"Negão da Madeira": com fama de violento, policial suspeito de morte de jovem pode ficar solto por falta de provas
“Ele vai continuar usando a madeira”, diz delegado que investiga o caso
São Paulo|Giorgia Cavicchioli e Kaique Dalapola, do R7
O delegado Pedro Luis de Souza, titular do 80º DP (Distrito Policial), da Vila Joaniza, que investiga o envolvimento do policial militar Jefferson Alves de Souza, de 33 anos, na morte de Gabriel Paiva, de 16 anos, disse que “há indícios” de que o PM seja o autor do crime. Porém, ele diz que a falta de provas e testemunhas do caso podem fazer com que o policial não seja punido.
— Se não tiver provas materiais nos autos, ele vai ficar na rua. Ele vai continuar usando a madeira. Que ele [Gabriel] foi agredido, ele foi. Com certeza essa agressão causou a morte. O que eu estou dizendo é que ainda não tenho indícios suficientes para dizer: “O Jefferson foi quem agrediu”.
Em entrevista exclusiva concedida ao R7 nesta quarta-feira (26), o delegado afirmou que o policial, conhecido na região de Cidade Ademar como “Negão da Madeira” por agredir pessoas com um pedaço de pau, já foi ouvido e negou ter agredido o adolescente. Gabriel ficou cinco dias em coma e morreu no Hospital Regional Sul depois de ter sido espancado.
O delegado do caso afirma que existem duas versões dos fatos: a do irmão do jovem, que afirma que o culpado é o policial e a de Jefferson e de seus três colegas de profissão que estavam com ele no dia em que o adolescente foi agredido.
Segundo o irmão de Gabriel, o PM “já desceu com um pedaço de madeira na mão” da viatura no último dia 17 de abril e espancou o menino de 16 anos em frente a uma caçamba de lixo da região. De acordo com o delegado, existe uma câmera bem na frente do local. Porém, aquele aparelho não grava nada.
O titular do 80º DP afirma que moradores da região dizem que “costumeiramente, ele [Jefferson] aborda jovens que estavam em bailes funk e aniversários”. Na madrugada de segunda-feira, Gabriel e outras pessoas estariam em uma festa de consumo de narguilé, mas não havia música no local.
A versão dos policiais militares é diferente. Segundo eles, as viaturas foram chamadas para acabar com a festa e, quando eles chegaram, uma senhora gritou pedindo ajuda para eles ao ver Gabriel machucado e caído no chão. Ainda de acordo com os policiais, eles socorreram o menino prontamente.
O R7 teve acesso ao depoimento prestado pelo soldado Jefferson à Seção de Justiça e Disciplina do 22º BPM/M (Batalhão da Polícia Militar Metropolitano). Segundo o depoimento, ao se aproximarem do baile funk, por volta das 23h10, as pessoas que participavam do evento viram as viaturas e “saíram em desabalada carreira, alguns entrando em vielas e outros em ruas próximas”.
Após isso, o PM disse que as duas viaturas deram a volta em ruas próximas e reencontraram a multidão, quando encontraram a senhora que teria pedido ajuda. O PM disse também que não sabia o que teria provocado os ferimentos no jovem, e que não teria encontrado nada próximo as lixeiras que pudesse ter sido usado contra o menino.
Fama na comunidade
O delegado do caso afirma que “na comunidade, eles dizem realmente que esse policial é muito violento” e que nenhum objeto que possa ter funcionado como instrumento para as agressões contra Gabriel foi encontrado com o soldado.
— Que os policiais podem ter agido com violência? Podem. Eu acredito nisso? Acredito. Só que eu preciso provar.
O laudo necroscópico do corpo de Gabriel ainda não saiu e o delegado vai ouvir outras testemunhas até o final desta semana. Até o momento, o policial está afastado das funções nas ruas.
Imagens obtidas com exclusividade pelo jornalismo da Record TV mostram imagens fortes de mais agressões e abusos que teriam sido cometidos pelo policial suspeito de matar Gabriel. O delegado afirma que viu as gravações, que a ação agressiva é “muito clara” e que a pessoa que aparece nas imagens usando uma farda e batendo nas pessoas é “muito parecida” com Jefferson.
Porém, ele diz que não pode se afirmar com certeza que aquela pessoa das imagens é o suspeito por conta da má qualidade das gravações. Ao ver o vídeo, o PM negou que aquela pessoa era ele. O titular do 80º DP diz que não existe nenhum policial parecido com ele na região.