Quase 80% deixariam de usar o carro se houvesse transporte público de qualidade, diz pesquisa
Apenas 13% dos entrevistados não abririam mão do veículo particular
São Paulo|Fernando Mellis, do R7
Números de uma pesquisa do Ibope em parceria com a Rede Nossa São Paulo mostram que 79% dos paulistanos se disseram dispostos a largar o automóvel particular em troca do transporte público, caso houvesse uma boa alternativa. Quase um quarto dos entrevistados disse que se o tempo de espera dos ônibus diminuísse, usaria esse meio de transporte para os principais deslocamentos, como de casa para o trabalho. Os dados da pesquisa sobre mobilidade urbana foram divulgados na segunda-feira (16).
Os moradores da cidade gastam, em média, duas horas e 15 minutos de deslocamento por dia, ou seja, quase 11 horas por semana, considerando apenas os dias úteis. Uma média de dois dias por mês perdidos em meios de transporte.
O promotor de Habitação e Urbanismo Maurício Antônio Ribeiro Lopes vê como principal problema as grandes distâncias enfrentadas por quem mora em algumas regiões da cidade de São Paulo.
— Enquanto nós estimularmos essa produção de movimentos pendulares na cidade, com a criação de conjuntos habitacionais gigantescos para a população de baixa renda nas periferias da cidade, nós continuaremos a ter um movimento pendular, que é inexorável, continuaremos a ter ônibus cheios, metrô, trens lotados, população tendo que gastar um tempo enorme para se locomover de sua residência ao trabalho, à escola e a volta à residência.
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Cerca de um quarto dos entrevistados disse que se o tempo de espera dos ônibus diminuísse, largaria o automóvel particular a passaria a utilizar o transporte público. Outros 23% falaram que se as condições físicas dos veículos melhorassem, passariam a usar os ônibus.
O metrô seria utilizado por 37% dos que responderam à pesquisa, mas apenas se houvesse mais linhas e oferta do serviço nas regiões em que moram. Apenas 13% dos entrevistados garantiram que não deixariam de usar o carro em qualquer situação.
Para o coordenador-executivo da Rede Nossa São Paulo, Maurício Brionzi, é preciso ter uma nova visão de transporte público em toda a sociedade.
— A gente vai precisar também fazer a transição cultural, a transição de mentalidade. Porque o uso do automóvel habita o imaginário do brasileiro de uma forma muito significativa. Tem muitos valores envolvidos. Ao mesmo tempo em que o transporte público sempre foi desvalorizado nesse imaginário.
Apesar de aqueles que responderam à pesquisa falarem que estão abertos à mudança, em 2013, já são 300 mil paulistanos a mais, do que em relação ao ano passado, que utilizam o carro todos os dias para se locomover.
Para o promotor de Habitação e Urbanismo, o tempo gasto em deslocamento na capital paulista precisa ser levado em conta.
— Em uma vida útil de 60 anos, entre a adolescência e a terceira idade, imagine o que significa perder cinco anos. Ou seja, cinco anos da vida de uma pessoa em São Paulo são desperdiçados dentro de um transporte. É absolutamente inaceitável, do ponto de vista de uma cidade com a qualidade que promete ter São Paulo.