguranças e Janaina não recuou. Convicta de que foi vítima de abuso, levou a denúncia adiante. A mulher, que há oito anos passou por situação semelhante em um trem da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), desta vez, decidiu não ficar calada — na época, deu um soco no molestador e foi ajudada por outros passageiros, mas não acionou a polícia.

— Disse [aos seguranças] que queria denunciar, porque tinha certeza de que ele faria isso novamente [...] Vejo tanta coisa ruim que está acontecendo e as pessoas têm medo de denunciar. Se eu fizer, eles vão pensar antes de fazer novamente.

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A vendedora revela que, após a ocorrência desta quarta-feira, o sentimento que fica é o de humilhação.

— Eu me senti humilhada. Eles acham que a gente é sexo frágil ou está pedindo. Imagina. Não dou moral para ninguém. Estava ali para trabalhar. Falei: “Não vou deixar barato” [...] Não pretendo processar, mas só o fato de eu estar na delegacia e ele passar por essa vergonha, acho que vai pensar antes de fazer isso de novo.

Janaína faz um apelo às vítimas de abuso sexual nos transportes públicos.

— Infelizmente, todos os dias, há casos que acontecem. Peço para as mulheres que não tenham medo de denunciar. Eu pensei em mim. Tenho certeza de que se eu fosse trabalhar e não fizesse nada, ficaria com uma angústia dentro de mim. Peço para que todas as mulheres que se sentirem lesadas denunciem, sim.

*Os nomes foram modificados para preservar a identidade das vítimas.

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